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Macaco Experimentar

Macaco Experimentar

Quem inventou a sorte de principiante?

Ouvimos esta expressão vezes sem conta. Eu não acredito que o principiante tenha sorte, acho que é uma ilusão, tal como a que falei neste post. Mas esta teoria tem de ter algum fundamento. Neste post vamos perceber de onde vem esta expressão.

Se um principiante está a jogar com alguém mais experiente, e tem a sorte de marcar um ponto difícil, já sabe que vai ouvir a famosa expressão, “isso é sorte de principiante”. Há quem ache que isso acontece porque o inexperiente não tem nada a perder, tem menos pressão, e então tem melhores resultados. Até pode ser essa a explicação, em parte, mas eu acho que é uma explicação fraca. Se assim fosse, os resultados em provas como o Mundial de Futebol e o Roland Garros – em que a pressão é enorme – seriam desastrosos. E, pelo contrário, também se poderia admitir que devido à sua experiência, o especialista está mais tranquilo e atinge uma melhor pontuação.
Será a sorte de principiante uma ilusão? Imagem retirada de wordpress.com.
Vamos, ao invés, analisar este “problema” do ponto de vista psicológico. Na minha opinião, há dois factores que contribuem para a teoria da sorte de principiante. Um deles é um viés cognitivo, o da confirmação. Em segundo lugar, temos a culpa os especialistas. Passo a explicar:

1) Viés da confirmação

O víes de confirmação é um dos erros cognitivos mais estudados em psicologia. Este indica que, para “provar” uma teoria, tendemos a procurar razões que a sustentem, e rejeitamos informação que a desprove. Por exemplo, imagina que és a favor da legalização das drogas leves. Naturalmente, vais procurar livros, artigos e vídeos que sustentem a tua teoria. Inconscientemente, evitas informação que explique porque é que legalizar as drogas pode ser uma má ideia.

Este erro está mais presente na tua vida do que tu possas pensar. É por isso que é tão difícil convencer uma pessoa de que a sua teoria está errada. Se alguém está convencido de que todos os cães são pretos, parece que ignora cada cão castanho ou branco que lhe passa à frente dos olhos.

E o que sustenta a teoria da sorte de principiante? Cada vez que um iniciante tem sorte, o nosso cérebro parece guardar essa informação, como uma "prova" de que a nossa teoria está certa. No entanto, esquecemo-nos das dezenas de vezes que um principiante, naturalmente, porque é inexperiente, joga mal.

O viés da confirmação consegue explicar porque é que as pessoas continuam a acreditar nesta teoria. Mas há aqui um problema. Este erro cognitivo não explica porque é que a teoria da sorte de principiante resolveu aparecer. Tem de haver outro motivo a alimentar tamanha farsa.

2) A culpa dos especialistas

Comecemos com um exemplo – um dos meus favoritos sobre esta matéria. Porque é que os jogadores de basquetebol são altos? Muitas pessoas acreditam que este desporto faz crescer o atleta. E quem começou esta teoria? Digo-vos já; foram os jogadores de basquetebol.

Digamos que temos uma centena de crianças que começa a praticar basquetebol. Algumas delas vão ser melhores que outras. As crianças que são mais altas, ou que vão crescendo mais, destacam-se ao longo do tempo. Como obtêm bons resultados, estão motivadas e continuam no basquetebol. As crianças menos capazes, as mais baixas, deixam o desporto e vão fazer outras coisas. Este ciclo vai-se repetindo ao longo dos anos.

No final, temos uma equipa com jogadores muito altos. Os jogadores cresceram porque continuaram a jogar basquetebol? Não! Foi o contrário. Esses adultos jogam basquetebol porque foram as crianças que mais cresceram. Mas, na perspectiva dessas pessoas, que só vêm jogadores altos à sua volta, e, tendo todos praticado o mesmo desporto, concluem, erradamente, que cresceram por causa do basquetebol. Dessa forma, lançam a teoria de que este desporto os fez desenvolver mais rápido. Pode o mesmo efeito acontecer com a “sorte de principiante”?

Vamos analisar um jogo que tem muita sorte à mistura; o Poker. Quem é que é jogador profissional de Poker? Com certeza não são pessoas que tiveram azar quando começaram a jogar. O mais provável, enquanto iniciantes, foi terem bastante sorte, ganharem umas quantas mãos e ficarem motivados para aprender mais sobre o jogo. Temos, na coleção de jogadores profissionais de Poker, uma população que teve mais sorte que o resto do mundo quando começou a jogar.
Sorte de principiante. Imagem retirada de DeviantArt. Desenho por Lauraneato & Goheh.
Tal como no exemplo do basquetebol, os jogadores profissionais de Poker pensam, erradamente, que a sorte de principiante é uma coisa real, porque quase todos tiveram sorte quando começaram a jogar. Conversa puxa conversa, e cria-se a teoria da “sorte de principiante”.

Estes dois efeitos explicam a teoria da sorte de principiante. Gostava de saber a tua opinião sobre isto. Comenta abaixo sobre esta teoria ou fala-me de uma outra interessante.

Nota final

Podes encontrar este tipo de explicações – que exploram a psicologia humana – em vários livros como Thinking Fast and Slow, Stumbling on Happiness e The Black Swan. Estes livros ajudam-te a processar a informação que "consomes" todos os dias; a distinguir a verdade da ilusão. Se gostas destas teorias, vais adorar estes livros.

O Cisne Negro de Nassim Taleb (e como aprender a pensar)

Alguns livros são perigosos! Têm o poder de mudar a forma como pensamos para o resto da vida. "O Cisne Negro" de Nassim Taleb é um deles. Este foi o livro que me fez gostar de psicologia e "devorar" uma série de outros livros sobre economia, comportamento humano, hábitos, felicidade, etc. 
Durante muitos tempo pensava-se que existiam apenas cisnes brancos no planeta, porque nunca se tinha visto um cisne negro...até ao momento em que estes foram descobertos na Austrália! Nassim Taleb baptiza assim a sua teoria, baseando-se no facto de que este era um evento totalmente inesperado que mudou radicalmente a maneira como as pessoas pensavam na altura, pelo menos no que diz respeito a cisnes!
Este livro faz-nos pensar na razão pela qual as pessoas são fracas a prever aquilo que irá acontecer no futuro. Introduz-nos ao conceito de que, na maioria das vezes, o mundo muda consoante eventos não previsíveis tal como o surgimento da Internet ou o 11 de Setembro, ao invés de mudanças graduais, tal como somos levados a pensar.

O Cisne Negro explica como acontecem estes grandes eventos e como a natureza humana e a forma como pensamos nos impede de imaginar que possam surgir e mudar o mundo como conhecemos. A teoria do Cisne Negro tenta explicar:

  • O papel desproporcional destes grandes eventos, raros e difíceis de prever, que estão para lá de qualquer expectativa histórica, científica, económica ou tecnológica.
  • Porque razão é quase impossível calcular a probabilidade de ocorrerem usando métodos científicos, pelo simples facto de serem mesmo muito improváveis.
  • Os erros cognitivos que fazem com que indivíduos ou grupos de pessoas sejam "cegas" a pequenas probabilidades, inconscientes do papel decisivo que estes eventos têm em termos históricos.
Nassim Taleb nasceu no Líbano, é um ensaísta, académico e mestre da estatística. Este livro está incrivelmente bem escrito, tem piada, muitos exemplos retirados da vida quotidiana e expõe aspectos fascinantes sobre a natureza humana e como processamos o complexo mundo à nossa volta. O Sunday Times nomeou este livro como 1 dos 12 mais influentes desde a 2ª Guerra Mundial. Recomendo vivamente a leitura deste livro. Aqui ficam outros 3 livros de grandes nomes neste campo:


A leitura destes livros é um simples e divertido remédio para melhor pensar e reflectir sobre a forma como processamos informação e tomamos decisões ao longo da nossa vida.

21 Livros de 2014 (Parte 1)

A ler aprende-se tudo e basta um livro para mudar a tua opinião sobre sobre qualquer coisa. A ler tens acesso a informação que de outra forma não consegues obter, coisas que gente importante fez, disse e imaginou ou a resultados da investigação de grandes mentes da ciência. 

Este ano li mais do que nunca e começei a explorar temas psicologia, economia e empreendedorismo. E acredita, basta um livro para perceber um pouco mais sobre um tema, suficiente para que consigas discutir isso com alguém melhor que tu na matéria e aprender ainda mais, suficiente para conseguir juntar essa informação com tudo o que já sabes e criar qualquer coisa melhor. É nessa altura que o mundo faz um pouco mais de sentido.

Decidi dividir este post em 2 partes para não ficar um post gigante. Aqui segue a lista:

1. Thinking, Fast and Slow (Daniel Kahneman)

No que toca à Psicologia, este é o livro. Daniel Kanheman, vencedor do prémio nobel da economia, escreve esta bíblia do comportamento humano onde descreve que a mente tem dois sistema. O pensamento rápido (ou 1) é responsável pela maior parte do nosso comportamento. É emocional, rápido e intuitivo. Do outro lado temos o pensamento lento (ou 2) que caracteriza a lógica mais complexa e portanto é mais lento e deliberado nas decisões que toma.
Imagem retirada de www.algemeiner.com

Neste livro, este senhor doutor fala dos erros que existem em ambos os sistemas e desta forma explica porque acontecem os fenómenos de aversão à perda, excesso de confiança e porque razão as pessoas tomam más decisões. Estes erros cognitivos chamam-se de viés (ou cognitive bias).

Daniel Kahnman, com "Thinking, Fast and Slow", apresenta um dos melhores livros que podes ler. Depois disto, vais conseguir perceber melhor porque as pessoas tomam as decisões que tomam. Um dos melhores livros de 2014!

2. Stumbling on Happiness (Daniel Gilbert)

Dos livros mais engraçados que li este ano. Em "Stumbling on Happiness", o psicólogo Daniel Gilbert expõe ciência da melhor maneira possível, com o grande humor que o caracteriza. Neste livro também são abordados os "biases" da mente, focando sobre a felicidade humana. 

Daniel Gilbert argumenta que as pessoas são fracas a prever aquilo de que vão gostar no futuro e portanto tomam decisões que as vão deixar menos felizes. Consegue-se perceber muitas coisas sobre as decisões que tomamos ao ler este livro. Aconselho vivamente!

3. Freakonomics (Steven D. Levitt, Stephen J. Dubner)

Freakonomics é dos livros mais citados de economia...e é polémico! Escrito de uma maneira muito divertida explica o que os professores e os lutadores de sumo têm em comum. Explica também porque a legalização do aborto é a principal causa da diminuição de crime nos EUA (sim, isso mesmo que leste!) e muitas outras coisas. Este livro é um espéctaculo.

4. Outliers (Malcolm Gladwell)

Parecido com o Freakonomics. Aborda aquilo que nós chamamos de sucesso pessoal e dá-nos outros olhos para olharmos para casos de pessoas bem sucedidas. Será que foram extraordinários ou estavam no local certo à hora certa? Ou mesmo, será que nasceram na melhor altura possível? Livro muito bom!

5. The Art of Thinking Clearly (Malcolm Gladwell)

Malcolm Gladwell, que não é psicólogo, resume o trabalho feito por grandes nomes como Daniel Kahneman e traz-nos um livro que explica 100 erros cognitivos, de uma forma muito prática e com uma escrita bastante acessível.

6. The Maze Runner (James Dashner)

Saíndo do mundo da ciência, James Dasher traz-nos uma história em que um monte de rapazinhos se encontram presos num labirinto com monstros e tudo isso! Nenhum deles se lembra como foi lá parar e tentam todos os dias encontrar a solução desse puzzle, com consequencias muitas vezes fatais! 

Este é um livro parecido com outros como a série Hunger Games. Portanto se gostas desse tipo de livros também vais gostar deste. Ah, Maze Runner também tem uma adaptação em filme.

7. Sandkings e 8. The Pear-Shaped Men (George R.R. Martin)

Quem já gosta do senhor George R.R. Martin pela série "A Song of Ice and Fire" do qual faz parte "Game of Thrones", também vai gostar muito destes livros. Apesar de ter gostado mais do primeiro (formigas de estimação que se tornam violentas), o segundo transmitiu-me maiores emoções. É impressionante como este autor consegue passar um nojo (isso mesmo!) descontrolável por algumas personagens.

Estes livros, apesar de pequenos, fazem seguramente parte da lista de eleição para quem gosta da escrita de George R.R. Martin.

9. A Chave de Salomão (José Rodrigues dos Santos)

Este tinha de ser lido. Leio os livros do José Rodrigues dos Santos desde sempre (apenas falhei os dois primeiros). Acho que conseguem ensinar sempre qualquer coisa de novo, normalmente colocando informação sobre temas diversos como a cultura muçulmana (Fúria Divína) ou ciência (A Fórmula de Deus) num enrendo envolvendo o Professor Tomás Noronha. José Rodrigues dos Santos é o Dan Brown Tuga.

Apesar disso, sinto que este livro é mais do mesmo, ou secalhar não gostei tanto porque explora coisas que, pela minha formação, já sabia. José Rodrigues dos Santos explora a mecânica quântica e a verdadeira natureza do que chamamos de realidade. Aconselho!

10. As Intermitências da Morte (José Saramago)

O que aconteceria se as pessoas deixassem de morrer? Em "Intermitências da Morte", o nosso prémio nobel explora todos os problemas duma sociedade em que esta é a realidade. O livro está mesmo um espéctaculo e faz-me pensar porque não começei a ler Saramago mais cedo. O tipo era um génio!

11. Brave New World, Admirável Mundo Novo (Aldous Huxluy)

"Admirável Mundo Novo" é um clássico da literatura. Coloco aqui ao lado das "Intermitências da Morte" porque acho que ambos te fazem pensar em sociedades alternativas ou com realidades diferentes. Neste livro, Aldous Huxluy imagina uma sociedade em que as pessoas são produtos de tubos de ensaio, as castas estão implementadas ao máximo e as pessoas fazem aquilo que gostam porque foram feitas para gostar disso mesmo.

Um espectáculo de livro para finalizar a 1ª parte deste post. E tu? Que livros leste este ano que te deixaram inspirado?

Segue para a 2ª parte deste post aqui.

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