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Macaco Experimentar

Macaco Experimentar

A minha aldeia - Praia da Areia Branca

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura... 

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

O poema é de Alberto Caeiro e lembra-me da Praia da Areia Branca, a minha aldeia, e de quanto gosto de viver aqui. Suponho que este sentimento não seja diferente daquele entre tantas outras pessoas, por tantas outras terras, mas, para mim, esta aldeia não deixa de ser especial.

Não é da praia que disso há muito por aqui, nem é das ondas que disso há melhor mesmo aqui ao lado. Nem é da noite, ou das estrelas, ou das arribas. Nem é do vento que desse há muitos que já o viam daqui para fora, ainda que depois, suspeito, viessem a sentir saudades. 

Não é do verão e da enchente de turistas e emigrantes, nem é do inverno e do frio que se faz sentir nesta praia. Não é, certamente, da temperatura da água, de que tantos fogem. Nem é das pessoas porque, e essa também é outra suspeita, os portugueses são bons em qualquer lado. Não, não é nada disto em particular. É do conjunto.

Esta aldeia é especial porque eu conheço estas pessoas e esta areia e esta noite. Este vento conheço-o eu, e a água fria já não me surpreende. É porque eu conheço estas arribas como a palma da minha mão, e delas vejo "quanto da terra se pode ver do Universo".


A Lua vista da Praia da Areia Branca, diferente de qualquer outro lado.










É um luxo poder viver aqui e fugir à confusão da cidade, onde "as grandes casas fecham a vista à chave". A Praia da Areia Branca é especial porque tem o melhor pôr do sol de todo o mundo! E é espetacular sair de casa e correr sem ouvir buzinadelas, respirar este ar, ver e sentir esta praia.

Não consigo imaginar viver noutro sítio e trocar de areia, ondas e pôr do sol. Ver as estrelas doutro sítio ou cheirar um mar que não é o meu. Saudades enquanto viajo, pertencem e sempre estarão ligadas à Praia da Areia Branca. Esta é a minha aldeia.

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O que é o Rendimento Básico Incondicional?

fosso entre os ricos e os pobres está a aumentar. Lamentavelmente, o dinheiro tem vindo a ficar concentrado em poucas pessoas e, atualmente, as 66 pessoas mais ricas do mundo têm tanta riqueza como a metade mais pobre do planeta. Números como este são muito preocupantes. Uma sociedade futura, que se quer estável e justa, tem de resolver os problemas da distribuição de riqueza e de igualdade de oportunidades.

Já se fala há muito tempo de uma nova ideia para combater estes problemas - o rendimento básico incondicional. Em termos simples, esta medida passa por dar uma mesada a todos os cidadãos do país, sejam eles ricos ou pobres, sem nenhum contrapartida. Esse seria um novo direito de todos os cidadãos.

Antes que escreva mais sobre este assunto, quero esclarecer que não sou a favor ou contra esta ideia - ainda não tenho informação suficiente para tomar qualquer partido. O meu propósito, com este artigo, é apenas informar. É mostrar que esta solução existe, que está a ser seriamente discutida na Europa, e que tem argumentos a favor muito fortes. Dito isto, resta saber o que é, de facto, esta ideia.


Logo da European Citizens' Initiative for an Unconditional Basic Income

O que é o Rendimento Básico Incondicional?

Segundo a iniciativa portuguesa do RBI, o rendimento básico incondicional deve ser:

1) Universal - todos os cidadãos têm direito ao rendimento.

2) Incondicional - não há discriminação entre ricos e pobres, empregados e desempregados, pessoas doentes ou não doente - todos recebem este rendimento, no questions asked.

3) Individual - todas as mulheres, homens e crianças têm direito a este rendimento, qualquer que seja a situação conjugal e familiar do indivíduo.

4) Suficientemente - rendimento que permita viver com dignidade e participar ativamente na sociedade. Todos devem ter as suas condições básicas asseguradas, bem como boas condições de saúde e educação.

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Argumentos contra

Quando pela primeira vez ouvi falar do rendimento básico incondicional, não levei a sério a ideia e pareceu-me utópica. Pareceu-me que a sociedade não funcionaria se todos recebessem sem trabalhar. Mas quando comecei a ler mais sobre o RBI, e analisei os argumentos a favor, percebi que estava perante uma ideia muito interessante.

Mas, admitamos, o primeiro impacto é negativo. Por isso, e sem perder tempo, falemos sobre os argumentos contra o rendimento básico incondicional. Apresento-os de seguida como se o argumento fosse avançado por uma pessoa que está contra esta ideia:

1) As pessoas deixariam de trabalhar: As pessoas são preguiçosas por natureza. Se recebessem uma renda todos os meses, deixariam de trabalhar e, daí a uns tempos, só restariam alguns trabalhadores. E os impostos dos últimos não são suficientes para "alimentar" a economia.

2) É injusto receber sem nada fazer: Não podemos concordar que hajam pessoas que nada fazem e que, mesmo assim, recebem dinheiro. Esta ideia não é justa para os trabalhadores e deve ser rejeitada.

3) A inflação disparava: A inflação iria acompanhar o facto de todas as pessoas, num cenário com este, ganharem mais dinheiro. Em pouco tempo, de nada serviria receber este rendimento.

4) O custo é demasiado alto: Podem haver bons motivos para aplicar o rendimento básico incondicional, mas onde vamos arranjar tanto dinheiro?

Argumentos a favor

1) Acabar com a pobreza extrema: O rendimento básico incondicional acabaria com um problema que nunca, em toda a história da humanidade, foi resolvido. Não se justifica que haja pessoas que não têm o que comer, o que vestir e onde viver, e que não tenham acesso a boas condições de saúde e educação.

2) Melhores condições de trabalho e maior produtividade: Quando ninguém se tem de preocupar em ter comida na mesa, ou conseguir pagar a renda da casa, ou até mesmo ter dinheiro para pôr os filhos a estudar, pode procurar um melhor emprego, evitando aqueles com ordenados miseráveis e fracas condições de trabalho. Se o rendimento básico incondicional fosse aplicado, as pessoas teriam também a oportunidade de seguir os seus sonhos e fazerem aquilo que gostam e, por essa razão, trabalhar melhor.

3) Distribuição de riqueza mais equitativaAs pessoas procurariam melhores condições de trabalho, e as empresas teriam de se adaptar a este novo paradigma. Por essa razão, teriam de pagar melhor aos seus colaboradores, e a diferença entre os ordenados do CEO e do trabalhador comum da empresa seria mais pequena que atualmente.

4) Melhor educação: Com o rendimento básico incondicional, ninguém deixa de estudar porque não tem dinheiro.

5) Aumento da taxa de natalidade: Os casais teriam condições económicas para ter mais filhos e por isso seria de esperar um aumento da taxa de natalidade.

Outros argumentos a favor e contra podiam ser apresentados, pois não faltam discussões sobre isso por toda a internet e fora dela. Um dos melhores canais de notícias do YouTube fala também sobre o rendimento básico incondicional, ou basic income:



Como financiar o rendimento básico incondicional?

O rendimento básico incondicional tem, como vemos, muitos argumentos a favor. Mas será que temos dinheiro para financiar este projeto? Quem o estuda diz que sim, e que esse dinheiro poderia surgir do aumento de impostos para os que mais recebem, e também sobre os bens de luxo e produtos poluentes.

Mas o grande "bolo" desse financiamento viria das poupanças que seriam feitas no sistema atual de distribuição de rendas. Não seriam necessárias as burocracias atuais, como aquelas que se certificam que quem recebe é porque precisa.

Discussão

Escrevi acima que não sou a favor nem contra o rendimento básico incondicional, mas admito simpatizar com esta ideia, pois resolveria uma série de problemas sociais. Acredito também que os argumentos contra esta ideia são muito discutíveis.

Em primeiro lugar, temos a eterna discussão de que as pessoas, e em especial os portugueses, são preguiçosos. Muitos são, claro, mas usando uma expressão que não gosto de utilizar, mas que nesta situação encaixa na perfeição, isso é como tudo. 

Não acredito que, na esmagadora maioria, as pessoas deixassem de trabalhar porque passariam a receber, por exemplo, 300 ou 400 euros mensais. Aliás, como é apresentando por diversas vezes em argumentos a favor do rendimento básico incondicional, esta renda seria um estímulo para que as pessoas pudessem fazer o que realmente gostam, e não terem de trabalhar em algo porque têm de pagar as contas no final do mês.

E não nos esqueçamos que temos atualmente muitas pessoas a receber rendimentos do estado porque vivem em condições péssimas, e que a taxa de desemprego em Portugal é altíssima. Há também uma tendência forte no aumento da taxa de desemprego, devido, entre outras razões, à automatização de muitos processos. Postos de trabalho esses que não são restituídos em outro lugar, como desejamos acreditar. Vamos deixar estas pessoas morrer à fome? Não me parece justo. Ainda por cima havendo pessoas neste país que têm muito dinheiro e que pagam miseravelmente aos seus empregados.

Há, no entanto, um argumento contra o rendimento básico incondicional que me preocupa – a possível inflação. Tenho algum receio que, uma vez aplicado o RBI, os preços subam tanto que mesmo recebendo esta renda mensal, as pessoas que precisam mesmo dela não tenham dinheiro para resolver as suas necessidades básicas. Ainda assim, temos o exemplo dos países nórdicos que têm salários médios muito altos, e que o poder de compra é desproporcionalmente mais alto quando comparado com Portugal.

Acredito que o rendimento básico incondicional possa ser uma solução parcial para os grandes problemas sociais. Acredito que uma vez tirada a pressão de ganhar dinheiro para pagar as contas, as pessoas podem arranjar melhores trabalhos, fazerem aquilo que gostam e serem mais felizes. E acredito que a economia crescesse muito por isso mesmo.

Pode resultar?

Por muito atrativos que os argumentos a favor e contra possam parecer, não vamos ter a certeza da eficácia do rendimento básico incondicional, se não forem feitas experiências que testem essa ideia. Porque não podemos ainda provar teorias sociais num computador, infelizmente. Mas, felizmente, já foram feitas algumas implementações desta ideia, mais ou menos rigorosas, em várias partes do mundo.

As melhores experiências até à data foram realizadas no Canadá, nos anos 70, e na India, entre 2011 e 2013. Em ambos os casos, os resultados foram muito positivos. Verificou-se uma maior equidade, melhor aproveitamento escolar, aumento do empreendedorismo, diminuição do número de pessoas hospitalizadas, entre outros. E contrariamente ao que muitos pensavam, as pessoas não deixaram de trabalhar. Sugiro a leitura dos links deste parágrafo para perceber melhor estas experiências.

Foram realizadas experiencias como estas em 14 países. Mas todas elas envolveram pequenas comunidades e, na maioria dos casos, o rendimento não era incondicional e universal. 

Se queremos saber se o rendimento básico incondicional pode ser aplicado, temos de fazer mais e melhores experiências. É nesse sentido que várias entidades europeias têm trabalhado.

Em todo o caso, o rendimento básico incondicional parece estar aqui para ficar. Temos, por exemplo, o caso da Suíça que vota este ano um referendo sobre a aplicação do RBI e da Finlândia que considera fortemente essa ideia.

Como apoiar

Há atualmente diversas entidades nacionais e internacionais que tentam promover o rendimento básico incondicional, e existem as petições portuguesa e europeia no sentido de apoiar esta ideia. Aqui fica um pequeno vídeo da iniciativa portuguesa:



Nota final

No artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos do Homem está escrito: "Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade." 

Infelizmente, ainda estamos longe de resolver este ponto, mas o rendimento básico incondicional, apresenta-se como uma medida capaz de resolver, ainda que parcialmente, vários problemas.

E esta não é uma ideia nova, não foi Martin Luther King Jr. que disse, "I am now convinced that the simplest approach will prove to be the most effective—the solution to poverty is to abolish it directly by a now widely discussed measure: the guaranteed income."?

Apesar de tudo, é importante perceber qual é o objetivo principal do rendimento básico incondicional - erradicar a pobreza extrema e garantir que todos os cidadãos têm o que comer, o que vestir, onde viver, e que tenham acesso a boas condições de saúde e educação. Mesmo que isto não seja resolvido pelo RBI, temos de pensar em medidas que o possam fazer.

Resta-me dizer que este foi o maior artigo que escrevi n'O Macaco de Imitação até à data. Mas, de tempos a tempos, há assuntos, ou ideias, que não conseguimos ignorar e que nos "roubam" completamente a atenção. O rendimento básico incondicional foi uma delas. Não consegui deixar de partilhar o que aprendi sobre isso.

Espero ouvir falar do RBI nos próximos tempos e este seja discutido tanto lá fora, como em Portugal. E espero também que esteja aberta a discussão por aqui, n’O Macaco de Imitação, ou por aí, esteja o leitor onde estiver.

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O fosso entre os ricos e os pobres

Ontem vi um post do Ainanas que me prendeu a atenção. Parece que as 62 pessoas mais ricas do mundo têm tanta riqueza como a metade da população mais pobre do planeta. 62 pessoas que têm mais dinheiro que 3600 milhões. Cada uma que tem, em média, tanto dinheiro como 58 milhões de pessoas. Isto não está certo, e não consigo deixar de fazer contas porque parece-me tudo tão ridículo. O mesmo artigo indica que esse número (62), tem vindo a baixar. Em 2010, seria preciso reunir as 388 pessoas mais ricas do mundo para que estas tivessem tanto dinheiro como a metade mais pobre do planeta. O fosso entre os ricos e os pobres é cada vez maior.

Neste momento, 1% da população mundial tem tanto dinheiro como os outros 99%. Temos algumas pessoas que não sabem o que fazer com o dinheiro, e por isso compram centenas de casas, jatos e grandes barcos, e temos muitos milhares de milhões de outras que não têm sequer que comer. Como é que deixamos isto acontecer? Este sistema político e económico está errado porque deixa isto acontecer. Da forma como tudo está montado, ajudamos os ricos a ficar mais ricos, e os pobres a passar mais dificuldades.

Este é também um problema de mentalidades. Ainda acreditamos que se as pessoas são muito ricas, é porque trabalharam muito e merecem todo esse dinheiro. Tenho, em alguns casos, que concordar com o primeiro ponto, mas permitam-me que discorde do segundo. 

É certo que há muitas pessoas que trabalharam muito na vida e, por isso, merecem ser recompensadas. Dou todo o mérito a pessoas que ajudaram a mudar o mundo, e que fizeram dele um melhor lugar para todas as pessoas. O Bill Gates, o Mark Zuckerberg e o Larry Page merecem todo o nosso respeito. Também em Portugal temos os nossos grandes, como o Cristiano Ronaldo. Ele que é uma força da natureza. Ele que passava muitas dificuldades enquanto novo, e que através da sua dedicação é uma das pessoas mais bem-sucedidas do mundo. O Ronaldo, tal como muitos outros, merece ser compensado pelo seu esforço porque inspira centenas de milhões de pessoas por todo o mundo, e através do futebol torna a vida das pessoas mais feliz.

Escrevo-o novamente; estas pessoas merecem todo o nosso respeito e merecem ser recompensadas. Vieram de origens humildes e conseguiram, com todo o seu trabalho, mudar o mundo. Mas, e aqui vem a crítica, a sua compensação é desproporcional.

Longe do futebol e do Facebook, olhemos para as evidências - a esmagadora maioria das pessoas ricas já tinham pais ricos. Estas são as pessoas que tiveram uma vida facilitada porque alguém, a algumas gerações atrás, trabalhou muito para isso. Estas pessoas que com o dinheiro que têm inicialmente têm uma grande vantagem. Estas pessoas que vão ter mais oportunidades, que vão conhecer pessoas mais influentes, e que por toda a sua condição de vida vão ser mais bem-sucedidas (se bem-sucedido for ter muito dinheiro). Não digo que essas pessoas não trabalhem, mas com certeza podem dar-se ao luxo de se encostar à fortuna que têm, e não são raros os casos em que isso acontece. Já os mais pobres não têm essa vantagem. E mesmo trabalhando tanto ou mais que os ricos, não chegarão, nem de longe, tão perto (em média) do "sucesso" como eles.

Um homem ou mulher que nasça num país pobre, inserido numa família que passa muitas dificuldades, dificilmente conseguirá sair desse ciclo vicioso. Mesmo que trabalhe muito, e consiga melhorar as suas condições de vida, não tem as mesmas oportunidades que as pessoas do grupo dos mais bem afortunados. 

Já dizia o José Cid, "Se Elton John tivesse nascido na Chamusca, não teria tido tanto êxito como eu".

A guerra do fosso entre os ricos e os pobres é uma guerra de oportunidades. Os primeiros que muitas têm, e os segundos que raramente as "apanham". É a guerra do rico que fica cada vez mais rico, e do pobre que se esforça, esforça, e nada. É uma guerra de mentalidades, porque todos pensam que está tudo bem para alguém que inventou o computador ter 70 mil milhões de dólares, e que 10 milhões não chegavam. Esquecem-se que esse dinheiro teve de vir de algum lado. Esquecem-se que esse dinheiro podia ter sido diluído por todas as pessoas que fizeram do computador uma realidade. Esquecem-se que o computador podia ser mais barato.

Por muito que o esforço seja importante e mereça ser monetariamente compensado, nada compensa ter pessoas a morrer à fome. Nada compensa estas desigualdades sociais gigantes.

Mas atenção, eu não culpo os ricos. Eles estão a viver segundo as regras do "jogo", tal como todos nós. Mas defendo que não devia ser possível alguém ganhar várias centenas de milhões de euros. Defendo que o dinheiro deveria ser mais diluído. Defendo que a diferença salarial entre o patrão e o empregado, sobretudo em empresas muito grandes, devia ser substancialmente reduzida.

Olhemos à nossa volta. Temos hoje em dia a geração mais instruída de Portugal. Nunca houve tantos doutores e engenheiros. Mas, ainda assim, as empresas contratam-nos pagando-lhes uma ninharia, que mal chega para pagar a renda da casa, comer durante o mês, e pouco mais. Agora imaginemos quem não teve a sorte de ir para a faculdade e estudar para ser engenheiro ou doutor.

O dinheiro que o nosso trabalho gera está a "escorregar" para qualquer lado. Ou melhor, este dinheiro gerado por tantos, está a ser afunilado para a carteira de alguns.

Ainda não tenho soluções para estes problemas. A política confunde-me e são muitas as vezes que não sei em quem votar. Não sei se acredite que os políticos têm todos más intenções e por isso não fazem um bom trabalho, ou se o trabalho é também ele extremamente complexo, e arranjar soluções para todos os problemas de Portugal (e do Mundo) é demasiado difícil.

Mas uma coisa é certa - andamos adormecidos quanto ao fosso entre os ricos e os pobres. Quem toma decisões, ou quem consegue fazer-se ouvir, não faz parte da metade mais pobre do planeta. É esse o problema. Mas um dia, num futuro próximo (espero), vamos pensar nos "outros". Naqueles que passam fome e que enfrentam condições de vida absolutamente desumanas. Só espero que nessa altura ainda reste alguém para nos perdoar.

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Não sei em quem votar

Ás vezes fico com a impressão de que sou a única pessoa que não percebe os debates políticos. Não sei quem está a "ganhar" ou a "perder". Se mentira se fala, não sei quem a diz. Não percebo os palavrões que se dizem. No final de um debate, continuo sem perceber em quem votar.

Um diz uma coisa, que me parece certa, e concordo com ele. De seguida vem o outro, lançado para opinar, e diz que não é bem assim, e eu também concordo. Sou um fácil. Ou então não. Talvez fique dividido porque eles omitem sempre qualquer coisa. Só partilham aquilo que interessa. E este ciclo repete-se de debate para debate, de ano para ano, de legislatura para legislatura. E, para falar verdade, não sou o único que não percebe o que se anda a passar. Infelizmente, isso acontece com muitos portugueses.


António Costa ou Pedro Passos Coelho, quem será o próximo primeiro-ministro de Portugal? Não sou de limitar a escolha política, mas admitamos, são estes os 2 principais candidatos. Foto retirada de www.rtp.pt.
E eles não percebem que resolver os problemas de um país é um assunto muito complexo? Não há uma única solução. E muitas vezes a solução óbvia vem a revelar-se errada. É tudo muito complexo. Mas os partidos não só acham que a sua solução é a certa, como a dos outros não tem ponta por onde agarrar. Se o outro, da oposição, faz de outra maneira, é burro. Ou pior, pensa-se que anda a lixar os portugueses de propósito. Posso não simpatizar com políticos, mas não acredito que o país esteja em crise porque o nosso primeiro ministro nos esteja a lixar.

Neste cenário, com as notícias deturpadas que ouvimos todos os dias na TV, com o passa a bola da culpa, com a discussão sobre o que os gajos "do mesmo partido que o senhor" fizeram há 10 anos atrás, perco todo o interesse na política. E é uma pena, porque eu gostava de participar. Mas não consigo. Não há como analisar os factos como eles são e votar conscientemente. 

Para muitos portugueses, eu inclusive, votar é um tiro no escuro. Vota-se porque se engraçou com alguém, não se vota em tal partido porque já se decidiu que não vai ganhar, e vota-se com pouca e errada informação.

Tenho pena, mas por isso desligo a televisão. Não vejo notícias, excepto muito raramente. Leio, muito, mas sobre ciência e tecnologia. Mas ainda assim sei, no geral, aquilo que se passa no meu país e lá fora. Aquilo que é importante chega-me aos ouvidos através de conversas com amigos. Sei dos grandes eventos, não sei das milhares de mortes que passam na TV. Sei do bom que acontece, mas não sei quem está à frente nas sondagens.

Talvez um dia seja diferente. Talvez a política fique mais transparente, clara, e por isso, interessante. Talvez aí consigamos analisar os programas políticos como eles são, compará-los, e depois votar segundo os nossos ideais. Até lá, faço um esforço para perceber tudo isto, e espero que todos juntos, mesmo com informação incompleta, consigamos votar na pessoa certa.

Viajem pelos bálticos no século XXI - parte 2/2

Este é o segundo post sobre a minha viagem pelos bálticos. Se não leste o primeiro, segue este link.

Viajar em 2015 é muito fácil. Durante este mês não me senti longe de casa , tal como em viagens anteriores. Talvez esteja mais velho, ou talvez seja a facilidade de acesso à Internet. Uso o GPS e não preciso de pedir indicações; o TripAdvisor diz-me os melhores locais em qualquer país e cidade; e até há aplicações que nos mostram os transportes entre 2 pontos no mapa europeu (sejam eles quais forem). As chamadas para Portugal são baratas e, pelo Facebook, podemos falar com a família e amigos, e ainda ver o que se passa no nosso país. Em nada é diferente do que se estivesse em Portugal, excepto estas línguas esquisitas que as pessoas falam.

Mas a internet traz um problema, pelo menos eu assim o acho. Numa época em que todos partilhamos as nossas experiências de viagem e sabemos quais são os melhores "spots" em qualquer cidade, acabamos por visitar todos as mesmas coisas. Durante esta viagem, foram dezenas as pessoas que encontrei que faziam a mesma rota pelos Bálticos - Vilnius, Riga e Tallinn. Como tornar uma experiência destas única?

Comitiva portuguesa em Riga, Letónia.
Chegados a Riga, despedimo-nos do terceiro elemento da nossa comitiva portuguesa. Ele não gosta de ouvir estas palavras, mas a má hora ele nos deixou, porque logo começaram grandes festas nas próximas 2 cidades - em Riga apanhamos o festival de verão, e em Tallinn as comemorações da restauração da independência.

Mas, dizia, como tornar uma viagem única quando todos parecem visitar as mesmas coisas? Uma das maneiras é estender o tempo de viagem (para quem pode). Ficámos 1 semana em Riga, uma cidade pequena, o que parece muito tempo. Mas isso permitiu-nos visitar a cidade (e arredores) com calma, e estar atento a pormenores que passam despercebidos ao turista comum. Fazemos free-tours, visitamos museus, subimos a torres, aproveitamos o festival de verão, deambulamos pela cidade como se fossemos locais, vamos à praia e até visitamos o jardim zoológico.
Arquitectura soviética. Em tempos, já foi o maior edifício de Riga, Letónia.
Vista de Riga, Letónia. Temos à frente o mercado e atrás a cidade velha.
Igreja ortodoxa em Riga, Letónia.
Riga é uma cidade muito verde. Os parques rodeiam o centro histórico da cidade.
O mercado de Riga é gigante e muito popular. Mais pessoas fazem aqui as compras que em supermercados.
Praia em Jurmala, perto de Riga.
Jardim Zoológico de Riga, Letónia.
Jardim Zoológico de Riga, Letónia.
Jardim Zoológico de Riga, Letónia.
Da esquerda para a direita: o Coelho, o Macaco e a Girafa. Jardim Zoológico de Riga, Letónia.
Já no post anterior tinha falado dos portugueses que encontramos em viagem. É incrível ver, que mesmo poucos, estamos espalhados por todo o lado. Há uma conexão rápida entre falantes de português. Há até quem nos ofereça um pequeno-almoço no buffet do hotel. Para nos convencer dizem que "está pago", e nós aceitamos.

Como, ainda em Riga, e em diante, somos 2, tendemos a conhecer mais pessoas. A maior parte também viaja sozinha ou apenas com um amigo. É isso, também, que torna uma viagem única - conhecer pessoas. Sejam locais, sejam portugueses, sejam europeus ou de outra parte do mundo. Trocamos experiências, piadas, e quebramos maneiras de pensar. Aprendemos como é viver noutro país e dizemos quão bom é o nosso Portugal. 

Parnu, na Estónia. Entrámos nesta cidade ao engano, depois percebemos que nada se passa aqui.
Chegámos a Tallinn, depois de uma pequena passagem pela cidade de Parnu. Em Tallinn encontramos a cidade mais bonita desta viagem. O centro histórico é mais pequeno que Riga, mas mais bonito, mais verde, mais medieval. Fazemos o mesmo que na cidade anterior - ficamos uma semana, para fazer tudo, mas com calma. Abrimos também uma excepção no orçamento, e ficamos em 2 hosteis um pouco mais caros. Acabam por valer todos os euros investidos porque aqui temos, além de mais conforto, melhor ambiente. Conhecemos mais pessoas e até temos concertos, na sala, todos os dias. É uma festa.

É também em Tallinn que temos as melhores noites. Saímos com a malta dos hosteis, temos acesso às melhores discotecas dos Bálticos, e conhecemos Alemães, Checos, e Brasileiros.

Tallinn, Estónia.
Tallinn, Estónia.
Igreja ortodoxa em Tallinn, Estónia. Assistimos, por acaso, a uma "missa".
Tallinn, Estónia.
Tallinn, Estónia.
Posto médico numa antiga prisão em Tallinn, Estónia. Do lado de fora da prisão, há uma praia improvisada, com um pequeno bar. É aqui que passamos um bela tarde de "praia".
Eu e o Christian, um amigo Alemão.
Concerto no Hostel Euphoria. Tallinn, Estónia.
O que é viajar? Por um lado é conhecer a história destes países, o bom e o mau. É conhecer os seus pontos turísticos, os seus monumentos e as suas praias. É também alargar a zona de conforto, é quebrar com preconceitos, é desenrascar lá fora. É provar a comida (mesmo que seja má), é beber cerveja local (porque gostamos de beber), e é ouvir a língua e ver os costumes. É, principalmente, conhecer pessoas novas. É, para mim, viver como um local nesse país, mesmo que seja por 1 semana.

Viajem pelos bálticos no século XXI - parte 1/2

Viajar no ano 2015 é uma experiência completamente diferente do que seria no ano 1985. Em 30 anos, apareceu a Internet, o telemóvel, o GPS, o google, as redes sociais e, para tornar tudo mais fácil, o smartphone. Em qualquer lado do mundo - ou pelo menos da Europa - há uma rede wi-fi. Basta agarrar no iPhone, e sabemos tudo. Nunca a experiência de viajar foi tão social.

No último mês fiz mais uma viagem pela Europa. Estive 27 dias na Bélgica (Bruxelas, Leuven e Antuérpia), Polónia (Varsóvia), Lituânia (Vilnius, Kaunas e Klaipeda), Letónia (Riga) e Estónia (Parnu e Tallin). Visitei vários pontos turísticos, mas também vivi experiências únicas. Neste post falo sobre esta dualidade.

A nossa viagem começa por terrenos familiares. Encontramo-nos com um amigo em Leuven, na Bélgica, e ele diz-nos aquilo que devemos visitar nos próximos dias. Conhecemos esta cidade universitária, e passamos 2 tardes em Bruxelas e Antuérpia. Estes 5 dias passam rapidamente. Encanto-me com a arquitectura Belga, com os seus edifícios altos e finos, e com as grandes torres que parecem brotar de todas cidades. Os belgas parecem-me pessoas simples. Gosto que andem de bicicleta para todo o lado e das centenas, senão milhares de cervejas que têm na carta. Facilmente vivia neste país.


Antuérpia, Bélgica
Biblioteca de Leuven, Bélgica
No entanto, fico triste com a massificação do turismo, que altera o aspeto tradicional das cidades. Por todo o lado aparecem lojas de souvenirs, espétaculos de rua, que embora divertidos, nada têm a ver com a cultura do país, e restaurantes americanos e chineses e indianos. Todos tentam vender qualquer coisa, tudo é caro, e até para ir à casa de banho se tem de pagar. Acabamos por não viver em pleno o país que estamos a visitar. Há um manto turístico por cima da vida quotidiana destas pessoas e é difícil distinguir entre o que é cultura e o que é a globalização.


Arquitectura Belga
Milhões de pessoas vêm a Bruxelas para ver esta estátua e depois deparam-se com esta desilusão. 
É na chegada a Varsóvia que encontro uma das razões pelas quais gosto de viajar - a quebra de preconceitos. Esperava encontrar uma cidade feia e sombria, consumida pela dura história da 2ª guerra mundial. Ao invés, vejo largas avenidas, tudo bem arranjado, muitas cores, e um centro histórico re-construído com as fachadas originais. Varsóvia foi a cidade que mais me impressionou nesta viagem. Faz-me pensar em todos os preconceitos que retemos sobre outros povos - muitas vezes alimentados pelas notícias que vemos e ouvimos na televisão e internet.
Varsóvia, Polónia
Varsóvia, Polónia
O símbolo da cidade de Varsóvia, Polónia
Depois de uma semana entre a Bélgica e a Polónia, partimos para os Bálticos. Vamos sem espectativa. Sabemos pouco sobre estes países, porque há pouca informação na internet. Ao que parece, são pouco turísticos e, por essa razão, atraem-nos. É, por um lado, o gene português - ir à conquista de um novo território - e, na Europa, isto é o mais longe que podemos fazer nesse sentido.

Passamos 1 semana na Lituânia por 3 cidades - Vilnius, Kaunas e Klaipeda - cidades pequenas, que nada têm a ver com as grandes, ou médias, capitais da Europa. No entanto, devido ao baixo turismo, conseguimos ter acesso à verdadeira cultura do país. Em Kaunas ficamos positivamente impressionados com a 2ª maior cidade da Lituânia, depois de termos passado pela pequena capital. Em Klaipeda ficamos negativamente impressionados com uma cidade à beira mar que, ao que parece, de verão e de festa, tem pouco.

Centro de Vilnius, Lituânia
Vilnius, Lituânia
Vilnius, Lituânia
Comida típica da Lituânia. Pela nossa experiência, é parecida com a gastronomia da Polónia, Letónia e Estónia. Ao longo destas 2 semanas fazemos um esforço para provar a gastronomia destes países e, quanto mais o fazemos, mais saudades temos de Portugal.
Castelo de Trakai, Lituânia


Kaunas, Lituânia
Praia em Klaipeda, Lituânia.
Depois de 50 km de bicicleta, chegamos à pequena vila de Nida, na Lituânia.
Nida, Lituânia.
O post seguinte é sobre as semanas 3 e 4 desta viagem pelos bálticos. Aí escrevo sobre a Letónia, a Estónia e sobre como a Internet nos assiste em viagem. E, já que visitamos todos os mesmos pontos turísticos, escrevo sobre o que torna uma viagem única. Segue para a segunda parte aqui.

Sobre esse último ponto, não posso deixar de falar nos portugueses que vamos conhecendo em viagem. Sempre aos pares, é uma festa quando os conhecemos. Bebemos, partilhamos histórias de viagem e grita-se Portugal muitas vezes. Onde está um Português, estão logo 2, 3, ou 23. 

Viajar por Portugal

Viajar é um vício. Fazer um interrail, um mochilão e uma viagem pelo sudeste asiático. Percorrer a Route 66 e andar no transiberiano. Viajar por Marrocos, pelos Balcãs, pelos Bálticos, pela China, Japão e Indonésia. Viajar está na moda. E ainda bem. Eu também quero visitar todos estes sítios.

Mas, curiosamente, depois de tantas viagens pelo estrangeiro, aprendo a viajar conhecendo o meu país. Olho em redor, e descubro, neste pequeníssimo rectângulo - que nada é no imenso planeta Terra - uma diversidade cultural avassaladora. Encontro cidades lindíssimas, praias selvagens, paisagens verdes e castanhas e brancas e azuis. Conheço pessoas, delicio-me com a gastronomia, e encontro, de tempo a tempos, coisas novas. Ao explorar Portugal, ao conhecer tanto em tão curto espaço, tenho vontade de conhecer o tanto que existe noutros países.

E, enquanto antes, queria riscar o máximo de países da minha lista, quero agora viajar mais devagar. Substituo a corrida do Interrail - onde vemos 10 cidades em 20 dias - por viagens mais calmas e profundas. Não quero ser turista, quero ser um local, nem que seja por uma semana. Isto não se consegue se passarmos a correr pelos sítios por onde viajamos. Quero comer com os locais, conhecer as suas tradições e descobrir o que os turistas não descobrem. Ainda quero visitar todos os países do Mundo, fazer as viagens mais e menos batidas, mas quero fazê-lo devagar. Quero ver em vez de olhar.

É também curioso que aprendemos isso quando somos os "locais". Quando vivemos em Praga e nos perguntamos por que raio conheço esta cidade melhor que Lisboa. Quando mostramos a nossa capital a um amigo estrangeiro e encontramos algo nunca antes visto.

Orgulho-me de, nos últimos anos, ter visitado Portugal de norte a sul. Não deixei de ir lá fora, para conhecer outras culturas, mas aprecio agora o que temos em Portugal. E, como já disse, essa descoberta abrandou o ritmo das minhas viagens internacionais, e isso faz-me conhecer melhor o que há lá fora.

Acabo este post com 12 fotos de Portugal, que fui tirando nestas viagens. Não as partilho pela sua qualidade - não sei tirar fotografias, mas, como um bom generalista, planeio aprender um dia - mas porque representam locais, ou situações, que eu acho fascinantes.

Berlengas
Fóia, Monchique
Rip Curl Pro Peniche, Supertubos
Vista de Gaia para o Porto
Algures no Norte
Serra da Estrela
Praia de Odeceixe
Lua Cheia
Padrão dos Descobrimentos, Belém, Lisboa
Praia da Aberta Nova, Alentejo
Palácio da Pena, Sintra
Praia da Areia Branca, a minha "terrinha".
E com uma foto da minha terra e do Surf, finalizo este post. Bom verão!


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