Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Macaco Experimentar

Macaco Experimentar

BOOGIE WACT - Voluntariado e Bodyboard em São Tomé - artigo de Francisca Veiga

Poderia reduzir toda estaexperiência a uma só palavra. Palavra tão portuguesa, mas do jeito santomense:sodade. No entanto, espero conseguir transmitir-vos um pouco mais do queisso. Isto que se torna um grande desafio - expressar por palavras o que sentino curto espaço de tempo mais rico de toda a minha vida.

Tudo começou em Portugal. Inscrevi-me numaONG, a WACT (We Are Changing Together), que se diferencia pelo facto de daroportunidade aos seus formandos de criar o seu próprio projecto. Foi assim quesurgiu o Boogie WACT, após um levantamento de problemas santomenses, aliadoàquilo que mais gosto de fazer, Bodyboard.


O Boogie WACT surge de forma a trabalharvalores educativos com crianças de forma divertida através do desporto, nestecaso, do Bodyboard. Este é um ótimo meio para desenvolver valores ecompetências como responsabilidade, respeito, resiliência, desafio e cooperação.

Ainda em Portugal foi feita uma campanha derecolha de material, conseguindo angariar todo o material da modalidadenecessário à prática do projecto. Desde já aproveito para agradecer a todas aspessoas e marcas que contribuíram com pranchas, pés de pato, shop’s e palavrasque me fizeram ter confiança e acreditar realmente nisto.


Mas tudo começou verdadeiramente em São Tomé. Logono primeiro dia fui confrontada com aquilo que a raposa do principezinho diz “Oessencial é invisível aos olhos”. É em São Tomé que, para mim, esta frase ganhaum verdadeiro sentido.

Os primeiros dias passados em São Tomé, devisita às roças perto do local onde morámos, Guadalupe, são um misto de emoçõese sentimentos meio inexplicável. Olhei à volta e via uma pobreza com a qualnunca me tinha deparado. Vejo porcos e galinhas a deambularem pelas ruas nomeio das pessoas. Vejo crianças curiosas a correrem descalças e rotas, em totalliberdade pelas ruas imundas e cheias de pó, a tocarem-me como se fosse umaextraterrestre mas, no minuto seguinte, a lutarem para me darem a mão. É ummisto de cheiro a peixe podre com aquele cheiro típico santomense, com lixo.



E o modo de vida daquelas pessoas…tudo isto mefez entrar em choque comigo mesma, porque ali não havia aquelas coisas que omundo diz que são importantes. Mas ao mesmo tempo, via sorrisos brancosradiantes em rostos contrastantes de ébano, e força e profundidade de carácternos olhos das pessoas.  Ouvia vozesfelizes, risos cantantes, e assim percebi que ali havia tudo o que erarealmente importante - paz e uma alegria inquestionáveis.

E eu, eu também o senti! E neste momento, nãome consigo imaginar mais feliz do que fui em São Tomé. Passado o choque, foiinstantâneo o amor que senti por aquele lugar e por aquelas pessoas.

Após este choque cultural (e interior, paradizer a verdade), estava na hora de colocar mãos à obra e começar a pensar noprojecto. Deparei-me com um problema. O projeto que tinha desenhado para serimplementado em Santana, fez-me viajar uns km’s mais a sul, para RibeiraAfonso, por me deparar com uma comunidade mais carenciada e que ofereciamelhores condições de segurança para a prática do Bodyboard.


Ainda assim, a sorte estava do meu lado. Noprimeiro dia de visita à praia das Sete Ondas deparo-me com um ambientefascinante: vegetação que abraçava toda a praia, boas ondas, e a sorte deencontrar as pessoas certas que acabaram por me acompanhar sempre. Conheci trêsjovens escuteiros mais ou menos da minha idade, e uma senhora mais velha. Todosmuito responsáveis, e figuras de valor perante as crianças da comunidade, comouma espécie de irmãos e mãe, não só para as crianças, mas também para mim. 

Foram eles que me receberam e acolheram, e fizeram-no de forma tãoreconfortante que neste momento o Boogie WACT está lá, mesmo eu estando cá. E omesmo acontece com o meu coração.

O que me assustou mais nesta mudança para uma comunidade mais distante da cidade, era o tempo que iria passar em viagens de hiace. Hiace, que aventura! Uma carrinha de nove lugares, onde o habitual é andarem 15 pessoas (no mínimo), e que me fez começar a perceber um bocadinho daquela língua melodiosa. Oh, quantos pedidos de casamento recebi eu naquele ambiente (romântico?).


Com o sovaco de uma senhora a roçar-me bem perto do nariz, com uma perna minha entre as pernas de outra senhora, com duas crianças a pingarem ranho do nariz ao meu colo e com um alguidar de peixe minado de moscas algures perto de mim. Eu só lhe sentia o cheiro, por ter a visibilidade reduzida pelo excesso de população que ali se encontrava naquele cubículo sobre rodas, Kizomba em volume máximo, e claro, todos aos berros.

Uma condução exímia, não pela positiva, mas os buracos na estrada não ajudavam, fazendo com que 70 km diários fossem feitos aos zigue-zagues e acabassem por parecer intermináveis. Mas ao fim de dois dias tudo isto já me parecia normal, já todos me conheciam como a “brranca” e, sem me aperceber, quase que já agia como eles. Por pouco não comecei a falar crioulo também.



Rebobinando. No dia de apresentação doprojecto a Ribeira Afonso, já com a minha equipa de monitores formada,apareceram-me cerca de 150 crianças à minha frente a gritaram “eu quero correrprrancha, me escolhe”. O que é que eu faço à minha vida?

Não imaginam o desespero que é ter de escolherapenas 50 destes miúdos. Queria que todos ficassem, mas não podia comprometer asegurança de nenhum deles. E assim foi, 50 filhos que tinha ganho naquelemomento, à minha frente, ansiosos por aprender o que eu tinha para lhes dar,mas ao mesmo tempo felizes por saberem que eu também queria aprender algo comeles.


O primeiro dia passado na praia com ascrianças foi dedicado a explicações do projecto, regras e responsabilidades. Achavaque seria um desafio, por ir já de sobreaviso de Portugal: “Olha que eles nãocumprem horários”, “Olha que eles não aparecem todos os dias”. Pois é, nestemomento eu assemelho-me a um pavão, porque nunca tive de combater essesproblemas, uma vez que os miúdos estavam tão excitados com o Bodyboard quechegavam às aulas antes de mim, e raramente falhavam. 

Depois foi a vez dosmiúdos me ensinarem alguma coisa, como por exemplo, trepar a um coqueiro.Diga-se de passagem, tentativas falhadas, mas risota na certa. Bolas, souum falhanço!

Parece que tenho este momento gravado namemória. Não a tentativa de subir a um coqueiro, que é para esquecer, mas o deestarmos todos sentados a comer cocos, caroço e cana-de-açucar, e de todos mechamarem para ver as suas habilidades “Frrancisca, Frrancisca, vê”. De todosrirmos muito, rirmos da parte mais intima do nosso ser, rirmos com a alma, e deeu pensar: já não vejo sujidade, já não vejo doenças, vejo apenas criançasperdidas de amor e eu faminta por partilhar isto com elas. Era esta aminha família nas próximas semanas.


A primeira aula que dei foi extasiante - colocaraqueles miúdos em cima de uma prancha, a cumprir objetivos e responsabilidades,a refletirem sobre as suas aprendizagens, e a conseguirem fazê-lo. Isso fez demim a pessoa mais feliz do mundo. Comecei a pensar “isto é real, eu estou aquie estou a conseguir. E ver o sorriso deles quando deslizavam uma onda, fazia-mesorrir ainda mais.

Passado uma semana, já todos cortavam a onda.Passado duas semanas alguns já queriam começar a fazer “girro” ou, melhordizendo, 360. Com o passar do tempo, notei uma melhoria acentuada no discursoreflexivo deles, no feedback que davam aos colegas e na cooperação inter-grupo.E é aqui que me cai a ficha, “isto realmente está a resultar, os miúdos estão acrescer graças ao Bodyboard”. E também sentia profundamente que estava acrescer graças a eles.


Após a aula de cada dia não conseguia voltar logopara casa. Todos me queriam mostrar algo, todos me queriam ensinar algo. Eforam assim passadas as minhas tardes depois das aulas. A jogar ao jogo dalata, a (tentar) pescar polvo, a jogar à bola com uma bola de pano e sim, tãodescalça quanto eles. Também foram passadas a treinar a subidas aos coqueiros,a fazer acrobacias na praia, a ajudá-los a buscar água para as suas famílias, alavar as suas roupas e a passear para as roças mais próximas de Ribeira Afonso.

Os últimos dois dias foram dedicados a umcampeonato Boogie WACT. Mais uma experiência para a qual não encontro palavraspara descrever. O que senti quando os vi competir? Primeiro um orgulhoimenso por os ver a cortar ondas, muitos deles a tentar e alguns até aconseguir fazer 360 (versão santola). Mas quando alguém o fazia,inevitavelmente eu fazia uma festa como se tivesse ganho a lotaria.


Senti também que eles sentiam exatamente omesmo que eu sentia quando era eu a competir. Cada um ia para o seu cantoaquecer e concentrar-se, com nervos à flor da pele. E quando saíam e sabiam quetinham perdido o heat, os olhos deles brilhavam de lágrimas, e encostavam-se aum canto a refletir sobre o que tinha corrido mal. Até aqui, objectivocumprido. Mais uma aprendizagem - lidar com a derrota. Mas ainda era difícilpara eles verem o lado positivo disto.

Algo de que eu nunca me vou esquecer, paraalém de tudo isto, é do caminho para a praia. 25 crianças, 4 monitores e eu,mais uns curiosos que vinham sempre ver as aulas. Cada aluno com a sua pranchana cabeça, cantávamos e dançávamos o caminho todo, com aquele sorrisocontrastante deles e de forma a combater a ânsia de chegar à praia eatirarem-se à água para surfar.


“1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 nós somos Biguie Uequi,7, 6, 5, 4, 3, 2, 1 Biguie Uequi há só um. A Frrancisca apareceu,Ribeirr’Afonso agrradeceu. Eu só quero aprrender, o Biguie Uequi faz crrescer,o Biguie Uequi faz crrescer”.

Saio de São Tomé com a certeza de queentreguei o meu coração a um lugar onde nunca tinha estado. Todas as palavrasse tornam pequenas para transmitir uma fração que seja desta experiência. Oh,o que eu aprendi com estes corações radiantes. Hoje, inspiro fundo paraque o ar me relembre aquilo que só consigo descrever como “São Tomé”.



Em Julho de 2013, quando fui para São Tomé,achava que ia mudar aquelas crianças. E acho que mudei! Mas regresso com acerteza de que elas me mudaram a mim. Trago comigo também a convicçãoinabalável de que as pessoas são o que mais importa. Estou determinada de quenão sou eu que vou mudar o mundo. Mas contento-me com esta pequena mudança. Pequenasmudanças que se vão acumulando.

"Corpo e Mente" - Desafio de 30 dias, parte 2/2

Há um mês atrás decidi começar um novo desafio para O Macaco de Imitação. Como disse na 1ª parte deste artigo,já tinha experimentado outros projetos e estava na altura de começarqualquer coisa relacionada com a saúde física e mental.

O plano era simples – durante 30 dias fazer exercíciofísico, meditação e escrita, todos os dias. Mas porquê?  Para quê tanto trabalho? Tal como quem soube ao Everest o faz porque a montanha está lá, também eu, num nível (muito) mais pequeno, queria fazer este desafio porque ele podia ser feito. E também porque o desafio estava definido, erasaudável, e nesses 30 dias ia aprender muitas coisas.

Tenho feito, n'O Macaco de Imitação, estes desafios para me testar e perceber o quegosto e não gosto de fazer. Aprendo maneiras de me organizar e de avançar nos meus objetivos. E aquilo que aprendo durante os desafios serve para outras áreas da vida.


Zen and the Art of Happiness, de Chris Prentiss. O melhor livro que li este mês e, possivelmente, este ano. Imagem retirada de goodreads.com.

Exercício Físico

Defini que devia fazer, pelo menos, 45 minutos de exercíciopor dia, e não tinha de ser sempre o mesmo desporto. Aliás, quanto maior a diversidade, melhor. Estreei o meu primeiro dia com uma surfada no meu "spot" favorito no Baleal. No total surfei 13 vezes e,no último dia deste desafio, surfei na mesma praia que no primeiro (e só percebi isso depois).Nunca surfei tantas vezes num mês. Às vezes não entro no mar porque não está "perfeito" e, durante este mês, fui mais paciente e dei maisoportunidades ao mar. Além de surfar mais vezes, surfei grandes ondas.

O Surf é o meu desporto de eleição, mas nãose pode surfar todos os dias porque nem sempre está bom (ou razoável sequer).Então, nos dias em que não surfei, virei-me para a corrida. Corri 9 vezesdurante estes 30 dias, num total de 65 km. No princípio não corria mais que 20minutos sem ter de parar, e fazia pouco mais de 5 km no total de corrida+caminhada. Para o fim, jácorria 10km sem parar uma única vez e o meu ritmo tinha aumentado bastantedesde o princípio. O truque foi tentar evoluir todos os dias - sejapor correr mais tempo, ou mais rápido, ou uma maior distância. Foi também monitorizar as corridas que fazia com a App RunKeeper, porque assim conseguiaanalisar bem a minha evolução e ficava motivado. Além disso, não me posso esquecerdas companhias de corrida que, muitas vezes, me motivaram a correr mais.

Surf e corridas à parte, experimentei uma aula deyoga (estava todo torto, mas foi uma aula interessante) e fiz dois treinos de musculação (um deles correu bem porque tinha companhia, no outro fiz sozinho e não sei bem o que andei afazer).

Meditação

A meditação seria, supostamente, a parte mais fácil destedesafio. Seria só estar sentado, 10 minutos, sem pensar em nada. Nuncapensei que isso viesse a ser tão difícil. Já tinha tentado ganhar o hábito dameditação várias vezes, e até já tinha escrito sobre isso n’O Macaco de Imitação, mas nunca o consegui fazer por muito tempo. Nestemês estava determinado em ganhar o hábito de uma vez por todas.

Nos primeiros 15 dias experimentei uma sériede meditações que não funcionaram. Experimentei meditar em várias alturas dodia, sentado, deitado e a ouvir música. Aprendi que meditar à noite não resulta - essa é receita certa para adormecer. Agora sei que a melhor altura para meditar é sempre depois de acordar e fazê-lo sentado no chão, sem distrações. Ao ser a primeira coisa do dia,estamos mais atentos e a meditação trará mais efeitos positivos. E é isso quevou fazer daqui em diante.

O mais difícil da meditação é controlar a corrente de pensamentos.É muito difícil, no início (e ainda agora), não pensar em nada. É precisotreino para nos sentarmos como deve de ser, de costas direitas, e colocar todaa concentração na respiração. A mente vagueia para os "problemas" do dia-a-dia,ou para o passado, ou para o futuro, ou para aquilo que vamos fazer já deseguida. Nessas alturas - aprendi ao ler uma série de blogs e livros - omelhor que pudemos fazer é consciencializar que esses pensamentos estão presentes, não "conversar" com eles, e trazer de novo a concentração para a respiração.

A meditação está em todas as listas de coisas que se devemfazer para ser feliz. Isto porque a meditação ajuda-nos a relaxar e a focar aatenção naquilo que fazemos no dia-a-dia. Ainda não sou "bom" a fazer isto, e tenho um longo caminho a percorrer. Mas fico mais descansado ao saberque grandes "mestres" nesta arte demoraram também algum tempo para conseguirvazar a mente de pensamentos e sentir os efeitos positivos da meditação. Depois de30 dias já tenho o hábito bem definido e agora só preciso de continuar.

Escrita livre

A primeira vez que ouvi falar em escrita livre foi neste site.Esta ideia surgiu do livro The Artist's Way, onde o autor sugere a escrita de 3 páginasdiárias pela manhã. Este processo, tal como a meditação, ajuda a vazar a mentede pensamentos desgastantes, porque acabamos por escrevê-los nestaspáginas. É também importante que a escrita seja feita sem pensar demasiado, sem correções e sem julgamento. Nãohá coisas que devem ou não ser escritas. Já tinha experimentado a escrita livre nestesite e decidi inclui-lo neste desafio "corpo e mente". Tal como é feito nosite, decidi escrever 750 palavras diárias e, nestes 30 dias, escrevi um totalde 26840 palavras (+- 40 páginas!).

Gostei muito destaparte do desafio. Aprendi a gostar mais de escrever e, se no início era difícilescrever as 750 palavras, houve momentos em que escrevi 1000 palavras antes de pararpara pensar no que estava a ser escrito. Apesar disso, penso que a meditaçãotem mais efeitos positivos a médio-longo prazo e por isso não vou continuar afazer, todos os dias, a escrita livre. No entanto, vou começar a escrever mais,disso não hajam dúvidas.

As dificuldades

Mas nem tudo foi fácil. Falhei alguns momentos porque estavadoente ou porque estava em festa ou porque estava a morrer de sono. Como aquiescrevi, falhei no dia 12 (em todas as frente) porque estava nafesta das latas em Coimbra. No total, falhei 4 dias de exercício físico, e 2 demeditação e escrita livre. Em 30 dias, foram poucos "maus" momentos.Noutra altura podia ter desistido porque já não ia fazer um mês "perfeito". Masisso seria uma estupidez, isso seria uma derrota e portanto não desisti. Nesses diasaprendi porque tinha falhado e com isso evitei falhar mais vezes.Alterei as alturas do dia em que meditava e escrevia para garantir que não as falhava porque estava com sono. Para o final, escrever e meditar eram as primeiras coisas que fazia cada dia.

Houve outros momentos que cumprir o exercício físico foimuito difícil. Há sempre o dia em que está a chover, ou que estamos doridos, ounão temos companhia ou, simplesmente, não nos apetece. Esses são os diasque nos põem à prova. Em qualquer objetivo na vida, em qualquer desafio,existem esses dias. Nessas alturas temos de arranjar força para cumprir oprometido, porque de outra forma vamos falhar, mais uma vez, nesse projeto.Aprendi que se passarmos essa barreira, fica tudo mais fácil daí em diante,e por isso vale a pena o esforço adicional.

Os livros queacompanharam o desafio

Nenhum bom desafio estaria completo sem uns bons livros. Comecei então por ler TheMiracle of Mindfulness, de Thích Nhất Hạnh. Nele aprendi a importância de Mindfulness - viver no presente. É sobre estar concentradonaquilo que estamos a fazer no momento. Como exemplo, o autor escreve que quando estamos a lavar a loiça,devemos estar só a lavar a loiça, e não a pensar nas coisas que temos para fazerem seguida. Se temos por hábito estar perdidos em pensamentos sobre o passadoou o futuro, perdemos a vida verdadeira, que se encontra no presente, naquiloque estamos a fazer no momento.

De seguida li o livro The Four Hour Body de Tim Ferriss. Éum livro interessante, mas deve ser lido com um objetivo claro em mente, sejaperder peso, ganhar força ou outro. Mas com uma passagem rápidopelo livro consegui perceber o seu potencial.

Por último, li o Zen and the Art of Happiness, de Chris Prentiss. Este foi um dos melhores livros que li este ano. Chris Prentissensina-nos que não há eventos bons ou maus, mas que eles assim se tornam pelamaneira como nós os interpretamos. Ele diz-nos para pensar que, qualquer coisaque nos aconteça, é a melhor coisa que nos podia ter acontecido. Estepensamento, tão simples, tem o poder de tornar a vida muito mais feliz.Aconselho vivamente a leitura deste livro.

O próximo desafio

Ainda não sei o que vou escrever a seguir para O Macaco deImitação. Estou agora a ler um livro sobre o que podemos aprender com os grandes filósofos da antiguidade e quero, num próximo artigo, resumir uns 4 ou 5livros sobre boas filosofias de vida. Vou também escrever sobre um método que tenho usado para aumentar a minha produtividade nas últimassemanas. E também quero começar um novo desafio e aprender qualquer coisa nova, seja investir 20 horas em qualquer coisa, ouuma semana, ou 30 dias.

Estou orgulhoso daquilo que consegui fazer nestedesafio. Dos 90 momentos de exercício, meditação e escrita, apenas falhei 8.Aprendi a organizar-me melhor, a lutar contra a falta de vontade, e aprendi boas filosofias de vida com os livros que li. Fiquei em melhor forma, tentei relaxar com a meditação e gostei muito de escrever as 44 páginas. Foi um mês saudável, tanto para ocorpo, como para a mente. Sinto que agora estou mais preparado para começar novos desafios.

"Corpo e Mente" - Desafio de 30 dias, parte 1/2

Há 15 dias comecei um novo desafio. Depois de aprender piano em 20 horas e ter ficado uma semana sem internet, queria agora fazer um desafio mensal. Tinha muitas opções. Tenho na minha lista aprender a cozinhar melhor, aprender a fazer cerveja, aprender a desenhar, entre outros. Mas eu precisava de outras coisas mais importantes. Acabadas as férias e depois de um mês a viajar pela Europa, precisava de ficar em forma.

O desafio

Pensei primeiro em 30 dias de exercício físico, mas esse desafio logo escalou para um desafio "Corpo e Mente" – 30 dias de exercício físico (pelo menos 45 minutos/dia), meditação (10 min./dia), e escrita livre (750 palavras/dia).
Uma boa imagem para este desafio "Corpo e Mente". Imagem retirada de http://www.continuumfitness.net/ 
Nunca pensei que fosse um desafio fácil de cumprir e, por isso, fiz questão de o anunciar n’O Macaco de Imitação. Com isso ganhei a pressão que precisava e agora, se falhasse, iria sentir-me muito pior.

Além do desafio, queria também aprender mais sobre meditação e exercício físico. Para já, começaria por ler os livros The Miracle of Mindfulness, de Thích Nhất Hạnh The Four Hour Body, de Tim Ferriss.

The Miracle of Mindfulness, de Thích Nhất Hạnh e The Four Hour Body, de Tim Ferriss.

Os meus dias

Nas últimas duas semanas tenho tido dias muito fora do habitual. Tentei, no princípio, meditar logo depois do pequeno almoço, escrever ao final da noite e fazer exercício quando fosse mais indicado (dependente do desporto e companhia). Muitas vezes, falhei a meditação da manhã e dei por mim a meditar ao final da noite. E descobri que isso não era uma boa opção. Durante a meditação, precisamos de estar tranquilos, sem sono, o que não acontece quando nos estamos a preparar para dormir. É também difícil escrever à noite pelas mesmas razões. Depois de 15 dias já sei qual é a rotina certa: meditar, sempre, de manhã, pouco depois de acordar; escrever logo a seguir e fazer desporto ao final da tarde (a menos que hajam boas ondas durante o dia :D).

Meditação

A meditação e a escrita livre têm objetivos muito semelhantes - servem para acalmar a mente. Faço-as porque preciso de ganhar concentração nas tarefas do dia-a-dia. E, pensando que iria ser fácil meditar - aliás, é só estar sentando e não pensar em nada – acabou por ser a parte mais difícil do meu desafio. Parece que quando não queremos pensaar em nada, mil pensamentos surgem em simultâneo. É difícil estar 1 minuto sem pensar em todos esses "problemas". E, por ser difícil, sei agora que é a parte mais importante deste desafio.

Já tinha feito um artigo sobre meditação n'O Macaco de Imitação. Ainda não estou a meditar como este sujeito, e muito falta.

Escrita livre

Ao contrário da meditação, este é um processo ativo (podiamos dizer que a meditação também o é, mas não compliquemos). O objetivo é escrever 750 palavras baseadas nos pensamentos que nos passam pela cabeça. Apenas escrever, sem correções, sem pensar duas vezes sobre essas palavras, sem julgamento. Várias pessoas têm feito isto para tirar os "problemas" das suas cabeças. Também eu tenho vindo a gostar muito desta parte do desafio. Acabo por descarreguar tudo aquilo que pensava para um papel e lá fica preso. 

Com isto também aumentei o meu gosto por escrever e, se no início 750 palavras era um tormento, agora escrevo-as num instante e chego a passar muitas vezes a barreira das 750. Até agora escrevi 11839 palavras (mais ou menos 18 páginas).

Exercício físico

O exercício físico é a parte que ocupa mais tempo deste desafio. Se "despacho" a meditação e a escrita livre em 20 minutos, o exercício pode levar 50m ou 1h30m. Como escrevi no Facebook d’O Macaco de Imitação , tenho tentado fazer desportos diferentes. Até agora, surfei 6 vezes (sempre em praias diferentes, seguindo as melhores condições em cada spot), corri outras 6 (39 km), fiz 1 treino de musculação e experimentei 1 aula de Yoga. Feitas as contas, fiz 14 treinos. Mas devia ter feito 15. Já escrevo sobre isso.

Um dos spots das minhas sessões de Surf, no Baleal.
A minha perspectiva perante o exercício tem vindo a mudar. É sempre fácil fazer desporto quando tenho companhia, e tive muitas vezes. Mas há sempre aquele dia que ninguém nos acompanha e temos de aprender que, para cumprir os nossos objetivos, a força tem de vir de dentro. Por isso acabei por surfar mais vezes do que o habitual, e corri sozinho quando foi preciso. Houve dias que tive de correr à chuva ou durante a noite só para cumprir este desafio. E se no princípio era difícil levantar o rabo do sofá para ir treinar, agora faço-o com gosto. Correr revelou-se um desporto muito fixe. O truque é fazer, a cada treino um pouco melhor – tentar correr mais tempo, chegar mais longe, ou aumentar o ritmo da passada. Ao usar a App RunKeeper, consigo ver quantos km e minutos faço por treino, e isso motiva-me a continuar porque posso medir a progressão dos meus treinos.

Vista da ciclovia onde faço as minhas corridas.

O dia 12 do desafio

No dia 12 deste desafio não meditei, não escrevi, nem fiz exercício. Senti-me mal por isso, mas não consegui cumprir o desafio. Nesse fim-de-semana fui a Coimbra à festa das Latas. No sábado, com a "correria" da festa, não fiz aquilo que queria fazer. Sabia que isto podia vir a acontecer. Também sabia que, se acontecesse, não era razão para desistir do desafio. Tentaria fazer 30 dias seguidos, mas, se por alguma razão falhasse 1 dia, não iria desistir. E foi isso que aconteceu. 

É uma metáfora para a vida e para outros objetivos. Nem tudo corre perfeito, e muitas vezes desistimos de uma dieta ou de uma objetivo porque falhamos uma parte mínima. Devemos aprender isso não nos leva a lado nenhum. Se for preciso "falhar" 1 vez, não faz mal, é preciso é continuar. Só assim podemos ir melhorando. 

Apesar disso, o fim-de-semana em Coimbra foi brutal e vi Richie Campbell. Foi uma boa desculpa para falhar, por 1 dia, este desafio. No domingo, quando voltei, e ainda um bocado "atordoado", decidi que não ia falhar o desafio outra vez. Cheguei a casa às 21 e fui correr - foi a melhor corrida até agora.

O dia 12 do desafio, em Coimbra, patrocinado por Richie Campbell.

Nota final

E 15 dias passaram desde que comecei este desafio (na verdade, passaram 17, este post vem atrasado). Continuarei a cumprir com o exercício, a meditação e a escrita livre e, espero, aprender mais umas quantas coisas até ao final dos 30 dias. Até daqui a 2 semanas.

Os 8 elementos do Flow - a chave para a felicidade

Olho para o horizonte e reparo na onda que aí vem. Começa a perseguição. Remo o mais que posso e coloco-me no sítio certo. Ganho velocidade, agarro a prancha com as duas mãos e ponho-me de pé. Faço uma sucessão de manobras e mal posso acreditar na qualidade da onda. Ao final de 20 segundos já estou a remar para o outside para tentar apanhar outra destas.

O surf é uma das experiências que me provoca Flow. O Flow acontece quando estamos completamente concentrados numa atividade. Nesses momentos, perdemos a noção do tempo e não pensamos em quaisquer problemas que possamos ter. Estamos a fazer aquilo que mais gostamos e só isso é suficiente. Segundo Mihaly Csikszentmihalyi, esses são os momentos mais felizes da nossa vida, e também aqueles em que nós mais crescemos.


Mihaly Csikszentmihalyi, o "pai" do Flow. Imagem retirada de http://www.marianotomatis.it/
E se o Flow nos traz felicidade e crescimento, devemos maximizar o tempo que aí estamos, certo? Este artigo descreve os 8 elementos desta experiência, e como podemos transformar qualquer atividade em Flow.

Os elementos do Flow

1. Objetivos bem definidos

Para atingir o Flow, a atividade tem de ter, em primeiro lugar, objetivos muito claros. Ao surfar, e dependendo do nosso nível, o objetivo poderá ser conseguir ficar em cima da prancha ou fazer um tubo. Devemos começar uma atividade que possa ser acabada e fixar objetivos pequenos, que possam ser cumpridos rapidamente. Sentir que estamos a evoluir numa atividade é muito importante para a nossa motivação. 

Depois de uma experiência de Flow, a pessoa sente que melhorou as suas capacidades e que cumpriu os seus objetivos. Isso motiva-a para continuar, neste caso, a surfar. 

2. Concentração na atividade

Durante o Flow, toda a nossa atenção está concentrada na tarefa que realizamos. Parece que mais nada interessa senão o que estamos a fazer. E alguém pode vir falar connosco que não a conseguimos ouvir. Com certeza isso já te aconteceu. Quanto maior a concentração, mais intenso é o Flow, e melhor é a qualidade do trabalho produzido.

Mas, infelizmente, a nossa atenção é limitada. Daí que o investimento dela em coisas importantes seja crucial. Porque os resultados que temos da vida dependem de onde gastamos a nossa atenção.


Attention can be invested in innumerable ways, ways that can make life either rich or miserable. - Mihaly Csikszentmihalyi

Com toda a liberdade de escolha e tecnologia que temos atualmente, deveria ser mais fácil entrar no estado de Flow. Mas sabes que não é isso que acontece. Cada vez há mais distrações. A TV, o facebook e o telemóvel, todos competem pela nossa atenção. Além disso somos fãs do multitasking, que divide a atenção por muitas coisas diferentes (umas menos importantes que outras).

Não podemos, nem devemos, voltar atrás no tempo e limitar as escolhas que temos atualmente. Mas, se queremos estar mais vezes em Flow e ser felizes, temos de reduzir essas distrações.

Attention is our most important tool in the task of improving the quality of experience. - Mihaly Csikszentmihalyi

The future will belong not only to the educated man, but to the man who is educated to use his leisure wisely. - C. K. Brightbill

3. Perda de auto-consciência

Quando estamos sozinhos e com pouca coisa para fazer, a mente começa a divagar para os problemas do dia-a-dia. Mas quando estamos em Flow, nada nos atormenta. Já não interessa se a nota do teste foi má ou se vamos conseguir ser promovidos. Durante o Flow, nem pensamos se estamos felizes ou tristes, porque a concentração está focada na atividade.

4. Sensação de tempo distorcida

Esta é fácil e acontece-nos a toda a hora. O tempo ganha uma nova dimensão durante o Flow. Passa mais devagar porque estamos conscientes de cada movimento que fazemos. Mas depois do Flow, parece que passou tudo muito rapidamente.

Hours pass by in minutes, and minutes can stretch out to seem like hours Mihaly Csikszentmihalyi

5. Feedback imediato

Não só é importante ter objetivos claros e alcançáveis, como também ter feedback imediato sobre aquilo que estamos a fazer. Se estiver a surfar numa aula, o instrutor irá corrigir a minha postura na hora. Se alguma coisa estiver errada, posso melhorar rapidamente.

Imagina que estás a trabalhar, e não tens noção alguma se o teu trabalho está bem feito ou não. Começas a ter dúvidas e ficas irritado - quebras o Flow. Por isso é tão importante ter um feedback rápido para que te sintas bem.

6. Equilíbrio entre as capacidades e o desafio

Se fazes uma tarefa muito básica, ficas aborrecido. Se por outro lado essa tarefa é demasiado complexa para as tuas capacidades, ficas stressado. De qualquer maneira, esses sentimentos incomodam e deixas de estar em Flow.

O Flow acontece na fronteira entre o aborrecimento e o stress, quando as nossas capacidades estão de acordo com o desafio proposto. Por isso, quando estás a aprender alguma coisa nova, tens de aumentar o desafio à medida que vais evoluindo. Só desta forma vais conseguir estar em Flow durante essa atividade.

Imagem retirada de http://www.psy.gla.ac.uk/
O gráfico acima realça bem o jogo entre as tuas capacidades e o desafio a que te propões. Começas, por exemplo, a praticar surf e ficas feliz por apanhar umas espumas e, de vez em quando, conseguires estar em cima da prancha (A1). À medida que vais evoluindo, melhoras as tuas capacidades, e agora consegues fazer o take-off em todas as ondas. Se não agarras outro desafio, e continuas a surfar as mesmas ondas com a mesma prancha, ficas aborrecido (A2). É nesse momento que deves melhorar o teu equipamento e passar para ondas mais complexas. Assim ficas em Flow novamente porque as tuas novas capacidades têm agora um desafio à altura (A4). Por outro lado, não deves começar a praticar surf com uma prancha pequena, porque aí o desafio é muito maior que as tuas capacidades e ficas stressado (A3).

Se queres estar em Flow mais vezes e durante mais tempo, tens de dominar este esquema. Aprende a reconhecer oportunidades para melhorar as tuas capacidades e continuar a evoluir no teu trabalho ou hobby.

Enjoyment appears at the boundary between boredom and anxiety, when the challenges are just balanced with the person’s capacity to act. - Mihaly Csikszentmihalyi

7. Controle pessoal sobre a atividade.

Se não pudemos, ou não achamos que pudemos, controlar o que fazemos, sentimo-nos impotentes. E não é possível estar em Flow se não tivermos poder de decisão sobre as nossas ações, porque nesse momento começamos a pensar nos problemas e a atenção foge dessa atividade.

8. A atividade é em si recompensadora, não exigindo esforço.

O dinheiro ou o poder nada interessam quando estamos em Flow. Nesse momento , fazemos qualquer coisa porque fazê-lo dá-nos prazer. Estamos à aprender pelo aprender em si. E, mesmo que a tarefa precise de esforço físico e/ou mental, nós não o sentimos.

Resumidamente, o Flow é a experiência ótima. Durante o Flow não pensamos em nós mesmos e fazemos a atividade porque ela é recompensadora por si própria. Não sentimos esforço e o tempo tem agenda própria. Temos objetivos muito claros e alcançáveis, feedback imediato, controlo total sobre as nossas ações, e as nossas capacidades estão em sintonia com o desafio proposto. Depois do Flow, ficamos mais fortes e felizes.

O Flow como chave para a felicidade

Estás a dedicar a tua atenção às coisas certas? Gostas do que fazes profissionalmente? É isso que queres continuar a fazer? Costumas estar em Flow?

Temos a capacidade para apreciar todos os momentos da nossa vida. Podemos estar em Flow ao conversar com uma pessoa interessante, ao ouvir música, ao ver um filme, ao comer e ao ver uma paisagem bonita. Mas infelizmente fazemos tudo à pressa e deixamos de apreciar as pequenas coisas do dia-a-dia.

Precisamos de treinar a mente para atingir altos níveis de concentração. Só assim ficaremos em Flow mais vezes e durante mais tempo. Ao focar a nossa atenção naquilo que é importante, evitando pressões externas, podemos alterar a nossa vida completamente através do Flow. Aprende também a meditar e a ser otimistaConhece as tuas forças, e respeita a tua personalidade.

Por último, inspira-te ao ler sobre pessoas que já passaram por muito na vida. Vai ajudar-te a escolher o melhor caminho para a felicidade, onde deves investir a tua atenção e quais devem ser as tuas experiências de Flow.

Those who try to make life better for everyone without having learned to control their own lives first usually end up making things worse all around. - Mihaly Csikszentmihalyi

Creating meaning involves bringing order to the contents of the mind by integrating one’s actions into a unified flow experience. - Mihaly Csikszentmihalyi

Of all the virtues we can learn no trait is more useful, more essential for survival, and more likely to improve the quality of life than the ability to transform adversity into an enjoyable challenge. - Mihaly Csikszentmihalyi

Artigos relacionados

A procura pela onda perfeita

Eu comecei a surfar porque o surf era cool, ou pelo menos era assim que eu o via. No início, admito, não gostava muito, só queria ser um tipo popular e com sorte com as "babes". Mais tarde viria a descobrir que atrair as miúdas é mais do que escorregar nas ondas.

A minha vontade de ser um tipo fixe contrastava com o meu perfil de puto reservado, mais adepto do livro e do gameboy, que do futebol e das bicicletas. Quase desisti, não fosse ter-me sido emprestada uma prancha. Isso fez deixar-me a escola de surf e começar a (tentar) surfar por mim. Mais ajudou ter conhecido uns tipos que também andavam nestas vidas e que de companhia serviam. Mais tarde, viriam a tornar-se grandes amigos. O surf marcava os seus primeiros pontos - podia não me ter tornado no puto fixe da escola, mas tinha-me dado amigos e uma razão para sair de casa.

Em retrospetiva, nenhuma outra decisão foi melhor que ter a primeira aula de surf. Em poucos anos o meu mundo alterou-se. A nossa amizade cresceu – entre mim, o surf e os meus novos amigos. Comprei a minha primeira prancha e aí ficou decidido - iria ser um surfista até me caírem os cabelos.

O surf não se aprendia num ano, nem em 10 e, por isso, viciou-me. Queria saber fazer mais e melhor. Além disso, dava-me uma desculpa para evitar ir à praia, onde estavam muitas pessoas que faziam muito barulho. Apesar de ir, sempre, surfar com amigos, lá dentro eram só eu e as ondas. Enquanto esperava, refletia sobre tudo o que há para refletir. Era um tempo premium, longe de distracções. O surf permitia-me estar fora de casa, na natureza, sem que alguém me chateasse.

Até aos 18 anos, o surf não era mais que a caminhada até à praia, a 2 minutos a pé, para "ver se está bom". Com a carta de condução, o surf ficou mais complexo. Agora sabia também de marés, de ventos, de linhas de costa. Podia ir surfar para Peniche e aproveitar ondas vindas de todas as direções. A procura começaria. Com o carro apinhado de pranchas, fatos e pessoal, saía à caça das ondas. Entravamos onde estava bom. Surfavamos mais vezes e o nosso nível aumentou.

Porque os estudos se voltaram para Lisboa, o surf limitar-se-ia aos fins-de-semana. Durante a semana estudávamos os ventos e tudo aquilo que fosse preciso para tirar o máximo proveito daqueles dois dias. No verão era a loucura - era a vê-los surfar todo o dia. O surf tornou-se parte da nossa vida. Era algo que estávamos sempre a fazer, quer dentro de água, quer em conversas e previsões. O "bom dia" foi sendo substituído pelo "então, tens surfado?".

Passados 10 anos, continuo viciado no surf. Continuo uma pessoa introvertida, disso o surf não me livrou. Ao surf agradeço porque me deixou ser quem sou. Porque me trouxe amigos e me aproximou da natureza. Porque me deixa refletir durante o tempo entre uma onda e outra. Porque me levou em viagens à procura da onda perfeita. Porque ainda não sei o que está para vir, mas sei, que por "ele", só pode ser coisa boa.

Foto tirada por mim na Praia da Areia Branca, a minha "terrinha".

Olá Mundo

Tipicamente, quando se começa a aprender a programar, o primeiro script serve para imprimir a famosa mensagem "Hello World". Numas linguagens é mais fácil escrever que outras. Temos o simpático Python e o Java que é o seu primo mais chato.

Isto aqui não é programar, não te preocupes. É escrever. Aqui é facil, é só escrever "Olá Mundo". E hoje podemos escrever mais, sobre o que é "O Macaco de Imitação". Ainda não é nada, é uma ideia, é um projeto que nasce de querer aprender mais, de querer partilhar, com quem estiver a ler, o gosto por tudo, por viajar, pelo conhecimento e ocasionalmente sobre coisas tão variadas como o Surf e livros engraçados.

O meu background é em Engenharia mas sempre gostei de tudo um pouco, por isso tirei Engenharia Biomédica, o curso que mais tudo é e que no entanto não chega a ser suficiente de alguma coisa. Nele aprendi coisas variadas como biologia e electrónica, ciências médicas e mecânica, química e informática. Mas 
é disso que eu gosto, de variedade, pois considero que se souber de tudo um pouco, vou conseguir perceber melhor o mundo e criar coisas diferentes, criando pontes entre vários ramos do conhecimento. 

"O Macaco de Imitação" é um espaço onde eu vou explorar a aprendizagem. Pretendo começar vários projetos mensais onde me comprometo a aprender qualquer coisa. Num mês isso poderá ser cozinhar (a nível top claro! ahah), aprender a fazer cerveja, yoga, aprender a ler as estrelas...e com isso irei partilhar aquilo que aprendi e desmistificar as famosas 10.000 horas para aprender qualquer coisa, que na verdade são 10.000 horas para se ser um expert em determinado campo. Mas muitas vezes não é isto que queremos, queremos apenas ser bons a fazer alguma coisa e isso podemos alcançar em tão pouco como 20 horas (tal como Josh Kaufman afirma).

Não acreditas?! Continua a seguir "O Macaco de Imitação".

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.