Iniciando o mês de Maio, é tempo de analisar os livros que li em Abril. Se ainda não leste o post de Março, fica aqui o link. Desde que tenho o kobo, tenho escolhido os livros "a dedo", com ajuda do Goodreads. Se gostas de ler e não conheces esta rede social, convido-te a experimentar. É similar ao IMDb mas com foco nos livros. Podes aceder à pontuação do livro dada pelos utilizadores, criar listas de leitura, indicar os livros que já leste, queres ler e que estás a ler neste momento. Tudo isto e muito mais.
Em Abril comecei por explorar a ciência do otimismo e a discussão que geramos dentro da nossa cabeça. Cansado do stress do dia à dia, li um livro sobre como relaxar e aproveitar os pequenos prazeres da vida. Passei para os clássicos, li O grande livro de Stephen Hawking e inspirado para pensar sobre o futuro do universo, li um clássico de ficção científica. Para acabar o mês em grande, decidi experimentar o livro que nos promete que abrir uma empresa pode custar tão pouco como 100 dólares. Aqui segue a lista dos 5 livros que li em Abril:
Este é um livro que fala sobre otimismo e pessimismo. Martin E.P, Seligman analisa a maneira como as pessoas pensam e contam histórias a si mesmas e os efeitos que esses pensamentos têm nas suas ações e sucesso pessoal. Aconselho vivamente a leitura de Learned Optimism porque ao lê-lo e ao fazer o teste que eles nos coloca, conseguimos perceber se somos maioritariamente otimistas ou pessimistas e o que podemos fazer para melhorar a forma como pensamos. Para saberes mais sobre este livro, segue este link para um post que fiz recentemente, onde analiso este livro em detalhe e a ciência do otimismo e pessimismo. Tenho a certeza que vais achar Learned Optimist tão interessante quanto eu achei.
Tom Hodgkinson coloca-nos a vida em perspectiva e faz-nos analisar o ciclo de trabalho-descanso. Apesar de exagerar um pouco por vezes e parecer um eterno preguiçoso, há grandes verdades em How To Be Idle e por isso recomendo-o. Neste livro percebemos porque é que esta sociedade bebe muito café, o que significa "o mundo real de trabalho", entendemos a pressão que existe na sociedade atual para que cada pessoa defina uma especialidade e, mais que tudo, na sua obsessão pelo trabalho.
Tom Hodgkinson fala dos pequenos prazeres da vida, tais como ler, meditar e acordar tarde. Além disso, consegue transmitir uma grande profundidade com algumas coisas que escreve. Seguem algumas passagens do livro, traduzidas para português:
"O café é para vencedores, pessoas que vão atrás, que ignoram chá, cancelam almoços, acordam cedo, que se envergonham do seu empenho, são obcecados por dinheiro e por status e são pessoas lunáticas vazias espiritualmente."
"Será que o "mundo real" significa trabalhar no duro, todo o dia, para produzir coisas inúteis que tornam as outras pessoas mais pobres e infelizes?"
"Esquece todo esse lixo sobre teres de te especializar em uma área e torna-te um "homem dos sete ofícios". Aprende a cuidar de ti mesmo. Pinta, lê, escreve e toca música. Torna-te mediano em várias coisas ao invés de muito bom numa só coisa."
Breve História do Tempo é um livro que te faz sonhar sobre o universo, escrito pelo famoso físico Stephen Hawking. Provavelmente não irás gostar muito do livro se não tiveres um interesse forte por ciência, porque Stephen Hawking entra em detalhe sobre as teorias físicas. Neste livro fiquei a perceber a história da física e as contribuições que grandes cientistas como Newton e Einstein tiveram para formular as leis físicas que regem o nosso mundo.
Neste momento existem duas grandes teorias que explicam o universo: a teoria da relatividade geral e a teoria quântica. Grande parte do trabalho de Stephen Hawking é tentar perceber como é que estas duas teorias podem ser agrupadas numa grande teoria de tudo. Este é um livro fascinante que terão de ler pelo menos uma vez na vida.
Este livro é um grande clássico, escrito pelo famoso pai da ficção científica, Issac Asimov. Desde já quero esclarecer que este livro pouco tem a ver com o filme que nele se inspirou. Eu, Robot é um pequeno livro que agrega algumas histórias sobre a (futura) evolução da inteligência dos robô e sobre os problemas cognitivos que foram surgindo nessa evolução.
Neste livro, Issac Asimov apresenta-nos as 3 leis respeitadas por qualquer robô construído pelo homem:
1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2ª Lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos excepto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.
3ª Lei: Um robô deve proteger a sua própria existência desde que tal protecção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Lei.
Aconselho vivamente a leitura desde clássico que nos faz pensar sobre a humanidade e sobre os desafios que teremos no futuro.
Em "The $100 Startup", Chris Guillebeau mostra-nos como podemos abrir um negócio com tão pouco como 100 dólares e trabalhar em algo que valorizamos. Ao longo do livro, Chris Guillebeau aprensenta-nos a história de pessoas que decidiram "romper" com o caminho convencional de carreira e criar um negócio à volta de coisas que valorizavam, obtendo grandes resultados. Além disso, "The 100$ Startup" introduz técnicas para começar e melhorar o nosso negócio.
Deixo algumas passagens do livro, traduzidas para português, que achei muito interessantes:
"Não existe um programa de reabilitação para pessoas que são viciadas na liberdade. Depois de veres o que está do outro lado, boa sorte em tentar seguir as regras de outra pessoa mais uma vez."
"O valor é criado quando uma pessoa faz alguma coisa de útil e a partilha com o mundo."
"Paixão ou habilidade + utilidade = sucesso."
"Constrói qualquer coisa que desejes comprar e outras pessoas também o vão querer provavelmente"
"Um bom lançamento (produto, serviço, etc) é como um filme de Hollywood. Primeiro vais ouvir falar dele muito tempo antes do lançamento, depois ouves falar mais sobre ele antes da estreia e no final vês a multidão de pessoas a aguardar ansiosamente pelo lançamento do filme."
"Não precisas da permissão de ninguém para seguir os teus sonhos"
"Don't waste your life living someone else's life" - Steve Jobs Espero que tenhas gostado deste pequeno conjunto de livros. Se leste qualquer um deles, comenta em baixo a tua opinião sobre este. E já agora, quais são os clássicos que pretendes ler? Quais foram os livros que te inspiraram?
Alguma vez fizeste um teste para saber o teu tipo de personalidade? Estou de momento a ler o livro "Quiet", sobre introversão, onde é abordado o tema das personalidades, mais especificamente o teste de Myers Briggs (MBTI). Tal como é importante saberes se és otimista ou pessimista, "descobrires" o tepo tipo de personalidade pode trazer-te muitos benefícios. Considero que ao saber um pouco sobre psicologia e sobre a maneira como pensamos, podemos compreender melhor porque fazemos certas coisas. Se pretendermos mudar alguma coisa em nós, ficamos também a saber onde "atacar".
Antes de mais, segue este link para fazeres o teste em português (Brasil). Se quiseres fazer o teste em Inglês segue este link. Saber o tipo de personalidade que tens é muito importante para entenderes o que deves fazer - tanto a nível profissional como a nível pessoal - para seres mais feliz. E descobres como usar os teus pontos fortes a teu favor.
Os 4 parâmetros do MBTI
Seria incorreto da minha parte entrar em detalhe sobre os parâmetros e tipos de personalidade de Myers e Briggs. Existe muito material de qualidade na web (que indico no final do post), feito por pessoas que estudam isto exaustivamente. Aconselho-te a ler esse material se estiveres realmente interessado. Faço aqui apenas um apanhado geral deste teste de personalidade, com informação retirada do próprio link que indiquei acima.
Este teste é composto por 4 parâmetros, cada um com 2 valores opostos, o que dá o total de 16 tipos de personalidade. De notar que os 4 parâmetros estão numa escala contínua e por vezes podemos estar exatamente no meio dos dois extremos. O teste indica-nos o lugar em que nos encontramos na escala de cada parâmetro.
Introvertido (I) vs Extrovertido (E)
Este parâmetro mostra como interagimos com outras pessoas:
Indivíduos introvertidos (I) preferem atividades solitárias, pensam antes de falar e ficam exaustos com interação social.
Indivíduos extrovertidos (E) preferem atividades em grupos, pensam enquanto falam e ganham energia com interação social.
Intuitivo (N) vs Observador (S)
O segundo parâmetro determina como vemos o mundo e processamos informações:
Indivíduos intuitivos (N) são criativos, confiam na sua intuição, tem muitas ideias e focam-se no que poderá acontecer.
Indivíduos observadores (S) têm os pés assentes na terra, confiam nos seus sentidos e em assuntos práticos e focam-se no que já aconteceu.
Pensante (T) vs Sentimental (F)
Este parâmetro determina como tomamos decisões e lidamos com as emoções:
Indivíduos pensantes (T) são fortes, seguem a sua mente, focam-se na objetividade e racionalidade.
Indivíduos sentimentais (F) são sensíveis, seguem os seus corações e focam-se na harmonia e cooperação.
Julgador (J) vs Explorador (P)
O último parâmetro reflete a nossa abordagem ao trabalho, planeamento e tomada de decisões:
Indivíduos julgadores (J) são decisivos, preferem regras claras e orientações, vêem prazos como sagrados e buscam fechamento.
Indivíduos exploradores (P) são bons na improvisação, preferem manter as suas opções abertas, são relaxados com seu trabalho e buscam liberdade.
Os 16 tipos de personalidades
Consoante a tua posição em todas as escalas, podes ter 1 de 16 tipos de personalidade. Aconselho-te a repetir o teste noutros sites para reforçares o resultado final. De seguida apresento uma descrição, demasiado simplificada, de todos os tipos de personalidade. No entanto, deves seguir o seguinte link e investigar mais sobre o teu tipo de personalidade porque além de interessante vai ajudar-te muito. Os seguintes tipos estão acompanhados dos links para a explicação mais detalhada (que deves ler). No entanto, se leres a versão inglesa do mesmo site, vais ter ainda um maior detalhe sobre cada uma das personalidades, tal como os pontos fortes e fracos de cada uma.
ISFJ, "Defensor": Protetores dedicados e acolhedores, estão sempre prontos para defender seus amados.
ESTJ, "Executivo": Administradores excelentes, inigualáveis em gerir coisas - ou pessoas.
ESFJ, "Consûl": Pessoas extraordinariamente atenciosas, sociais e populares, sempre prontas para ajudar.
Exploradores
ISTP, "Virtuoso": Experimentadores práticos e ousados, mestres em todos tipos de ferramentas.
ISFP, "Aventureiro": Artistas flexíveis e charmosos, sempre prontos para explorar e experimentar algo novo.
ESTP, "Empreendedor": Pessoas inteligentes, enérgicas e perceptivas, que realmente gostam de arriscar.
ESFP, "Animador": Animadores entusiasmados, enérgicos e espontâneos - a vida nunca fica aborrecida perto deles.
Leitura mais profunda
Como já escrevi, saber o tipo de personalidade é importante e portanto aconselho a leitura dos materiais seguintes. Apenas tem em mente que, apesar da tua personalidade se "encaixar" numa das 16 personalidades acima descritas, deves ter em atenção o lugar a que pertences nas 4 escalas.
Todas as personalidades têm aspetos mais dominantes que outros dentro dos 4 parâmetros. Deves também percebe-los, de forma a criares uma vida que esteja de acordo com os teus valores e te sintas bem.
Seguem então alguns links interessantes sobre tipos de personalidade. A estes links juntam-se os links acima relacionados com cada uma das personalidades:
CelebrityTypes - outra versão do mesmo teste de personalidade, que serve apenas para confirmar o teu tipo. Este website também apresenta pessoas famosas e as suas personalidades.
Enneagram - este é outro tipo de teste de personalidade que podes achar interessante.
PersonalityPage - aqui tens descrições profundas sobre todos os tipos de personalidade.
Recentemente li o livro Learned Optimism do psicólogo Martin E.P. Seligman. Este livro fala sobre otimistas e pessimistas. Onde achas que encaixa a tua personalidade? Faço aqui um pequeno resumo dos pontos essenciais do livro mas aconselho a sua leitura porque é daqueles livros com um potencial gigante para mudar a vida de alguém.
Os primeiros trabalhos de Seligman estão à volta da depressão e das suas causas. No princípio da sua carreira, descobriu que o comportamento animal pode não só ser afectado por recompensas e punições, mas também por um efeito que ele chamou de Learned Helplessness (ou, na minha tradução, indefesa aprendida).
O sistema de recompensas e punições é bastante intuitivo. Ao dar comida (recompensa) a um rato cada vez que ele carrega numa alavanca ou dar um choque (punição) cada vez que ele faz alguma coisa que não queremos, estamos a moldar o comportamento do rato. Ele aprende o que deve ou não deve fazer de forma a otimizar a sua experiência no mundo.
Para estudar a indefesa aprendida, Seligman desenhou outro tipo de experiência. Organizou cães em 3 grupos e submeteu-os a diferentes condições: o 1º grupo de cães recebia um choque até que carregasse num botão. Com o passar do tempo, estes cães aprendiam que podiam controlar a sua dor; O 2º grupo não tinha qualquer controlo sobre os choques que recebia. O choque apenas era desligado quando o cão do 1º grupo carregasse no botão. O 3º grupo de cães, o grupo de controlo, não recebiam qualquer choque. No início Seligman estava muito relutante em fazer experiências com animais, mas prometeu a si mesmo que iria parar no momento que provasse o efeito da indefesa aprendida.
Depois da fase de "aprendizagem", os cães foram submetidos a uma experiência diferente. Todos os cães, independentemente do grupo, foram submetidos a uma condição em que recebiam um choque elétrico até que saltassem uma pequena vedação (tinham de descobrir isto sozinhos). O que aconteceu foi extraordinário. A maioria dos cães do 1º e 3º grupo não tiveram problema nenhum em descobrir como desligar o choque. No entanto, a maior parte dos cães do 2º grupo nada fez, ficou parado. Podes pensar que ele "aprendeu" que ficar parado desligava os choques, mas não foi isso. Seligman repetiu a experiência com outras condições para garantir as conclusões que tinha chegado. Os cães do 2º grupo tinham "aprendido" que nada que pudessem fazer tinha resultados. Mesmo numa condição em que podiam evitar receber os choques, os cães foram completamente passivos. Conclusão: aprenderam a ser indefesos.
A ligação entre Indefesa Aprendida, Depressão e Pessimismo
Depois destas experiências, muitos estudos se fizerem ligando a "indefesa aprendida" à depressão. Se estás interessado neste tema, queria que soubesses que o livro está muito bem escrito e a ciência está muito profissional. Seligman não deriva as suas conclusões "à jornalista". Em estudos científicos é necessário perceber se dois eventos estão correlacionados, ou seja, têm os dois uma terceira causa, ou se esses dois eventos pertencem a um conjunto causa-efeito. No segundo caso é ainda necessário perceber qual é a causa e qual é o efeito. Nem sempre a resposta certa é intuitiva.
Todos passamos por momentos de depressão, derivados da realidade não corresponder às nossas expectativas. Se muitas vezes estes epísodios duram apenas alguns dias ou semanas, há momentos que infelizmente são mais que momentos e podem durar vários meses ou anos. Seligman percebeu que a Indefesa Aprendida é um efeito típico da depressão. Em episódios depressivos, as pessoas sentem-se indefesas e não acreditam que alguma coisa que façam pode alterar o rumo das suas vidas. Mas, ao longo das suas experiências, agora feitas também em humanos, Seligman percebeu que há algumas pessoas que tendem a resistir à Indefesa Aprendida. Estas são as pessoas que persistem em resposta a uma adversidade, que tendem a não se deixar ir abaixo e que tendem a contrariar a depressão. Qual é a diferença entre essas pessoas e as que se vão abaixo mais facilmente? Seligman descobriu que a razão não é pelas primeiras serem mais bonitas, fortes ou inteligentes. O que distingue o comportamento das pessoas é a maneira como elas explicam a si mesmas aquilo que lhes acontece, tanto para maus eventos como para bons eventos. E é aqui que entra o seu estudo sobre otimistas e pessimistas.
És otimista ou pessimista? Faz o teste
Antes de ler o resto do post é importante que faças um teste. Não deverá demorar mais de 15 minutos e vais descobrir se és maioritariamente otimista ou pessimista. Segue ESTE link e NÃO LEIAS A EXPLICAÇÃO SEGUINTE ANTES DE ACABAR O TESTE. VAI AFETAR AS TUAS RESPOSTAS.
Provavelmente agora estás a pensar o que querem dizer essas pontuações. Simplificando, a tua pontuação final está em "Good minus Bad Score". Se fores pessimista, não te preocupes. A boa notícia é que podes mudar a tua maneira de pensar. Eu digo-te como, no final deste post, tal como aprendi no livro Learned Optimism. Antes disso é importante que percebas a tua pontuação e todos os outros campos que fazem parte do resultado do teste.
Permanência
Esta métrica mede a maneira como interpretas aquilo que te acontece em termos temporais. Costumas dizer "Faço sempre tudo mal" ou "Hoje não estou nos meus dias"? Se és pessimista, provavelmente consideras os eventos maus como permanentes: "Nunca faço boa comida", "Estou sempre a falhar", "Nunca vou conseguir acabar este projeto". Já para os eventos positivos acontece o contrário. Se és pessimista vês aquilo que te acontece de bom como temporário. É o típico "tive sorte". Um pensamento otimista é o contrário do pessimista, vê os eventos negativos como temporários e os eventos positivos como permanentes.
Abrangência
Os pessimistas tendem a colocar "tudo no mesmo saco" quando alguma coisa lhes acontece. Estes não pensam ser maus a fazer comida ou a jogar futebol. Tendem a pensar: "faço sempre tudo mal". Colocam um carácter geral ao tipo de maus eventos, ou maus pensamentos. Por exemplo, um pessimista pensaria que "todos os livros são maus", ao passo que um otimista diria "este livro é mau". Para os bons eventos ocorre o contrário. Os pessimistas tendem a pensar "eu sou inteligente a matemática", ou seja, a restringir as suas competências e os otimistas tendem a pensar "eu sou inteligente". Se a permanência tem um carácter temporal, a abrangência tem um carácter espacial. Vejamos 2 exemplos muito pessimistas: "Faço sempre tudo mal" e "Hoje tive sorte no exame de condução". Um otimista diria de forma contrária relativamente aos mesmos eventos: "Hoje o teste correu-me mal" e "Tenho sempre sorte".
Personalização
Este critério é o mais fácil de entender. Os extremamentes otimistas (e ninguém deve sê-lo) acham que a culpa é sempre dos outros e os extremamente pessimistas pensam que a culpa é sempre deles. Para os eventos positivos a balança vira. Os otimistas atribuem o sucesso ao seu próprio mérito e os pessimistas acham que tiveram sorte ou muita ajuda. Certamente não há só 2 tipos de pessoas. É muito provável que te encontres na média otimista-pessimista. Ás vezes tens pensamentos menos otimistas e outras vezes mais pessimistas. No entanto, se és maioritariamente pessimista, deves mudar um pouco a tua maneira de pensar porque te vai trazer muitas vantagens. Resumindo, se és pessimista, é mais provável que aches os maus eventos como permanentes ("vai durar para sempre"), abrangentes ("vai arruinar a minha vida toda") e pessoais ("a culpa é minha"). Os otimistas pensam que as suas infelicidades são temporárias ("tive um dia mau"), específicas ("correu-me mal o teste") e externas ("a culpa é do sistema"). Para eventos positivos é tudo ao contrário. Os pessimistas acham que o que é bom é temporário, específico e externo, ao passo que os otimistas acreditam que é permanente, abrangente e pessoal.
As vantagens de ser otimista
A forma como nós pensamos tem um impacto enorme na forma como nos comportamos e portanto no nosso sucesso. Ser otimista tem várias vantagens, como mostra Martin Seligman em Learned Optimism:
Sucesso no trabalho. Os otimistas tendem a não desistir perante a adversidade e portanto obtêm melhores resultados.
Promoção de atividade, ao passo que o pessimismo torna a pessoa mais passiva.
Felicidade. Uma atitude negativa causa ansiedade e mau-estar.
Melhor saúde. Já está provada a ligação entre o cérebro (a forma como pensamos) e o sistema imunitário. Pessoas otimistas têm uma melhor defesa e por isso resistem melhor a doenças.
Imunidade contra depressão. Os pessimistas têm um maior risco de ter episódios de depressão porque são mais susceptíveis a sentirem-se indefesos.
Melhores relações sociais. As pessoas gostam de ver uma boa atitude e palavras positivas vindas de outra pessoa. Nesse aspeto, os otimistas fazem amigos e obtêm confiança com maior facilidade.
Sucesso no desporto. Mais uma vez, ao não desistir, os otimistas acabam por obter melhores resultados.
Quando não ser otimista
Mas o mundo não é só dos otimistas. Há uma razão evolucionária para haver pessimismo. Há 10.000 anos, um caçador que pensasse que era mais forte que um tigre não vivia muito tempo. Temos os genes de pessoas pessimistas, que se protegeram dos perigos. Mas o mundo mudou muito desde aí. O pessimismo ainda tem lugar no mundo, mas não ao nível que herdamos biologicamente. Hoje em dia não somos submetidos a tanto perigo como era o homem de há 10.000 atrás. Vários estudos também apontam que os ligeiros pessimistas vêm a realidade mais nitidamente. Mais cedo devemos confiar na versão do pessimista que a do otimista quando nos contam ambos um episódio comum. Também sabemos que ser super otimista é mau porque normalmente estas pessoas têm excesso de confiança e são pouco responsáveis pelos seus atos. Há que saber escolher quando ser otimista e quando ter pensamentos mais conservadores. Quando a nossa segurança está em risco, não podemos ser otimistas! Mas devemos escolher ter uma atitude positiva quando o risco é baixo e quando sabemos que devemos fazer algo porque nos irá fazer bem.
Método ABCDE para ser mais otimista
Felizmente Seligman apresenta um método para mudar a maneira como pensamos e interpretamos o que nos acontece. O método ABCDE envolve a consciencialização daquilo que estamos a pensar e, se for uma interpretação tipicamente pessimista, refutar esse pensamento e colocá-lo numa perspectiva positiva e construtiva. Apresento de seguida as várias fases deste método.
A, Adversidade, B, Crença ("Belief") e C, Consequência
O processo começa com uma adversidade, ou seja, qualquer coisa que nos acontece, boa ou má. Pode ser "O meu chefe ralhou comigo", "Tive uma má nota num teste", "Um amigo não atendeu o telemóvel", "Tive a melhor nota no teste" ou "Os meus amigos disseram que adoraram o jantar que preparei". O primeiro ponto é simplesmente um facto, aquilo que aconteceu de verdade.
De seguida vem a nossa interpretação, o nosso método de explicar aquilo que nos aconteceu. A isto chama-mos crença. É aqui que o otimismo e pessimismo se refletem. Como disse acima, um otimista vê os maus eventos como temporários, específicos e externos, enquanto que um pessimista os vê como permanentes, abrangentes e internos.
Se acreditarmos que o facto do chefe ralhar connosco é porque "Faço sempre tudo mal. Nunca consigo acertar nada. Vou ser despedido...", o que achas que é o resultado? Claro que nos vamos sentir mal, indefesos e vamos reagir passivamente. Até somos capazes de passar o resto do dia mal-dispostos e descarregar a nossa frustração em cima de um amigo ou familiar. E se ao invés pensarmos "O chefe está provavelmente num dia mau. Ele tinha razão em algumas coisas, mas exagerou."? A consequência vai ser mais feliz. Se o chefe teve alguma razão no que disse, até interpretamos as suas palavras como um incentivo para melhorar. Se não teve razão, apenas ignoramos e passamos o resto do dia mais tranquilos.
A interpretação e consequência também acontecem para os eventos bons. Se reagirmos a uma boa nota num teste com "Tive sorte. Estava mais inspirado nesse dia. Por acaso estudei aquilo que saiu e tive boa nota.", estamos a confiar muito na sorte e não atribuímos o sucesso a causas internas, ao facto de termos estudado para o teste e estarmos bem preparados.
D, Disputa e E, Energização
Para mudar a nossa crença pessimista e a consequência negativa que se segue, temos de discutir com a nossa crença, temos de a colocar em perspectiva, temos de ver a realidade como ela é, temos de "positivar" a nossa crença. Aqui fica um exemplo de como podemos disputar os nossos pensamentos negativos:
Adversidade: "Enviei o currículo para um estágio que estava mesmo interessado e ainda não me responderam."
Crença: "Sou pior que todos os outros candidatos. O meu currículo está mal feito. O que estava a pensar quando me candidatei? Já sabia que não ia ficar. Sou mesmo estúpido."
Consequência: "Sinto-me mal e não me apetece fazer nada. Acho que vou passar o resto da semana a ver filmes e pensar naquilo que me aconteceu."
Disputa: "Calma! Este estágio é muito concorrido. Provavelmente recebem dezenas de candidaturas todos os dias e ainda não tiveram tempo de contactar todas as pessoas. Eu sei que tenho um bom currículo e tenho uma forte possibilidade de entrar no estágio."
Energização: "Agora sinto-me bastante melhor. Este estágio parece muito interessante mas vou dedicar o resto da semana a procurar outras oportunidades. Quantos mais currículos enviar, maior as possibilidades de conseguir um bom trabalho."
Estás a perceber como funciona? Se mudares a tua crença vais sentir-te melhor e vais levantar-te e tomar uma ação que contrarie aquilo que te aconteceu. Por outro lado, abraça aquilo que bom te acontece. Atribui o sucesso à tua dedicação (sem exageros).
Outra maneira muito interessante e eficaz de refutar as tuas crenças é pedires a um amigo que te atire "bocas" sobre uma situação, que seja cruel contigo. Normalmente nós não gostamos quando nos fazem acusações, mas fazemos isso mesmo a nós próprios. Se for outra pessoa a fazer as acusações vamos puder disputar esses argumentos muito mais facilmente, chegando rapidamente a uma interpretação lógica e positiva.
Adiamento
Agora imagina que não podes "discutir" com os teus pensamentos. Tens trabalho para fazer que não pode esperar. Podes rejeitar então a crença e marcar uma "discussão" interna para mais tarde. Atribui uma hora específica do dia, mais tarde, para contrariares aquilo que te aconteceu. Vais ver que ao fazeres isto o evento mau vai perder importância, vais sentir-te melhor e provavelmente nem haverá discussão mais tarde. O que o teu cérebro queria era apenas chatear-te e fazer-te pensar sobre problemas que não existem. Ao adiares a discussão, tudo perde importância. Se for uma coisa mesmo importante, ao pensar mais tarde vais estar com a cabeça mais fria e vais puder ver as coisas mais claramente, chegando a uma conclusão positiva e construtiva.
Nota final
Claro que é mais fácil falar que fazer. Mas tem calma, a nossa maneira de pensar não se altera do dia para a noite. Pensar positivo é um hábito. Se treinares regularmente o método ABCDE vais tornar-te uma pessoa mais tranquila, ativa e feliz. Lembra-te também que o objetivo não é ser estupidamente otimista porque sabemos que isso traz desvantagens. Temos de saber escolher quando ser mais otimista, porque a situação nos permite, ou ter um pensamento mais conservador, quando a nossa segurança está em jogo. Espero que tenhas aprendido alguma coisa com este post. Por vezes, apenas saber como trabalha o nosso cérebro ajuda-nos a interpretar aquilo que sentimos e o comportamento que temos. Ao ler sobre psicologia, em vez de te tornares um maníaco, vendo problemas em todo o lado, tornas-te uma pessoa mais tranquila e paciente. Se ficaste interessado neste tema, vê este TEDTalk de Martin E.P. Seligman. Até um próximo post! Conhece a página do Facebook d'O Macaco de Imitação.
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