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Macaco Experimentar

Macaco Experimentar

19 horas em Istambul

Visitar Istambul em apenas 19 horas. Parece pouco, mas há tempo para conhecer o local mais bem perfumado de sempre, para ser roubado, para comer algo tradicional e para olhar e fotografar a Ásia. Também há tempo para andar descalço numa mesquita, para que me perguntem várias vezes se sou árabe e para ser alvo de uma oferta forçada de cigarros.

Na semana passada escrevi sobre a viagem que fiz pela Sicília durante 2 semanas e quando, de entre outras coisas, passei uma semana a navegar num barco à vela. Mas a maior surpresa desta viagem, organizada pela VOYAGE, foi as escalas que fiz em Istambul, cidade que nunca tinha visitado.



Fiz apenas duas escalas de 19 horas em Istambul, no início e fim da viagem à Sicília. Na primeira cheguei ao hotel quase às 2 da manhã. Foi o tempo suficiente para ir dormir umas horinhas, levantar-me cedo e ver o centro da cidade em 3 horas. Já na segunda escala, fiquei a descansar no hotel já que não tinha muito tempo – estive a ler, a dormir, a pôr o Game of Thrones em dia e a comer que nem um sultão.

Antes de avançar com o artigo, é importante passar a informação que a Turkish Airlines pagou pela minha estadia na cidade. Eles lá têm uma política em que pagam o hotel em Istambul quando o voo faz escalas superiores a 10 horas.


Foto tirada no transfer entre o aeroporto e o hotel. A turquia de raspão.
Tamanha felicidade só é justificada por estar a dormir num hotel de 5 estrelas e não pagar um euro, ou lira.

Istambul

Caí em Istambul de paraquedas -  não sabia que ia fazer escala na Turquia até um dia antes da viagem começar. Por isso, não tive tempo para pesquisar os melhores sítios. Tive de improvisar e perguntar aos meus amigos turcos onde devia ir, o que visitar e o que comer.

A maior recordação que trago de Istambul são os cheiros. Tudo cheirava espetacularmente bem – o hotel (o local mais perfumado à face da Terra), as mesquitas e a comida tradicional.

Impressionou-me a quantidade de carros que existem nesta cidade e a maneira como esta gente conduz. Pelo contrário, não me impressionou o facto da grande maioria dos carros apresentar várias amolgadelas.




A Mesquita Azul.

E as pessoas. Excepto a história que escrevo de seguida, todos os turcos foram muito simpáticos comigo. Sorriam, paravam tudo para me dar indicações e perguntavam se eu era árabe. Até houve um motorista (do transfer entre o aeroporto e o hotel) que me ofereceu cigarros - mesmo depois de saber que eu não fumava, estendeu-me os cigarros para ver se me convertia.

Impressionou-me que tudo fosse arrumadinho. Fascinou-me este limite entre duas culturas. E tirando as fotos gigantes que vi do Ronaldo e da Sara Sampaio, o que mais se via eram bandeiras da turquia, de tamanhos enormes, penduradas em tudo o que é lado.


Uma das milhares de bandeiras turcas espalhadas pela cidade.
Chá Turco a 80 cêntimos numa esplanada no centro histórico da cidade. O melhor preço-qualidade de sempre.

Um dos pontos altos da visita pelo centro foi visitar a Mesquita Azul. Descalço, como assim tem de ser, lá entrei nesse paraíso. Fiquei encantado. Novamente, os cheiros eram espetaculares, e com o chão todo alcatifado e com poucas horas de sono, apetecia esticar-me no chão e dormir uma sesta.

Resumidamente, dei umas voltinhas a correr pelo centro da cidade, vi as duas mesquitas principais, dei a volta ao parque gigante lá do centro e consegui tirar uma foto à Ásia. No final, e já cheio de pressa para não perder o avião, comi um kebab tradicional. Nada mal para uma visita de 3 horas.


Interior da Mesquita Azul.

Os 2 taxistas

Esta é uma história sobre aparências e sobre não confiar nas primeiras impressões.

Apanhei dois táxis para fazer as viagens (caóticas) entre o hotel e o centro da cidade. Aliás, teve mesmo de ser assim, porque se andar de carro por Istambul demora o seu tempo, nem imagino como são os transportes públicos. E já que eu tinha de me despachar, teria de utilizar táxis. Adiante.



Para o centro da cidade fui convidado a entrar num táxi de um turco, com os seus 30 e tal anos, e dentes que simpatizavam com a limitada capacidade de contagem de uma criança de 5 anos. Deste lado, só pedia para não ser aldrabado e para chegar vivo ao centro de Istambul.

Foi uma viagem espetacular. Com o seu inglês arcaico, apontava e falava-me em turco, indicando-me o nome das praças e das ruas. Rimos com esta conversa entre um que não sabe inglês e outro que de turco só conhece o kebab. Perguntou-me se eu era árabe (por alguma razão pareço árabe nesta terra) e eu lá disse que era de Portugal (que orgulho!). Foi uma viagem agradável, e no final ainda me fez um desconto, ou seja, arredondou a conta para o meu lado.



Fotografia ao outro lado da cidade, o lado Asiático.
Depois de visitar o centro da cidade – depois de ver as mesquitas e parques e comer qualquer coisa à pressa – tive de voltar para o hotel e apanhar um táxi novamente. Desta vez o meu motorista era um senhor de meia idade, bem vestido, penteado e com a dentição completa. Pensei eu que, se não tinha sido aldrabado na primeira viagem, também não seria agora que teria esse azar. Mas estava enganado.

A verdade é que, já perto do final da viagem, olhei duas vezes para o taxímetro e da primeira marcava 25 liras e mesmo no final tinha saltado magicamente para as 70. Ora está que eu não tinha dinheiro suficiente, em liras, para pagar tamanha qualidade de serviço. Por essa razão, por algum receio do que pudesse acontecer e alguma estupidez da minha parte, acabei por pagar quase 40 euros ao senhor penteado e bem vestido.

Moral da história – não julgues uma pessoa pelos dentes.


Já na segunda escala, no final da minha viagem, presenteei-me com comida tradicional no hotel. Esta foi a recomendação do chefe. Ainda consigo sentir o sabor desta comida.
Na viagem de regresso a Lisboa.
Tirando esta última história, as minhas 19x2 horas em Istambul foram fascinantes. Consegui visitar a cidade, espreitar um pouquinho da cultura turca, ver outro continente e provar pratos deliciosos.

Mas ficou muito por ver. Tenho de voltar a Istambul e visitar esta cidade com calma. Ter tempo para absorver esta cultura incrível. Para cheirar e provar e ver tudo o que há nesta cidade.

O primeiro taxista bem apontava para todas as coisas e dizia que tudo era belo. E, de facto, com dentes ou sem dentes, tinha razão.

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Uma semana de barco à vela na Sicília - VOYAGEchallenge

"Está bonito...esta semana vai ser como na tropa". Este foi o meu primeiro pensamento enquanto olhava o barco e os dois capitães que, ou muito me enganava, ou não estavam ali para fazer amigos. Teria de esperar apenas uma hora para perceber que estava enganado.

Nas últimas duas semanas participei na VOYAGE– uma viagem/curso de empreendedorismo cofinanciado pela União Europeia. Oobjetivo desta trip seria, em primeiro lugar, desenvolver ideias de negóciodentro do ramo do turismo e, por outro lado, desenvolver espírito de equipa.

Foram duas semanas intensas – muitos quilómetrosde avião, carro e barco à vela, e poucas horas de sono. Tanto havia paraescrever sobre esta viagem, mas hoje escolhi partilhar apenas a 2ª semana,quando estive a navegar num barco à vela.


Quem não dorme à noite...
Uma das muitas discussões de grupo.
Sim, uma semana a dormir num barco à vela; anavegar à volta da Sicília. Tinha tudo para correr mal. E de facto, em certosmomentos passei frio e fome, dormi mal, fiquei molhado de cima a baixo e enfrentei uma tempestade (ainda que durante apenas dez minutos). Mas, apesar de tudo isso, ou também por isso mesmo, foi umaexperiência incrível.

Os participantes (de Portugal, Roménia, Alemanha,Chipre, Lituânia e Espanha) foram divididos em 2 equipas. Haveria uma série detarefas, cada uma delas valendo 1 ponto, ganhando a equipa que, no final dasemana, somasse mais pontos. Seria um jogo "a feijões", sem prémio final, masisso não eliminou o meu espírito competitivo. Se estava ali era para ganhar.

A aprender a fazer nós.


Eu como comandante, a "guiar", acompanhado da minha equipa e do verdadeiro capitão que nos dava instruções.

Em equipa aprendemos a fazer nós, a ler mapas dos ventos e a comandar o barco. Fizemos turnos, em equipa, para dormir, cozinhar e velejar à noite. Em equipa discutimos a melhor estratégia para ganhar cada tarefa. E em equipa conseguimos dar a volta a uma pontuação de 4-1 e empatar a competição no final da semana.

Visitámos também uma série de portos e cidades(destaco Siracusa), falámos entre todos sobre tudo o que há para falar e "escalámos"ao topo da ilha Vulcano. Tentámos, em vão, ver o novo episódio do Game ofThrones, discutimos as qualidades e "defeitos" de cada um, e descobri que consigoler, e não ficar enjoado, mesmo com o barco no meio de um temporal.

Mas o ponto alto da semana foi uma tarefa emespecial. Os capitães deram 12 caixas com gomas (uma recordação da VOYAGE) a cada equipa. O objetivo serianegociar com os negócios locais de Siracusa e trocar estas caixas porsouvenirs. A equipa que trouxesse mais lembranças ganhava, havendo pontosextra para a originalidade.

Enquanto a outra equipa foi mais agressiva nasua técnica de negociação, nós optamos por conhecer primeiro as pessoas e falarsobre os seus negócios, e só depois partir para a negociação. Conhecemos aspessoas por de trás do balcão e ficámos fascinados com as suas histórias e apaixão que colocam naquilo que fazem.

Algumas das recordações que conseguímos trocar com os negócios locais.
Uma das tarefas a contar para a competição. Ótimo trabalho de equipa.

Não só conseguimos os souvenirs típicos – tal como magnets para o frigorífico – mas tentámos negociar nos sítios menos comuns. Conseguimos souvenirs na igreja, um livro numa galeria de arte, uma pintura num hostel/museu gerido por refugiados, uma marioneta típica da Sicília num restaurante local (depois de rejeitar dinheiro e uma garrafa de vinho porque não podíamos beber no barco), bolos para o pequeno almoço num hotel de 5 estrelas, 2 estátuas de barro numa loja de antiguidades, entre outros. Mais do que a tarefa - que acabámos por ganhar – ficámos impressionados com a bondade das pessoas. Nunca pensei que nos oferecessem tanto e com tanto valor.

Todas as tarefas tinham um propósito muitoclaro e um significado especial. No final de cadatarefa, os capitães falavam connosco e mostravam aquilo que tínhamos aprendidoe aquilo que podíamos melhorar. Adorei esta semana, apesar de ter sido dura, porque tínhamos sempre algo interessante para fazer. 

Além de tudo isso, passámos muito tempo avelejar. Aprendemos, além dos nós, a "guiar" um barco à vela. Aprendi quandonão devo dormir ou comer para não ficar enjoado. Velejámos de noite, no meiode uma tempestade e ficámos impressionados com a paisagem natural da Sicília e da ilha Vulcano.

A paisagem do tipo da ilha Vulcano.

No topo do vulcão.
O capitão no topo da ilha Vulcano.



Fechados num barco durante uma semana, comsaídas ocasionais, fortalecemos amizades e espírito de equipa muito rapidamente. E foi um descanso estar uma semana sem telemóvel e sem internet, sem distrações e sem redes sociais.

O primeiro nascer do sol, de sempre, que vi no mar.
O último porto da semana.
O grupo VOYAGE. Na fila de cima, nas pontas, temos os capitães, e no meio temos a formadora em empreendedorismo da primeira semana da VOYAGE.
Diz-se que a felicidade é a subtração dasexpectativas à realidade. Foi por isso que adorei esta semana. Não esperavaaprender tanto sobre barcos, ou sobre nós, ou sobre ventos. Não esperava gostar tantode estar fechado num barco com outras 9 pessoas, comer e dormir no barco, seminternet e telemóvel. Não esperava aguentar uma semana sem ver o novo episódio do Game of Thrones. Não esperava ver paisagens tão bonitas. E não esperava que as tarefas e desafiosque fizemos tivessem tanto significado e nos fizessem aprender tanto.

Por último, não esperava que os capitãesfossem tão simpáticos e que tivessem tão grande experiência não só de barcos, mas de vida e negócios. Estou pronto para outra viagem debarco à vela.

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