Devíamos todos reciclar. Devíamos todos ter umcarro elétrico ou, melhor ainda, andar de bicicleta. Devíamos todos dar sanguee ser dadores de medula. Devíamos todos votar. Não devíamos pisar as dunas. Enão devíamos comer carne; ainda me lembro daquilo que vi no Cowspiracy.
Devíamos também fazer exercício físico, todosos dias, e comer bem. Devíamos meditar, acordar cedo e não deixar para amanhã o que pode serfeito hoje. Devíamos ser mais organizados e ajudar as pessoas sempre que possível. Devíamos escrever uma lista de 100 coisas que devíamos fazer edevíamos fazê-las a todas. Ou não?
Claro que sim. Devíamos fazer isso tudo.Devíamos proteger o ambiente, os animais e ajudar os outros. Devíamos fazersempre aquilo que é moralmente certo, independentemente das condições. Quem não o faz é ignorante, ou é estúpido, ou é, simplesmente, egoísta. Ounão?
Há tempos vi uma mensagem do género, "se queres que as pessoas façam alguma coisa, torna-o fácil, torna-odivertido". Apontei-a por ser tão importante. Ela recorda-meque as pessoas, quando decidem fazer alguma coisa, não só escolhem o queestá certo, mas também aquilo que é mais fácil, confortável, barato, divertidoe que lhes ofereça algum benefício. Não é que elas sejam más pessoas quando não reciclam ou não votam ou não doam sangue, mas às vezes é muito difícil fazer essas coisas todas.
É difícil fazer o que está certo. Se calhar tem mesmo de ser assim. O que é bom,e o que está certo, deve dar trabalho. Ou não? Talvez seja errado continuar a pensar dessa forma e, por não mudarmos essa maneira de pensar, as pessoas continuam a ignorar assuntos importantes tal como o ambiente.
O que está certo, e o que é importante, não tem de ser difícil
Um dia estudava no técnico quando reparei numacampanha de recolha de sangue numa das salas de estudo. Diziam que ofereciamlanche caso ajudássemos. Por vontade de ajudar, ou porque estava com fome, participei. A verdade é que a razão não interessa. Fiz o que estava certo -ajudei alguém em necessidade. Terem ido diretamente à minha faculdade e teremoferecido lanche só facilitou a minha ajuda.
Ou dando o meu exemplo favorito. O Elon Musk formou aTesla – empresa de carros elétricos – porque queria resolver o problema dapoluição. Desde cedo percebeu que se fizesse um bom carro, e não apenas umexcelente carro elétrico, teria mais sucesso. Agora as pessoas começam acomprar estes carros porque são melhores e fazem-lhes poupardinheiro. Ah, sim, e também ajudam o ambiente. As pessoas fazem o que estácerto, mas não têm de gastar um dinheirão ou prejudicar a sua vida por causadisso.
O que está certo não tem de ser difícil defazer. Não tem! Se as pessoas pudessem votar online não haveria tantaabstenção; se houvessem ecopontos em todas as ruas as pessoas reciclariam mais; se a fast food não fosse tão barata e tão boa e tão acessível, as pessoascomeriam melhor.
A solução é simples. Temos de ajudar as pessoas a tomarem boas decisões, mostrando e dando-lhes benefícios por ajudarem o ambiente, os animais, ou qualquer outra coisa importante. Este site premeia ideias originais, divertidas e que estimulem bons comportamentos nas pessoas. Por exemplo, o vídeo seguinte mostra como se conseguiu estimular o uso de escadas ao invés de passadeiras rolantes. Paremos de pensar que as pessoas são perfeitase que tomam sempre a decisão certa. Todos nós procuramos sempre o melhor para a nossa vida. Às vezes tomamos decisões moralmente erradas, ou ignoramos aquelas que estão certas, porque temos de nos "safar". Com ideias como a anterior, podemos ajudar as outras pessoas, ou o ambiente, ouqualquer outra coisa, e ainda "lucrar" com isso. Só temos de dar claros benefícios às pessoas que tomam decisões moralmente certas.
A nível pessoal – atingir objetivos, adquirirhábitos, aprender algo novo – acontece a mesma coisa. Vivemos numa cultura quenos diz que o que faz bem é muito difícil e um sacrifício. Mas não tem de o ser.Podemos ganhar hábitos de forma sustentável e aprender coisas novas rapidamente, se adotarmos a técnica e atitude certas. Só precisamos de pensar mais um bocadinho. Conhece a página do Facebook d'O Macaco de Imitação.
Não reparamos, mas passamos o dia todo a falarconnosco. É como se tivéssemos sempre na presença de uma voz que nos vainarrando o dia, que se arrepende do que fez ontem e se preocupa com o dia de amanhã. Esta fala connosco e nós respondemos-lhe usando a mesmalinguagem silenciosa.
Cada um de nós tem um destes "amigos" internos. Basta olhar para as pessoas que connosco partilham o metro, e logonos apercebemos que elas estão perdidas no mundo dos pensamentos, dasemoções, das preocupações, dos desejos. Cada um a olhar por si, sem reparar no mundoque se lhes é apresentado.
Os pensamentos que vamos tendo ao longo do diatêm uma razão de ser. Eles dizem-nos o que queremos e o que devemos fazer. Eles preparam-nos para o que está para vir.Mas também assumem uma importância desproporcionada, e alguns destespensamentos deixam-nos infelizes e agarrados a preocupações que, vistas deoutra perspetiva, não têm qualquer sentido. Além disso, é incrível a quantidade depensamentos e ideias que temos por dia, tal como percebei há pouco tempo.
Porque, ainda que custe acreditar, ospensamentos não são reais. Não é porque me preocupar que amanhã não vouconseguir pagar as contas, que tal vá acontecer. Não sendo reais, gastarenergia preocupando-nos com certos pensamentos, é umdesperdício. Mas é mais fácil escrever do que fazer.
Triste é perceber que uma vez passado tanto tempo no mundo interno dospensamentos, deixamos passar coisas incríveis que acontecem à nossa volta. Nãovemos a beleza que há no mundo, não vemos e ouvimos as pessoas, mais ou menosdesconhecidas, e não percebemos o que estamos a perder.
Devemos começar a tratar os pensamentos, e avoz que connosco fala, de outra forma – dando-lhes mais ou menos importância,conforme seja necessário. Qual é o truque para adquirir tal força mental? Ameditação.
Quando temos um pensamento, a primeira reaçãoé começar a "falar" com ele. Facilmente passamos de um pensamento levementenegativo para qualquer coisa como "vou ficar pobre". Isso acontece porque nosdeixamos levar pela corrente de pensamentos e porque reagimos instintivamente e inconscientemente aesses pensamentos. Porque queremos logo justificar e tratar do assunto e falarsobre esse "amigo" interno. Porque acreditamos que esses pensamentos são reais.
Mas, se de outra forma, analisamos o pensamento não como protagonistas, mas na perspectiva de uma terceira pessoa, conseguimos criar uma barreira entre o pensamento e a ação. Com isso, conseguimos avaliaraquilo que estamos a sentir e refletimos e agimos sem stress (ou com menos stress).
A meditação ensina-nos a lidar com todo o tipode pensamentos e emoções consequentes. Ensina-nos não a eliminar os pensamentosnegativos, mas "conversar" melhor com eles, para que estes não nos levem abaixo. Até uma prática de 5 ou 10 minutos de meditação por dia pode trazer-nos resultados incríveis, diminuindo drasticamente a ansiedade e ajudando-nos a estar mais presentes.
Como explico num post anterior,a meditação ajuda-nos a focar naquilo que de verdade importa e é um hábitomuito fácil de começar. Nesse post mostro como fazê-lo.
Decidi fazer da meditação o 3º hábito da minha série de 6 meses e 6 hábitos. No mês de Abril, o meu objetivo é meditartodos os dias, de manhã, durante 5 minutos. Já tentei meditar noutras alturasmas sem sucesso. Mas agora, com a "bagagem" que ganhei com os últimos 2 hábitos, estou confiante que desta vez consiga ganhar o hábito.
Num próximo post irei explicar melhor comocomecei a meditar e porque acho que ele me irá ajudar neste processotodo dos 6 meses e 6 hábitos. Até lá, Carpe Diem.
PS: Nesta "onda" da meditação, estou a ler o livro 10% Happier. Este livro conta a história de Dan Harris, um jornalista americano, que teve um ataque de pânico em direto na TV. Dan conta-nos como lidou com a situação nos anos seguintes, e como a meditação e mindfulness o ajudou a superar os seus problemas de ansiedade e a apreciar as pequenas coisas do dia-a-dia. Mesmo sendo o Dan, no início, extremamente cético em relação a este tipo de coisas. Aconselho vivamente a leitura deste livro.
10% Happier, Dan Harris. Imagem retirada de goodreads.com
Por vezes deixo-me levar seriamente porpreocupações. Penso e volto a pensar sobre coisas que não merecem a pena. Pensosobre o que devia ter feito no passado, o que estou agora a fazer e o que deviafazer amanhã.
De certa maneira, refletir sobre estesproblemas é importante, mas não até ao ponto de ficar maldisposto e de impedir a minha produtividade. Infelizmente, tenho-me sentido assimultimamente.
Só quando estou mais bem-disposto é queconsigo pensar sobre os problemas que afetam as pessoas no dia-a-dia. E quandoisso acontece percebo a pequenez dos nossos, e dos meus, problemas. Que quandocomparados com os problemas, desta vez reais, de tantos outros, parecemestupidamente insignificantes.
Que importância tem se estamos aborrecidos nonosso trabalho, ou se não sabemos aquilo que vai acontecer para a semana, ou sevamos ter dinheiro para umas férias, quando há pessoasque nem têm que comer?
Mas é tão fácil esquecer isso.
Qual é a dimensão dos nossos problemas à escalanacional, europeia ou mundial? Estamos assim tão concentrados em nós mesmos queacabamos por achar que os nossos problemas são da mais absoluta importância?
Bastava ter consciência da nossa pequenez paraque os “problemas” deixassem de o ser; se víssemos o mundo maravilhoso que senos é apresentado; se percebêssemos as oportunidades que temos.
Mas é tão difícil concentrarmo-nos no mais importante, e perceber que o mundo, quer tenhamos “problemas” ou não, vaicontinuar a girar e os pássaros vão continuar a cantar todos os dias. Que nãovale a pena pensarmos tanto, porque esses problemas são tão insignificantes e porque o nosso tempo aqui está contado. Que maisvale aproveitar todos os dias e deixar que os “problemas” se desvaneçam nanossa propositada desatenção.
E é quando percebo isso que consigo olhar omundo com olhos de ver. Que percebo a ligação entre tudo e todos. Que vejo abeleza que há na vida. E sinto um arrepio que me desce pela espinha e me diz –estás ligado.
Mas tal como o mundo, a vida vai girando. E os nossos “problemas” voltam tão depressa como fugiram, num movimento desenfreado que nos volta a encher a cabeça.
Mas nessas alturas lembro-me das conclusões aque cheguei nos momentos mais felizes. E lembro-me que posso treinar no sentidode ser mais positivo e de ver a vida por outra perspetiva. E que se tiver deforçar o meu comportamento até ser uma daquelas pessoas que parecem estar semprefelizes, então que seja.
É por isso que estou a trabalhar nos meus hábitose a tentar adotar uma maneira de pensar mais positiva. E este mês comecei o 3º hábito da minha série de6 meses e 6 hábitos. Vou, de uma vez por todas, começar a meditar, esperando que daqui um mês seja mais fácil controlar os meus pensamentos. Espero bem que assim o seja. Mas se o problema não ficar resolvido, continuarei a tentar.
Ontem vi um post do Ainanas que me prendeu a atenção. Parece que as 62 pessoas mais ricas do mundo têm tanta riqueza como a metade da população mais pobre do planeta. 62 pessoas que têm mais dinheiro que 3600 milhões. Cada uma que tem, em média, tanto dinheiro como 58 milhões de pessoas. Isto não está certo, e não consigo deixar de fazer contas porque parece-me tudo tão ridículo. O mesmo artigo indica que esse número (62), tem vindo a baixar. Em 2010, seria preciso reunir as 388 pessoas mais ricas do mundo para que estas tivessem tanto dinheiro como a metade mais pobre do planeta. O fosso entre os ricos e os pobres é cada vez maior. Neste momento, 1% da população mundial tem tanto dinheiro como os outros 99%. Temos algumas pessoas que não sabem o que fazer com o dinheiro, e por isso compram centenas de casas, jatos e grandes barcos, e temos muitos milhares de milhões de outras que não têm sequer que comer. Como é que deixamos isto acontecer? Este sistema político e económico está errado porque deixa isto acontecer. Da forma como tudo está montado, ajudamos os ricos a ficar mais ricos, e os pobres a passar mais dificuldades. Este é também um problema de mentalidades. Ainda acreditamos que se as pessoas são muito ricas, é porque trabalharam muito e merecem todo esse dinheiro. Tenho, em alguns casos, que concordar com o primeiro ponto, mas permitam-me que discorde do segundo. É certo que há muitas pessoas que trabalharam muito na vida e, por isso, merecem ser recompensadas. Dou todo o mérito a pessoas que ajudaram a mudar o mundo, e que fizeram dele um melhor lugar para todas as pessoas. O Bill Gates, o Mark Zuckerberg e o Larry Page merecem todo o nosso respeito. Também em Portugal temos os nossos grandes, como o Cristiano Ronaldo. Ele que é uma força da natureza. Ele que passava muitas dificuldades enquanto novo, e que através da sua dedicação é uma das pessoas mais bem-sucedidas do mundo. O Ronaldo, tal como muitos outros, merece ser compensado pelo seu esforço porque inspira centenas de milhões de pessoas por todo o mundo, e através do futebol torna a vida das pessoas mais feliz. Escrevo-o novamente; estas pessoas merecem todo o nosso respeito e merecem ser recompensadas. Vieram de origens humildes e conseguiram, com todo o seu trabalho, mudar o mundo. Mas, e aqui vem a crítica, a sua compensação é desproporcional. Longe do futebol e do Facebook, olhemos para as evidências - a esmagadora maioria das pessoas ricas já tinham pais ricos. Estas são as pessoas que tiveram uma vida facilitada porque alguém, a algumas gerações atrás, trabalhou muito para isso. Estas pessoas que com o dinheiro que têm inicialmente têm uma grande vantagem. Estas pessoas que vão ter mais oportunidades, que vão conhecer pessoas mais influentes, e que por toda a sua condição de vida vão ser mais bem-sucedidas (se bem-sucedido for ter muito dinheiro). Não digo que essas pessoas não trabalhem, mas com certeza podem dar-se ao luxo de se encostar à fortuna que têm, e não são raros os casos em que isso acontece. Já os mais pobres não têm essa vantagem. E mesmo trabalhando tanto ou mais que os ricos, não chegarão, nem de longe, tão perto (em média) do "sucesso" como eles. Um homem ou mulher que nasça num país pobre, inserido numa família que passa muitas dificuldades, dificilmente conseguirá sair desse ciclo vicioso. Mesmo que trabalhe muito, e consiga melhorar as suas condições de vida, não tem as mesmas oportunidades que as pessoas do grupo dos mais bem afortunados. Já dizia o José Cid, "Se Elton John tivesse nascido na Chamusca, não teria tido tanto êxito como eu". A guerra do fosso entre os ricos e os pobres é uma guerra de oportunidades. Os primeiros que muitas têm, e os segundos que raramente as "apanham". É a guerra do rico que fica cada vez mais rico, e do pobre que se esforça, esforça, e nada. É uma guerra de mentalidades, porque todos pensam que está tudo bem para alguém que inventou o computador ter 70 mil milhões de dólares, e que 10 milhões não chegavam. Esquecem-se que esse dinheiro teve de vir de algum lado. Esquecem-se que esse dinheiro podia ter sido diluído por todas as pessoas que fizeram do computador uma realidade. Esquecem-se que o computador podia ser mais barato. Por muito que o esforço seja importante e mereça ser monetariamente compensado, nada compensa ter pessoas a morrer à fome. Nada compensa estas desigualdades sociais gigantes. Mas atenção, eu não culpo os ricos. Eles estão a viver segundo as regras do "jogo", tal como todos nós. Mas defendo que não devia ser possível alguém ganhar várias centenas de milhões de euros. Defendo que o dinheiro deveria ser mais diluído. Defendo que a diferença salarial entre o patrão e o empregado, sobretudo em empresas muito grandes, devia ser substancialmente reduzida. Olhemos à nossa volta. Temos hoje em dia a geração mais instruída de Portugal. Nunca houve tantos doutores e engenheiros. Mas, ainda assim, as empresas contratam-nos pagando-lhes uma ninharia, que mal chega para pagar a renda da casa, comer durante o mês, e pouco mais. Agora imaginemos quem não teve a sorte de ir para a faculdade e estudar para ser engenheiro ou doutor. O dinheiro que o nosso trabalho gera está a "escorregar" para qualquer lado. Ou melhor, este dinheiro gerado por tantos, está a ser afunilado para a carteira de alguns. Ainda não tenho soluções para estes problemas. A política confunde-me e são muitas as vezes que não sei em quem votar. Não sei se acredite que os políticos têm todos más intenções e por isso não fazem um bom trabalho, ou se o trabalho é também ele extremamente complexo, e arranjar soluções para todos os problemas de Portugal (e do Mundo) é demasiado difícil. Mas uma coisa é certa - andamos adormecidos quanto ao fosso entre os ricos e os pobres. Quem toma decisões, ou quem consegue fazer-se ouvir, não faz parte da metade mais pobre do planeta. É esse o problema. Mas um dia, num futuro próximo (espero), vamos pensar nos "outros". Naqueles que passam fome e que enfrentam condições de vida absolutamente desumanas. Só espero que nessa altura ainda reste alguém para nos perdoar. Conhece a página do Facebook d'O Macaco de Imitação.
Vivemos num mundo de escolhas. Em nenhuma outra altura da história, foicada indivíduo tão responsável pelo seu destino. Espera-se que cada um de nóssaiba o que vestir e o que comer. Espera-se que cada pessoa escolha, muito bem, o que ler,que filme ver e que músicas ouvir. Espera-se, e aí mais importante, que cada umsaiba o que quer fazer, e com quem quer estar.
Há liberdade para isso. E isso é bom. Não queremos, não devemos, nem podemos, voltar a outrostempos, quando as pessoas tinham de escolher e fazer aquilo que os outrosdecidiam. Hoje em dia temosacesso a experiências e produtos mais bem adaptados a qualquer um. Temos aoportunidade de ficar mais satisfeitos com aquilo que fazemos e consumimos. Temosum enorme controlo sobre o rumo da nossa vida. Mas, por outro lado, tantas escolhas deixam-nos paralisados. Não sabemos oque escolher porque temos muito por onde escolher.
Será que estamos a pedir demais de cada um de nós? Dou por mimencostado à parede pelas decisões que tenho de tomar, dando-lhes umaimportância que elas não merecem. Até escolher que filme ver na televisão pode ser umcastigo - tenho de ver todos os títulos, ler todos os resumos, e ver as suaspontuações no IMDB. Sinto-me mal se não o faço, e se não escolho o filmeperfeito. Mas também me sinto mal porque o faço, porque o processo é desgastante.Sinto que a responsabilidade de escolher esse filme é toda minha e, se nãoescolho o melhor filme da lista, sinto que fiz um mau trabalho.
E isto repete-separa todas as coisas da vida. Com a internet,temos acesso a um mundo de escolhas. Podemos até escolher que carreira seguir e queviagens fazer. A todo o momento! Somos a geraçãoque mais escolha tem. Mas, paradoxalmente, somos aquela que menos satisfeita fica comas decisões que toma.
A nossa cultura deu-nos umaresponsabilidade gigante. Não o fez por mal, nós é que não estamos preparadospara tantas escolhas. Em boa verdade, nós nem sabemos porque gostamos ou não defazer, ou ver, ou ler, alguma coisa. Em muitos dos casos, simplesmente,gostamos. Mas também não sabemos que não sabemos. E é esta não sabedoria quenos leva a querer escolher. Porque pensamos que se tivermos muita escolha,podemos escolher algo perfeito, mas só ficamos confusos. Além disso, sinto - e creio que outros também o sentem - uma enorme pressão para fazer mais e mais, para fazer cada vez melhor, e para trabalhar muito e descansar só se for preciso. Esta pressão ninguém ma deu, ou então deram-me todos.
Vivemos no mundo do "já fizeste" e do "tens de". Já fizeste isto? Então tens defazer. Tens de ver esta série, tens de ver este filme, tens de experimentaristo e tens de comer aquilo. Vivemos num mundo de escolhas, mas demasiadas escolhas. Vivemos num mundo que corre e não se deixa apanhar. Vivemos num mundo que fazer pouco é mal visto. Vivemos no mundo do "não fazes nada? grande vida".
Em tão grande corrida, não vemos aquiloque passa diante dos nossos olhos. Não vemos o pôr do sol nem o céu estrelado.Nem mais paramos para observar a chuva de dentro do conforto das nossas casas.Nem podemos. Porque perdemos muito tempo a escolher ea fazer.
Não conseguimos fazer tudo, nem uma boa parte disso. A nossa força devontade é como uma energia que se vai gastando ao longo do dia. Escolher gastaessa energia. E hoje temos de escolher muito. E escolher uma carreira é, nos dias de hoje, uma das coisas mais difíceis de fazer. "Sabemos" que temos a liberdade para escolher o que quisermos. Mas essa liberdade envolve muitas escolhas, e não é raro o caso de pessoas que não sabem o que fazer na vida. Sentem-se mal se não conseguem encontrar facilmente a sua "vocação", e pensam, erradamente, que são a excepção e não a norma.
Não escrevo este texto porque sei a solução para este problema. Se eu soubesse, não teria a experiênciapara escrever estas palavras. Não saberia como é ter de escolher tudo a toda ahora, e fazer sempre mais. Não entenderia este "sofrimento", e nãoperceberia o autor deste texto. Porque como se pode não querer ser o dono totaldo seu destino? Escolher de entre tudo o que há para escolher. Ter o produtoperfeito, a carreira perfeita, as experiência perfeita, sempre, à nossa escolha. Não. Escrevo este artigo porque penso e volto a pensar nisto: será que a nossa geração sabe lidar comtanta liberdade?
Não sei qual é a resposta. Talvez não devêssemos levar a vida demasiado a sério. Devíamos sim olhar para asestrelas; para a quantidade, muito provável, de Terras que existem, e questionar a significância,e importância, das nossas escolhas e das nossas preocupações.
Talvez seja bom confiarmosmais nos nossos sentidos, e escolher este filme porque se gosta deste ator, ou leraquele livro porque se engraçou com a aquela capa.
Um dia acordamos. Dão-nos um nome, uma casa e uma família.Levam-nos de um lado para o outro, dão-nos comida e mudam-nos a fralda. Somoscompletamente dependentes da nossa família. E esta faz planos em nosso nome. Ospais, os avós e os tios querem que sejamos médicos, engenheiros, artistas oujogadores de futebol. Nós não queremos nada, porque ainda não temos consciênciade quem somos e onde estamos.
Depois aprendemos a andar e a falar e, com isso, a cumprir ea pedir. Ensinam-nos oque devemos e não devemos fazer. Ensinam-nos quem respeitar, o que comer, o quevestir e o que pensar. E nos primeiros anos de escola aprendemos os básicospara a (longínqua) vida futura.
Ficamos mais velhos e queremos ser os putos fixes da escola.E é durante a adolescência que definimos grande parte da nossa personalidade. Agoraaprendemos o que gostamos e não gostamos de fazer. Começamos a surfar, a tocar guitarra e a descobrir o mundo à nossa volta. Mais do que tudo, imitamos.Ouvimos o que outros ouvem, vestimos o que os outros vestem, pensamos, por contágio,o que os outros pensam.
Por outro lado, a família, os professores e a sociedade em geral, dizem-noso que devemos fazer – tirar boas notas e entrar num bom curso, numa boafaculdade. Porque assim vamos ter um emprego estável e duradouro, vamos puderpassar férias onde queremos, comprar o carro que desejamos e ter uma casa desonho. Dizem-nos que a vida é séria, e não há como brincar com ela. Dizem-nosque temos de trabalhar muito, casar e ter filhos. Esse é o sonho. No finalda carreira, e depois de 40 anos a trabalhar, como prémio, temos a reforma. Aívamos puder fazer o que queremos, e cuidar dos netos e viajar o tempo todo. Esta filosofia de vida é-nos incutida. Enós acreditamos, porque não sabemos melhor. Eles são adultos, eles sabem do quefalam, e eles parecem estar bem na vida.
Depois temos de decidir o que queremos fazer da vida. E há quem saiba, desde sempre, o que quer fazer "quando for grande". Para estes a decisão é fácil, e já sabem o curso quequerem tirar, ou já sabem que não querem tirar um curso e têm outros planos. Osque sempre tiraram boas notas, mesmo estando indecisos, sabem que têm de ir para afaculdade. Para estes, escolher o curso é a decisão mais difícildas suas vidas. E os que não têm boas notas também são "empurrados" paraa faculdade. Aliás, é assim que "tem" de ser. Quem estuda muito tem à esperaum bom emprego e pode comprar uma série de coisas boas - foi isso que nos contaram.
Vamos para a faculdade. Saímos das casas dos pais e somos"independentes" pela primeira vez na vida. Fazemos aquilo que é supostofazer – estudar muito e tirar boas notas. Além disso, festejamos a boa vida de faculdade.Conhecemos muitas pessoas, todas diferentes, todas iguais. É uma altura boa,que, como nos avisaram, passa depressa. No final estamos ansiosos por conhecero mercado de trabalho. Finalmente, vamos ter o nosso dinheiro e vamos pudercomprar o que queremos. Vamos viver o sonho, neste caso, português.
No primeiro mês de trabalho tudo é uma novidade. Usamostermos como CEO e Business Plan. Temos fatos todos bonitos, sentimo-nosimportantes e somos o orgulho da nossa família. Mas esta sensação não duramuito tempo. Passada a novidade, percebemos que temos um emprego chato, quetrabalhamos muitas horas e que recebemos pouco. Os nossos chefes parecemcansados. E saímos da faculdade com a cabeça cheia de ideias inovadoras, prontos para as testar nestasempresas, e "elas" dizem-nos que somos muito novos, que estamos aqui é paracumprir, que temos muito para provar até pudermos fazer alguma coisa. Ouvimospela primeira vez a frase “não te queixes...no meu tempo…”, e sabemos que apartir daí está tudo estragado.
O trabalho é cada vez mais chato. Pensamos que é um problemalocal e que está na altura de mudar de emprego. Assim fazemos e encontramos a mesmasituação noutro local. Ficamos brutalmente desmotivados. Mais do que nunca, somos possuídos pelo síndrome do domingo à tarde, aquele que nos deixa mal-dispostos por saber que amanhã é dia de trabalho.
Num ato de salvação mental, despedimo-nos,tento a certeza (fraquinha) que iremos encontrar qualquer coisa para fazer.Mas a crise dos 25 anos mal está a começar.
Sentimos que tudo aquilo que nos foi dito estava errado.Onde está o emprego que nos foi prometido? Nós, que estudámos tanto. Que outrasmentiras nos disseram? Será que queremos uma grande casa e um bom carro? E terfilhos? Quem é quem para nos dizer o que temos de fazer? Para quêmatar-me a trabalhar para, ao final de 40 anos, reformar-me, agora sempaciência para gastar o dinheiro que juntei? Qual é o sentido da (minha) vida? Qual é a chave para a felicidade? Qual é o meu destino?
As perguntas são muitas, e as respostas não se fazemacompanhar. Pensamos o dia todo sobre elas. E começamos a ler sobre tudo isto.Lemos sobre psicologiae produtividade e filosofia e estilos de vida. Conhecemos,através dos livros, pessoas que ousaram ser diferentes e que estão muitobem na vida. Aprendemos mais sobre nós, sobre o que gostamos e o que gostaríamos de fazer, e alteramosas nossas prioridades. A pouco e pouco, vamos aprendendo uma nova filosofia de vida.
Todos (acho) passamos pela crise dos 25 anos. Isso acontece quando descobrimos que a filosofia de outros tempos, e que nos foi ensinada, está desatualizada. Que empregos bons podem haver, mas não os vamos descobrir à primeira ou segunda tentativa com nos fizeram crer. E, certamente, estudar não garante trabalho.
É importante passarmos pela crise dos 25 anos - termos a coragem de rejeitar um trabalho e uma vida que não nos satisfazem. Porque, de outra maneira, adiamos a crise para os 30, 35 ou 40 anos. E nessa altura a mudança é mais difícil e radical. É importante dar o passo que ainda acreditamos ser para trás.
Precisamos de ler muito para percebermos mais sobre tudo. Precisamos de definir as nossas prioridades e atualizar a nossa filosofia de vida. Com isso, é certo, que o passo atrás irá dar balanço para dois ou três passos para a frente. Por fim, e pela segunda vez na vida, "acordamos". Conhece a página do Facebook d'O Macaco de Imitação. Artigos relacionados:
Lembro-me, desde sempre, de ver o Gato Fedorento. Comecei a ver desde o início, na SIC Radical, com a famosa série Fonseca. Via todos os episódios, revia-os 100 vezes e depois repetia-os 500. Chateava todos à minha volta, "Já conheces o Gato Fedorento"?
E fui acompanhando todas as temporadas dos Gato. Fui crescendo com eles. Era, de entre os meus amigos, o especialista no Gato Fedorento. E com orgulho. Conhecia todos os episódios, repetia-os sem hesitação e enlouquecia ao ver uma nova série.
Os Gato Fedorento - Miguel Góis, Tiago Dores, Ricardo de Araújo Pereira e José Diogo Quintela.
E entretanto foram ficando mais famosos, correram todos os canais da TV portuguesa e fizeram anúncios para a MEO. E qualquer coisa mudou. Não sei se em mim, se neles. Mas já não achava piada às novas temporadas. Percebi que não era o único que assim pensava. O humor ficou gasto? Ficou forçado? Perderam a piada que surgia daqueles sketchs feitos em cima do joelho? Não sei.
Mas não interessa. Os Gato Fedorento farão sempre parte da minha adolescência. Têm eles piada agora, isso é discutível. Mas ninguém lhes tira o seu humor inovador, e os milhões de portugueses que riram com os seus sketchs. Lá longe ficam as temporadas do Perfeito Anormal, do Fonseca, do Meireles e do Lopes da Silva. Agora temos outros como o Salvador Martinha e os Boomerang. Mas para mim, os Gato Fedorento vão ser sempre os máiores da minha aldeia.
Ás vezes fico com a impressão de que sou a única pessoa que não percebe os debates políticos. Não sei quem está a "ganhar" ou a "perder". Se mentira se fala, não sei quem a diz. Não percebo os palavrões que se dizem. No final de um debate, continuo sem perceber em quem votar.
Um diz uma coisa, que me parece certa, e concordo com ele. De seguida vem o outro, lançado para opinar, e diz que não é bem assim, e eu também concordo. Sou um fácil. Ou então não. Talvez fique dividido porque eles omitem sempre qualquer coisa. Só partilham aquilo que interessa. E este ciclo repete-se de debate para debate, de ano para ano, de legislatura para legislatura. E, para falar verdade, não sou o único que não percebe o que se anda a passar. Infelizmente, isso acontece com muitos portugueses.
António Costa ou Pedro Passos Coelho, quem será o próximo primeiro-ministro de Portugal? Não sou de limitar a escolha política, mas admitamos, são estes os 2 principais candidatos. Foto retirada de www.rtp.pt.
E eles não percebem que resolver os problemas de um país é um assunto muito complexo? Não há uma única solução. E muitas vezes a solução óbvia vem a revelar-se errada. É tudo muito complexo. Mas os partidos não só acham que a sua solução é a certa, como a dos outros não tem ponta por onde agarrar. Se o outro, da oposição, faz de outra maneira, é burro. Ou pior, pensa-se que anda a lixar os portugueses de propósito. Posso não simpatizar com políticos, mas não acredito que o país esteja em crise porque o nosso primeiro ministro nos esteja a lixar.
Neste cenário, com as notícias deturpadas que ouvimos todos os dias na TV, com o passa a bola da culpa, com a discussão sobre o que os gajos "do mesmo partido que o senhor" fizeram há 10 anos atrás, perco todo o interesse na política. E é uma pena, porque eu gostava de participar. Mas não consigo. Não há como analisar os factos como eles são e votar conscientemente. Para muitos portugueses, eu inclusive, votar é um tiro no escuro. Vota-se porque se engraçou com alguém, não se vota em tal partido porque já se decidiu que não vai ganhar, e vota-se com pouca e errada informação.
Tenho pena, mas por isso desligo a televisão. Não vejo notícias, excepto muito raramente. Leio, muito, mas sobre ciência e tecnologia. Mas ainda assim sei, no geral, aquilo que se passa no meu país e lá fora. Aquilo que é importante chega-me aos ouvidos através de conversas com amigos. Sei dos grandes eventos, não sei das milhares de mortes que passam na TV. Sei do bom que acontece, mas não sei quem está à frente nas sondagens. Talvez um dia seja diferente. Talvez a política fique mais transparente, clara, e por isso, interessante. Talvez aí consigamos analisar os programas políticos como eles são, compará-los, e depois votar segundo os nossos ideais. Até lá, faço um esforço para perceber tudo isto, e espero que todos juntos, mesmo com informação incompleta, consigamos votar na pessoa certa.
Eu comecei a surfar porque o surf era cool, ou pelo menos era assim que eu o via. No início, admito, não gostava muito, só queria ser um tipo popular e com sorte com as "babes". Mais tarde viria a descobrir que atrair as miúdas é mais do que escorregar nas ondas.
A minha vontade de ser um tipo fixe contrastava com o meu perfil de puto reservado, mais adepto do livro e do gameboy, que do futebol e das bicicletas. Quase desisti, não fosse ter-me sido emprestada uma prancha. Isso fez deixar-me a escola de surf e começar a (tentar) surfar por mim. Mais ajudou ter conhecido uns tipos que também andavam nestas vidas e que de companhia serviam. Mais tarde, viriam a tornar-se grandes amigos. O surf marcava os seus primeiros pontos - podia não me ter tornado no puto fixe da escola, mas tinha-me dado amigos e uma razão para sair de casa.
Em retrospetiva, nenhuma outra decisão foi melhor que ter a primeira aula de surf. Em poucos anos o meu mundo alterou-se. A nossa amizade cresceu – entre mim, o surf e os meus novos amigos. Comprei a minha primeira prancha e aí ficou decidido - iria ser um surfista até me caírem os cabelos.
O surf não se aprendia num ano, nem em 10 e, por isso, viciou-me. Queria saber fazer mais e melhor. Além disso, dava-me uma desculpa para evitar ir à praia, onde estavam muitas pessoas que faziam muito barulho. Apesar de ir, sempre, surfar com amigos, lá dentro eram só eu e as ondas. Enquanto esperava, refletia sobre tudo o que há para refletir. Era um tempo premium, longe de distracções. O surf permitia-me estar fora de casa, na natureza, sem que alguém me chateasse.
Até aos 18 anos, o surf não era mais que a caminhada até à praia, a 2 minutos a pé, para "ver se está bom". Com a carta de condução, o surf ficou mais complexo. Agora sabia também de marés, de ventos, de linhas de costa. Podia ir surfar para Peniche e aproveitar ondas vindas de todas as direções. A procura começaria. Com o carro apinhado de pranchas, fatos e pessoal, saía à caça das ondas. Entravamos onde estava bom. Surfavamos mais vezes e o nosso nível aumentou.
Porque os estudos se voltaram para Lisboa, o surf limitar-se-ia aos fins-de-semana. Durante a semana estudávamos os ventos e tudo aquilo que fosse preciso para tirar o máximo proveito daqueles dois dias. No verão era a loucura - era a vê-los surfar todo o dia. O surf tornou-se parte da nossa vida. Era algo que estávamos sempre a fazer, quer dentro de água, quer em conversas e previsões. O "bom dia" foi sendo substituído pelo "então, tens surfado?".
Passados 10 anos, continuo viciado no surf. Continuo uma pessoa introvertida, disso o surf não me livrou. Ao surf agradeço porque me deixou ser quem sou. Porque me trouxe amigos e me aproximou da natureza. Porque me deixa refletir durante o tempo entre uma onda e outra. Porque me levou em viagens à procura da onda perfeita. Porque ainda não sei o que está para vir, mas sei, que por "ele", só pode ser coisa boa.
Foto tirada por mim na Praia da Areia Branca, a minha "terrinha".
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.