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Macaco Experimentar

Macaco Experimentar

A minha aldeia - Praia da Areia Branca

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura... 

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

O poema é de Alberto Caeiro e lembra-me da Praia da Areia Branca, a minha aldeia, e de quanto gosto de viver aqui. Suponho que este sentimento não seja diferente daquele entre tantas outras pessoas, por tantas outras terras, mas, para mim, esta aldeia não deixa de ser especial.

Não é da praia que disso há muito por aqui, nem é das ondas que disso há melhor mesmo aqui ao lado. Nem é da noite, ou das estrelas, ou das arribas. Nem é do vento que desse há muitos que já o viam daqui para fora, ainda que depois, suspeito, viessem a sentir saudades. 

Não é do verão e da enchente de turistas e emigrantes, nem é do inverno e do frio que se faz sentir nesta praia. Não é, certamente, da temperatura da água, de que tantos fogem. Nem é das pessoas porque, e essa também é outra suspeita, os portugueses são bons em qualquer lado. Não, não é nada disto em particular. É do conjunto.

Esta aldeia é especial porque eu conheço estas pessoas e esta areia e esta noite. Este vento conheço-o eu, e a água fria já não me surpreende. É porque eu conheço estas arribas como a palma da minha mão, e delas vejo "quanto da terra se pode ver do Universo".


A Lua vista da Praia da Areia Branca, diferente de qualquer outro lado.










É um luxo poder viver aqui e fugir à confusão da cidade, onde "as grandes casas fecham a vista à chave". A Praia da Areia Branca é especial porque tem o melhor pôr do sol de todo o mundo! E é espetacular sair de casa e correr sem ouvir buzinadelas, respirar este ar, ver e sentir esta praia.

Não consigo imaginar viver noutro sítio e trocar de areia, ondas e pôr do sol. Ver as estrelas doutro sítio ou cheirar um mar que não é o meu. Saudades enquanto viajo, pertencem e sempre estarão ligadas à Praia da Areia Branca. Esta é a minha aldeia.

Conhece a página do Facebook d'O Macaco de Imitação.

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A procura pela onda perfeita

Eu comecei a surfar porque o surf era cool, ou pelo menos era assim que eu o via. No início, admito, não gostava muito, só queria ser um tipo popular e com sorte com as "babes". Mais tarde viria a descobrir que atrair as miúdas é mais do que escorregar nas ondas.

A minha vontade de ser um tipo fixe contrastava com o meu perfil de puto reservado, mais adepto do livro e do gameboy, que do futebol e das bicicletas. Quase desisti, não fosse ter-me sido emprestada uma prancha. Isso fez deixar-me a escola de surf e começar a (tentar) surfar por mim. Mais ajudou ter conhecido uns tipos que também andavam nestas vidas e que de companhia serviam. Mais tarde, viriam a tornar-se grandes amigos. O surf marcava os seus primeiros pontos - podia não me ter tornado no puto fixe da escola, mas tinha-me dado amigos e uma razão para sair de casa.

Em retrospetiva, nenhuma outra decisão foi melhor que ter a primeira aula de surf. Em poucos anos o meu mundo alterou-se. A nossa amizade cresceu – entre mim, o surf e os meus novos amigos. Comprei a minha primeira prancha e aí ficou decidido - iria ser um surfista até me caírem os cabelos.

O surf não se aprendia num ano, nem em 10 e, por isso, viciou-me. Queria saber fazer mais e melhor. Além disso, dava-me uma desculpa para evitar ir à praia, onde estavam muitas pessoas que faziam muito barulho. Apesar de ir, sempre, surfar com amigos, lá dentro eram só eu e as ondas. Enquanto esperava, refletia sobre tudo o que há para refletir. Era um tempo premium, longe de distracções. O surf permitia-me estar fora de casa, na natureza, sem que alguém me chateasse.

Até aos 18 anos, o surf não era mais que a caminhada até à praia, a 2 minutos a pé, para "ver se está bom". Com a carta de condução, o surf ficou mais complexo. Agora sabia também de marés, de ventos, de linhas de costa. Podia ir surfar para Peniche e aproveitar ondas vindas de todas as direções. A procura começaria. Com o carro apinhado de pranchas, fatos e pessoal, saía à caça das ondas. Entravamos onde estava bom. Surfavamos mais vezes e o nosso nível aumentou.

Porque os estudos se voltaram para Lisboa, o surf limitar-se-ia aos fins-de-semana. Durante a semana estudávamos os ventos e tudo aquilo que fosse preciso para tirar o máximo proveito daqueles dois dias. No verão era a loucura - era a vê-los surfar todo o dia. O surf tornou-se parte da nossa vida. Era algo que estávamos sempre a fazer, quer dentro de água, quer em conversas e previsões. O "bom dia" foi sendo substituído pelo "então, tens surfado?".

Passados 10 anos, continuo viciado no surf. Continuo uma pessoa introvertida, disso o surf não me livrou. Ao surf agradeço porque me deixou ser quem sou. Porque me trouxe amigos e me aproximou da natureza. Porque me deixa refletir durante o tempo entre uma onda e outra. Porque me levou em viagens à procura da onda perfeita. Porque ainda não sei o que está para vir, mas sei, que por "ele", só pode ser coisa boa.

Foto tirada por mim na Praia da Areia Branca, a minha "terrinha".

Viajar por Portugal

Viajar é um vício. Fazer um interrail, um mochilão e uma viagem pelo sudeste asiático. Percorrer a Route 66 e andar no transiberiano. Viajar por Marrocos, pelos Balcãs, pelos Bálticos, pela China, Japão e Indonésia. Viajar está na moda. E ainda bem. Eu também quero visitar todos estes sítios.

Mas, curiosamente, depois de tantas viagens pelo estrangeiro, aprendo a viajar conhecendo o meu país. Olho em redor, e descubro, neste pequeníssimo rectângulo - que nada é no imenso planeta Terra - uma diversidade cultural avassaladora. Encontro cidades lindíssimas, praias selvagens, paisagens verdes e castanhas e brancas e azuis. Conheço pessoas, delicio-me com a gastronomia, e encontro, de tempo a tempos, coisas novas. Ao explorar Portugal, ao conhecer tanto em tão curto espaço, tenho vontade de conhecer o tanto que existe noutros países.

E, enquanto antes, queria riscar o máximo de países da minha lista, quero agora viajar mais devagar. Substituo a corrida do Interrail - onde vemos 10 cidades em 20 dias - por viagens mais calmas e profundas. Não quero ser turista, quero ser um local, nem que seja por uma semana. Isto não se consegue se passarmos a correr pelos sítios por onde viajamos. Quero comer com os locais, conhecer as suas tradições e descobrir o que os turistas não descobrem. Ainda quero visitar todos os países do Mundo, fazer as viagens mais e menos batidas, mas quero fazê-lo devagar. Quero ver em vez de olhar.

É também curioso que aprendemos isso quando somos os "locais". Quando vivemos em Praga e nos perguntamos por que raio conheço esta cidade melhor que Lisboa. Quando mostramos a nossa capital a um amigo estrangeiro e encontramos algo nunca antes visto.

Orgulho-me de, nos últimos anos, ter visitado Portugal de norte a sul. Não deixei de ir lá fora, para conhecer outras culturas, mas aprecio agora o que temos em Portugal. E, como já disse, essa descoberta abrandou o ritmo das minhas viagens internacionais, e isso faz-me conhecer melhor o que há lá fora.

Acabo este post com 12 fotos de Portugal, que fui tirando nestas viagens. Não as partilho pela sua qualidade - não sei tirar fotografias, mas, como um bom generalista, planeio aprender um dia - mas porque representam locais, ou situações, que eu acho fascinantes.

Berlengas
Fóia, Monchique
Rip Curl Pro Peniche, Supertubos
Vista de Gaia para o Porto
Algures no Norte
Serra da Estrela
Praia de Odeceixe
Lua Cheia
Padrão dos Descobrimentos, Belém, Lisboa
Praia da Aberta Nova, Alentejo
Palácio da Pena, Sintra
Praia da Areia Branca, a minha "terrinha".
E com uma foto da minha terra e do Surf, finalizo este post. Bom verão!


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