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Macaco Experimentar

Macaco Experimentar

19 horas em Istambul

Visitar Istambul em apenas 19 horas. Parece pouco, mas há tempo para conhecer o local mais bem perfumado de sempre, para ser roubado, para comer algo tradicional e para olhar e fotografar a Ásia. Também há tempo para andar descalço numa mesquita, para que me perguntem várias vezes se sou árabe e para ser alvo de uma oferta forçada de cigarros.

Na semana passada escrevi sobre a viagem que fiz pela Sicília durante 2 semanas e quando, de entre outras coisas, passei uma semana a navegar num barco à vela. Mas a maior surpresa desta viagem, organizada pela VOYAGE, foi as escalas que fiz em Istambul, cidade que nunca tinha visitado.



Fiz apenas duas escalas de 19 horas em Istambul, no início e fim da viagem à Sicília. Na primeira cheguei ao hotel quase às 2 da manhã. Foi o tempo suficiente para ir dormir umas horinhas, levantar-me cedo e ver o centro da cidade em 3 horas. Já na segunda escala, fiquei a descansar no hotel já que não tinha muito tempo – estive a ler, a dormir, a pôr o Game of Thrones em dia e a comer que nem um sultão.

Antes de avançar com o artigo, é importante passar a informação que a Turkish Airlines pagou pela minha estadia na cidade. Eles lá têm uma política em que pagam o hotel em Istambul quando o voo faz escalas superiores a 10 horas.


Foto tirada no transfer entre o aeroporto e o hotel. A turquia de raspão.
Tamanha felicidade só é justificada por estar a dormir num hotel de 5 estrelas e não pagar um euro, ou lira.

Istambul

Caí em Istambul de paraquedas -  não sabia que ia fazer escala na Turquia até um dia antes da viagem começar. Por isso, não tive tempo para pesquisar os melhores sítios. Tive de improvisar e perguntar aos meus amigos turcos onde devia ir, o que visitar e o que comer.

A maior recordação que trago de Istambul são os cheiros. Tudo cheirava espetacularmente bem – o hotel (o local mais perfumado à face da Terra), as mesquitas e a comida tradicional.

Impressionou-me a quantidade de carros que existem nesta cidade e a maneira como esta gente conduz. Pelo contrário, não me impressionou o facto da grande maioria dos carros apresentar várias amolgadelas.




A Mesquita Azul.

E as pessoas. Excepto a história que escrevo de seguida, todos os turcos foram muito simpáticos comigo. Sorriam, paravam tudo para me dar indicações e perguntavam se eu era árabe. Até houve um motorista (do transfer entre o aeroporto e o hotel) que me ofereceu cigarros - mesmo depois de saber que eu não fumava, estendeu-me os cigarros para ver se me convertia.

Impressionou-me que tudo fosse arrumadinho. Fascinou-me este limite entre duas culturas. E tirando as fotos gigantes que vi do Ronaldo e da Sara Sampaio, o que mais se via eram bandeiras da turquia, de tamanhos enormes, penduradas em tudo o que é lado.


Uma das milhares de bandeiras turcas espalhadas pela cidade.
Chá Turco a 80 cêntimos numa esplanada no centro histórico da cidade. O melhor preço-qualidade de sempre.

Um dos pontos altos da visita pelo centro foi visitar a Mesquita Azul. Descalço, como assim tem de ser, lá entrei nesse paraíso. Fiquei encantado. Novamente, os cheiros eram espetaculares, e com o chão todo alcatifado e com poucas horas de sono, apetecia esticar-me no chão e dormir uma sesta.

Resumidamente, dei umas voltinhas a correr pelo centro da cidade, vi as duas mesquitas principais, dei a volta ao parque gigante lá do centro e consegui tirar uma foto à Ásia. No final, e já cheio de pressa para não perder o avião, comi um kebab tradicional. Nada mal para uma visita de 3 horas.


Interior da Mesquita Azul.

Os 2 taxistas

Esta é uma história sobre aparências e sobre não confiar nas primeiras impressões.

Apanhei dois táxis para fazer as viagens (caóticas) entre o hotel e o centro da cidade. Aliás, teve mesmo de ser assim, porque se andar de carro por Istambul demora o seu tempo, nem imagino como são os transportes públicos. E já que eu tinha de me despachar, teria de utilizar táxis. Adiante.



Para o centro da cidade fui convidado a entrar num táxi de um turco, com os seus 30 e tal anos, e dentes que simpatizavam com a limitada capacidade de contagem de uma criança de 5 anos. Deste lado, só pedia para não ser aldrabado e para chegar vivo ao centro de Istambul.

Foi uma viagem espetacular. Com o seu inglês arcaico, apontava e falava-me em turco, indicando-me o nome das praças e das ruas. Rimos com esta conversa entre um que não sabe inglês e outro que de turco só conhece o kebab. Perguntou-me se eu era árabe (por alguma razão pareço árabe nesta terra) e eu lá disse que era de Portugal (que orgulho!). Foi uma viagem agradável, e no final ainda me fez um desconto, ou seja, arredondou a conta para o meu lado.



Fotografia ao outro lado da cidade, o lado Asiático.
Depois de visitar o centro da cidade – depois de ver as mesquitas e parques e comer qualquer coisa à pressa – tive de voltar para o hotel e apanhar um táxi novamente. Desta vez o meu motorista era um senhor de meia idade, bem vestido, penteado e com a dentição completa. Pensei eu que, se não tinha sido aldrabado na primeira viagem, também não seria agora que teria esse azar. Mas estava enganado.

A verdade é que, já perto do final da viagem, olhei duas vezes para o taxímetro e da primeira marcava 25 liras e mesmo no final tinha saltado magicamente para as 70. Ora está que eu não tinha dinheiro suficiente, em liras, para pagar tamanha qualidade de serviço. Por essa razão, por algum receio do que pudesse acontecer e alguma estupidez da minha parte, acabei por pagar quase 40 euros ao senhor penteado e bem vestido.

Moral da história – não julgues uma pessoa pelos dentes.


Já na segunda escala, no final da minha viagem, presenteei-me com comida tradicional no hotel. Esta foi a recomendação do chefe. Ainda consigo sentir o sabor desta comida.
Na viagem de regresso a Lisboa.
Tirando esta última história, as minhas 19x2 horas em Istambul foram fascinantes. Consegui visitar a cidade, espreitar um pouquinho da cultura turca, ver outro continente e provar pratos deliciosos.

Mas ficou muito por ver. Tenho de voltar a Istambul e visitar esta cidade com calma. Ter tempo para absorver esta cultura incrível. Para cheirar e provar e ver tudo o que há nesta cidade.

O primeiro taxista bem apontava para todas as coisas e dizia que tudo era belo. E, de facto, com dentes ou sem dentes, tinha razão.

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Voluntariado em São Tomé e Príncipe - artigo de João Gouveia

Em Agosto, parti com uma equipa, composta por mim e 4 raparigas (Mariana, Inês, Joana e Kátia) para São Tomé e Príncipe. Um autêntico puzzle - cada peça com a sua maneira e jeito de ser, mas que no fim ficou todo unido! Foram como irmãs para mim! Jamais as irei esquecer! Só lhes posso agradecer por terem partilhado este mês comigo.

Conforme prometido ao O Macaco de Imitação, partilho agora a minha experiência e momentos que foram vividos ao longo do melhor mês da minha vida, mês esse em que realizei voluntariado internacional em São Tomé e Príncipe.

As minhas expectativas

Antes da viagem não pesquisei muito sobre S. Tomé. Decidi não criar muitas expectativas e ir na descoberta de um novo país. Penso ter sido a melhor opção.

O meu dia-a-dia

Já no terreno, de manhã colaborávamos no Curso de Férias da Paróquia de Nossa Sra. da Conceição, onde haviam crianças e jovens desde a pré até a 9ª classe. Realizámos visitas de estudo, atividades/jogos com as crianças e aulas de substituição quando necessário ou na ausência de algum facilitador (voluntário do curso de férias).

Durante a tarde, a equipa dividia-se. Dois membros ficavam na Conceição dando formações planeadas pela equipa no Centro Paroquial. Qualquer pessoa poderia comparecer, desde crianças, a jovens e adultos. Foram várias as disciplinas disponíveis para a comunidade (Português, Inglês, Gestão, Geografia, Saúde e Cidadania, Informática, entre outras). Os restantes membros iam para uma pequena localidade perto da Conceição (cidade), que tinha o nome de Água Porca. É uma localidade mais carenciada, em que na maioria os alunos eram crianças. Tinha uma pequena capela, onde as aulas eram dadas ao ar livre debaixo de um telheiro. Foram dadas formações de Português, Inglês e atividades/dinâmicas com as crianças locais.

Muito resumidamente, era este o nosso plano de segunda a sexta. Aos sábados, realizávamos passeios com os jovens da Paróquia de Conceição, e aos domingo recarregávamos as energia.

Formação de Português em Água Porca.
Aulas durante a manhã do curso de férias para a 1ª e 2ª classe, no Centro Paroquial da Conceição.

A melhor qualidade daquelas pessoas

A felicidade! Aquelas pessoas, com tão pouco em comparação ao nosso país, são felizes. As crianças, por exemplo, brincavam com um simples pneu. Qualquer coisa para eles servia. Hoje em dia, no nosso país, a maioria das crianças não sabem o que é isso, e estão dependentes das novas tecnologias. E a bondade daquela gente também foi bastante notória. Queriam sempre oferecer alguma coisa - faziam mesmo questão de oferecer. Foram essas as duas qualidades mais sentidas.


O momento mais feliz desta experiência

Ao longo desse mês foram muitos os momentos felizes. Recordando agora com saudade, os momentos que me deixavam verdadeiramente feliz eram as formações de informática. Ver a alegria daqueles alunos só por terem visto um portátil, que até então era desconhecido para muitos. Todos eles mostraram muito interesse e dedicação em aprender as noções básicas de utilizador. Terminava as formações com uma satisfação imensa, e no caminho para casa só me apetecia partilhar com as minhas “manas” como tinham corrido.


Formação de informática no Centro Paroquial Conceição.

E a situação mais complicada

Foram os 3 dias em que eu e a Mariana passámos mal. Isto porque no primeiro sábado realizámos uma caminhada com os jovens da comunidade. Andámos durante 4 horas e meia, e apenas descansámos 10 minutos para visitar a cascata de S. Nicolau. Quando aí chegámos, e já sem água no cantil, pensámos que a dita água vinha de uma nascente, e então decidimos encher o meu cantil e beber. Resultado - 3 dias de cama com febre, vómitos e diarreia. No último dia fomos ao hospital (outra aventura), e lá conseguimos ser atendidos no bloco operatório por uma anestesista que nos receitou uns medicamentos, e a verdade é que nos curou. Serviu de lição.

Cascata de S. Nicolau

O maior desafio

Como rapaz tímido que sou, não sentia grande a vontade para dar formações. Esse, para mim, foi o grande desafio. Ao longo do tempo fui dando formações de Geografia e Informática. Perceber, no final desse mês, que os alunos tinham gostado imenso das minhas aulas, foi algo gratificante. Fico orgulhoso do trabalho realizado, não só por mim, mas pela minha equipa. Desafio superado!

Mercado da Conceição
Lagoa Azul
Praia Morro Peixe
Casa da equipa
Quarto do Tarzan

Em que aspecto esta experiência me mudou

Mudei, em primeiro lugar, no meu peso - perdi 5 quilos. Mas fora de brincadeiras, quem realiza este tipo de ações acaba sempre por mudar, por mais pequena que seja essa mudança. Pessoalmente, mudei a minha maneira de ser e de estar - parece que vejo a vida com outros olhos. Não sei bem como explicar isto!

Aprendi a dar valor a certas coisas que em Portugal me passavam despercebidas. Quando dou por mim a pensar sobre este mês (único!), sinto um desejo enorme de voltar para S. Tomé, com a minha equipa. Fomos os 5 muito unidos do início ao fim, e esse foi outro fator importante para que esta missão fosse perfeita. Pensei que fosse difícil aturar 4 raparigas durante 1 mês, e a verdade é que estava completamente enganado. Voltava a repetir tudo por igual. Tudo isso fez-me crescer como pessoa! 

A equipa

Quem deve fazer voluntariado

Todos! Aconselho qualquer pessoa a fazê-lo. A palavra voluntariado significa fazermos bem (e de borla) a alguma coisa - numa instituição, a uma criança, a um grupo sénior, entre outros. Portanto, ao fazermos voluntariado, sentimo-nos realizados, e somos úteis perante a sociedade. Não custa nada ajudar o próximo. Um dia posso ser eu a necessitar dessa ajuda, desse carinho, dessa companhia. Nunca sabemos o dia de amanhã!

Em Portugal existem várias instituições a solicitar voluntários. É só fazer uma pesquisa, e depois, dependendo do tipo de voluntariado que se pretende, escolher a melhor opção. E para uma pessoa que seja aventureira, que queira ir à descoberta de um novo mundo, temos hoje em dia diversas ONG (Organização Não Governamental) que nos levam a realizar estas Missões Internacionais. Não se perde nada ao ter estas experiências. E, como já disse, este foi o melhor mês da minha vida!




Por fim, não sei se mudei o mundo. Sei sim que mudei a vida das pessoas que se cruzaram comigo ao longo desta missão, e elas a minha!

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Viajem pelos bálticos no século XXI - parte 2/2

Este é o segundo post sobre a minha viagem pelos bálticos. Se não leste o primeiro, segue este link.

Viajar em 2015 é muito fácil. Durante este mês não me senti longe de casa , tal como em viagens anteriores. Talvez esteja mais velho, ou talvez seja a facilidade de acesso à Internet. Uso o GPS e não preciso de pedir indicações; o TripAdvisor diz-me os melhores locais em qualquer país e cidade; e até há aplicações que nos mostram os transportes entre 2 pontos no mapa europeu (sejam eles quais forem). As chamadas para Portugal são baratas e, pelo Facebook, podemos falar com a família e amigos, e ainda ver o que se passa no nosso país. Em nada é diferente do que se estivesse em Portugal, excepto estas línguas esquisitas que as pessoas falam.

Mas a internet traz um problema, pelo menos eu assim o acho. Numa época em que todos partilhamos as nossas experiências de viagem e sabemos quais são os melhores "spots" em qualquer cidade, acabamos por visitar todos as mesmas coisas. Durante esta viagem, foram dezenas as pessoas que encontrei que faziam a mesma rota pelos Bálticos - Vilnius, Riga e Tallinn. Como tornar uma experiência destas única?

Comitiva portuguesa em Riga, Letónia.
Chegados a Riga, despedimo-nos do terceiro elemento da nossa comitiva portuguesa. Ele não gosta de ouvir estas palavras, mas a má hora ele nos deixou, porque logo começaram grandes festas nas próximas 2 cidades - em Riga apanhamos o festival de verão, e em Tallinn as comemorações da restauração da independência.

Mas, dizia, como tornar uma viagem única quando todos parecem visitar as mesmas coisas? Uma das maneiras é estender o tempo de viagem (para quem pode). Ficámos 1 semana em Riga, uma cidade pequena, o que parece muito tempo. Mas isso permitiu-nos visitar a cidade (e arredores) com calma, e estar atento a pormenores que passam despercebidos ao turista comum. Fazemos free-tours, visitamos museus, subimos a torres, aproveitamos o festival de verão, deambulamos pela cidade como se fossemos locais, vamos à praia e até visitamos o jardim zoológico.
Arquitectura soviética. Em tempos, já foi o maior edifício de Riga, Letónia.
Vista de Riga, Letónia. Temos à frente o mercado e atrás a cidade velha.
Igreja ortodoxa em Riga, Letónia.
Riga é uma cidade muito verde. Os parques rodeiam o centro histórico da cidade.
O mercado de Riga é gigante e muito popular. Mais pessoas fazem aqui as compras que em supermercados.
Praia em Jurmala, perto de Riga.
Jardim Zoológico de Riga, Letónia.
Jardim Zoológico de Riga, Letónia.
Jardim Zoológico de Riga, Letónia.
Da esquerda para a direita: o Coelho, o Macaco e a Girafa. Jardim Zoológico de Riga, Letónia.
Já no post anterior tinha falado dos portugueses que encontramos em viagem. É incrível ver, que mesmo poucos, estamos espalhados por todo o lado. Há uma conexão rápida entre falantes de português. Há até quem nos ofereça um pequeno-almoço no buffet do hotel. Para nos convencer dizem que "está pago", e nós aceitamos.

Como, ainda em Riga, e em diante, somos 2, tendemos a conhecer mais pessoas. A maior parte também viaja sozinha ou apenas com um amigo. É isso, também, que torna uma viagem única - conhecer pessoas. Sejam locais, sejam portugueses, sejam europeus ou de outra parte do mundo. Trocamos experiências, piadas, e quebramos maneiras de pensar. Aprendemos como é viver noutro país e dizemos quão bom é o nosso Portugal. 

Parnu, na Estónia. Entrámos nesta cidade ao engano, depois percebemos que nada se passa aqui.
Chegámos a Tallinn, depois de uma pequena passagem pela cidade de Parnu. Em Tallinn encontramos a cidade mais bonita desta viagem. O centro histórico é mais pequeno que Riga, mas mais bonito, mais verde, mais medieval. Fazemos o mesmo que na cidade anterior - ficamos uma semana, para fazer tudo, mas com calma. Abrimos também uma excepção no orçamento, e ficamos em 2 hosteis um pouco mais caros. Acabam por valer todos os euros investidos porque aqui temos, além de mais conforto, melhor ambiente. Conhecemos mais pessoas e até temos concertos, na sala, todos os dias. É uma festa.

É também em Tallinn que temos as melhores noites. Saímos com a malta dos hosteis, temos acesso às melhores discotecas dos Bálticos, e conhecemos Alemães, Checos, e Brasileiros.

Tallinn, Estónia.
Tallinn, Estónia.
Igreja ortodoxa em Tallinn, Estónia. Assistimos, por acaso, a uma "missa".
Tallinn, Estónia.
Tallinn, Estónia.
Posto médico numa antiga prisão em Tallinn, Estónia. Do lado de fora da prisão, há uma praia improvisada, com um pequeno bar. É aqui que passamos um bela tarde de "praia".
Eu e o Christian, um amigo Alemão.
Concerto no Hostel Euphoria. Tallinn, Estónia.
O que é viajar? Por um lado é conhecer a história destes países, o bom e o mau. É conhecer os seus pontos turísticos, os seus monumentos e as suas praias. É também alargar a zona de conforto, é quebrar com preconceitos, é desenrascar lá fora. É provar a comida (mesmo que seja má), é beber cerveja local (porque gostamos de beber), e é ouvir a língua e ver os costumes. É, principalmente, conhecer pessoas novas. É, para mim, viver como um local nesse país, mesmo que seja por 1 semana.

Viajem pelos bálticos no século XXI - parte 1/2

Viajar no ano 2015 é uma experiência completamente diferente do que seria no ano 1985. Em 30 anos, apareceu a Internet, o telemóvel, o GPS, o google, as redes sociais e, para tornar tudo mais fácil, o smartphone. Em qualquer lado do mundo - ou pelo menos da Europa - há uma rede wi-fi. Basta agarrar no iPhone, e sabemos tudo. Nunca a experiência de viajar foi tão social.

No último mês fiz mais uma viagem pela Europa. Estive 27 dias na Bélgica (Bruxelas, Leuven e Antuérpia), Polónia (Varsóvia), Lituânia (Vilnius, Kaunas e Klaipeda), Letónia (Riga) e Estónia (Parnu e Tallin). Visitei vários pontos turísticos, mas também vivi experiências únicas. Neste post falo sobre esta dualidade.

A nossa viagem começa por terrenos familiares. Encontramo-nos com um amigo em Leuven, na Bélgica, e ele diz-nos aquilo que devemos visitar nos próximos dias. Conhecemos esta cidade universitária, e passamos 2 tardes em Bruxelas e Antuérpia. Estes 5 dias passam rapidamente. Encanto-me com a arquitectura Belga, com os seus edifícios altos e finos, e com as grandes torres que parecem brotar de todas cidades. Os belgas parecem-me pessoas simples. Gosto que andem de bicicleta para todo o lado e das centenas, senão milhares de cervejas que têm na carta. Facilmente vivia neste país.


Antuérpia, Bélgica
Biblioteca de Leuven, Bélgica
No entanto, fico triste com a massificação do turismo, que altera o aspeto tradicional das cidades. Por todo o lado aparecem lojas de souvenirs, espétaculos de rua, que embora divertidos, nada têm a ver com a cultura do país, e restaurantes americanos e chineses e indianos. Todos tentam vender qualquer coisa, tudo é caro, e até para ir à casa de banho se tem de pagar. Acabamos por não viver em pleno o país que estamos a visitar. Há um manto turístico por cima da vida quotidiana destas pessoas e é difícil distinguir entre o que é cultura e o que é a globalização.


Arquitectura Belga
Milhões de pessoas vêm a Bruxelas para ver esta estátua e depois deparam-se com esta desilusão. 
É na chegada a Varsóvia que encontro uma das razões pelas quais gosto de viajar - a quebra de preconceitos. Esperava encontrar uma cidade feia e sombria, consumida pela dura história da 2ª guerra mundial. Ao invés, vejo largas avenidas, tudo bem arranjado, muitas cores, e um centro histórico re-construído com as fachadas originais. Varsóvia foi a cidade que mais me impressionou nesta viagem. Faz-me pensar em todos os preconceitos que retemos sobre outros povos - muitas vezes alimentados pelas notícias que vemos e ouvimos na televisão e internet.
Varsóvia, Polónia
Varsóvia, Polónia
O símbolo da cidade de Varsóvia, Polónia
Depois de uma semana entre a Bélgica e a Polónia, partimos para os Bálticos. Vamos sem espectativa. Sabemos pouco sobre estes países, porque há pouca informação na internet. Ao que parece, são pouco turísticos e, por essa razão, atraem-nos. É, por um lado, o gene português - ir à conquista de um novo território - e, na Europa, isto é o mais longe que podemos fazer nesse sentido.

Passamos 1 semana na Lituânia por 3 cidades - Vilnius, Kaunas e Klaipeda - cidades pequenas, que nada têm a ver com as grandes, ou médias, capitais da Europa. No entanto, devido ao baixo turismo, conseguimos ter acesso à verdadeira cultura do país. Em Kaunas ficamos positivamente impressionados com a 2ª maior cidade da Lituânia, depois de termos passado pela pequena capital. Em Klaipeda ficamos negativamente impressionados com uma cidade à beira mar que, ao que parece, de verão e de festa, tem pouco.

Centro de Vilnius, Lituânia
Vilnius, Lituânia
Vilnius, Lituânia
Comida típica da Lituânia. Pela nossa experiência, é parecida com a gastronomia da Polónia, Letónia e Estónia. Ao longo destas 2 semanas fazemos um esforço para provar a gastronomia destes países e, quanto mais o fazemos, mais saudades temos de Portugal.
Castelo de Trakai, Lituânia


Kaunas, Lituânia
Praia em Klaipeda, Lituânia.
Depois de 50 km de bicicleta, chegamos à pequena vila de Nida, na Lituânia.
Nida, Lituânia.
O post seguinte é sobre as semanas 3 e 4 desta viagem pelos bálticos. Aí escrevo sobre a Letónia, a Estónia e sobre como a Internet nos assiste em viagem. E, já que visitamos todos os mesmos pontos turísticos, escrevo sobre o que torna uma viagem única. Segue para a segunda parte aqui.

Sobre esse último ponto, não posso deixar de falar nos portugueses que vamos conhecendo em viagem. Sempre aos pares, é uma festa quando os conhecemos. Bebemos, partilhamos histórias de viagem e grita-se Portugal muitas vezes. Onde está um Português, estão logo 2, 3, ou 23. 

Dia 0 - 4 semanas nos bálticos

Uma viagem não começa no momento em que o avião descola - começa muito antes. Por vezes dias, muitas vezes semanas, ou, no meu caso, alguns anos antes. Se a imaginação contar, já dei várias voltas ao mundo. Como escrevi neste post, gosto de viajar pelo meu país. No entanto, tenho vontade de descobrir o que lá fora se faz, o que se come e quem são essas pessoas. Amanhã parto para outra aventura - viajar pelos Bálticos.

Engraçado que, embora os Bálticos marquem uma presença forte na minha lista há muitos anos, tenha marcado a viagem apenas com 2 semanas de antecedência. Isto porque os Bálticos competem com os Balcãs, o Sudeste Asiático, o Benelux, e tantos outros grupos de países. Como há tantas opções, tenho dificuldade em escolher a próxima aventura. No final, escolhi aquilo que pareceu melhor.

Os bálticos - Estónia, Letónia e Lituânia. Imagem retirada de http://wikitravel.org/
Segue-se a escolha da mochila e daquilo que se leva para uma viagem de 4 semanas. Neste campo a Ryanair não perdoa - tem de ser uma mochila 55x40x20 com 10kg, no máximo. Aceitei o desafio, e elevei a fasquia. Não levo aquilo que eventualmente poderá ser preciso, mas apenas o estritamente necessário. Levo comigo uma mochila de 6kg contendo apenas roupa para 6 dias, um livro, uma caneta, um pequeno caderno, uma toalha, chinelos e ténis. Tenho de resistir a levar 4 ou 5 livros. Mas faço-o com a certeza de que terei algo mais interessante para fazer. Faz-me pensar que não precisamos de muitas coisas na nossa vida - que o que é importante cabe numa mochila de campismo.

Mochila da trip.
Começo esta viagem fazendo escala em Bruxelas onde vou passar 4 dias, apanhando de seguida outro voo para Varsóvia. Aí ficamos 2 dias e seguimos para Vilnius. Segue-se uma viagem por 3 países - Lituânia, Letónia e Estónia - sobre os quais pouco ou nada sei. Que pessoas vamos conhecer? Será que há comida, de jeito, nesses países? O que há para ver e fazer? Vamos ser assaltados? Em menos de nada começamos a viagem e partimos à procura de respostas.

Serão 27 dias de sabe-se lá o quê. Haverão histórias para contar e, por isso, irei partilhar algumas destas na página de Facebook d'O Macaco de Imitação. Até daqui a 4 semanas!

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