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Macaco Experimentar

Macaco Experimentar

Correr - sofrer ou prazer?

Gosto de corrida, mas nunca gostei de correr. Sempre me fascinou aqueles que correm meias-maratonas, nem falando daqueles que se submetem ao sacrifício da maratona completa - 42 quilómetros! Como é possível alguém ter força para correr essa distância e durante tanto tempo? Para quem sempre correu 5km de puro sofrimento, estive longe de gostar de correr.

A primeira tentativa (séria) no sentido de vir a gostar de correr, chegou em Outubro de 2015. Na altura completei um desafio para O Macaco sobre escrita, meditação e desporto durante 30 dias. Para além de surfar e jogar ténis, corri algumas vezes, e comecei a ganhar o "bichinho". Infelizmente, como expliquei num artigo anterior, deixei de correr logo que acabei esse desafio. Estive a poucos metros, ou talvez a alguns quilómetros, de ficar viciado.

Scott Jurek, ultra-maratonista, e Arnulfo Quimare, o campeão dos Tarahumara, a tribo dos corredores. Foto de irunwithit.com 
Antes de prosseguir com o artigo, queria deixar uma nota ao leitor. Ao longo deste artigo uso várias vezes a palavra "correr". Isso aborrece-me porque gosto de escrever e não quero utilizar várias vezes as mesmas palavras, mas não consigo evitar esta palavra num artigo como este. Que solução tenho eu? Usar a modernice do "running"? Eu sei que em inglês tudo parece mais sexy e espetacular, mas...

Comecei a correr há 3/4 meses no contexto doutro desafio. Ainda com muito esforço, fui aumentando gradualmente a distância nos meus treinos - se hoje chego ao primeiro poste, na próxima corrida chego ao segundo e na seguinte ao terceiro. Ou isso, ou melhorava o ritmo da corrida ou corria mais devagar mas durante mais tempo. E nisso a corrida tem um grande potential de vicio – conseguimos facilmente, com algumas apps como o RunKeeper, medir a nossa progressão. Podemos aumentar o nosso nível de várias maneiras e ver como evoluímos nos últimos treinos.

É claro que ao final de algumas semanas estava a correr mais. Mas o que mudou a minha corrida, e me fez gostar do desporto, foram dois livros: Born to Run, de Christopher Mcdougall e Eat and Run, de Scott Jurek. Nestes livros aprendi muito sobre corrida, como correr e, principalmente, como gostar deste desporto. Aconselho estes livros a todos a quem falo sobre corrida (qualquer pessoa que fale comigo durante mais de 5 minutos). Durante o resto do artigo vou apresentar o que aprendi nos últimos meses. 

E agora estás a pensar, "então mas este tipo começa a correr há quatro meses, lê dois livros, e acha que tem moral para dar dicas sobre corrida?". Tens razão, não tenho autoridade nesta matéria, mas nos últimos meses fiquei motivadíssimo para correr mais e melhor. Além disso, não escrevia n’O Macaco de Imitação há algum tempo, e preciso mesmo de começar a publicar regularmente para que não seja o primeiro e último leitor de artigos como este. Sinceridade acima de tudo!

Os Tarahumara

When you run on the earth and with the earth, you can run forever. —Provérbio Rarámuri

Em Born to Run, Christopher Mcdougall começa por falar de uma tribo de grandes corredores, os Tarahumara (ou Rarámuri). Estes "mexicanos" conseguem correr centenas de quilómetros por brincadeira, e há quem diga que o campeão lá da tribo correu, certa vez, 700km.

Esta última informação parece-me precipitada, mas a verdade é que nesta tribo toda a gente adora correr - desde crianças que o fazem e os seus jogos andam todos à volta disso.

Os Tarahumara. Fotografia de coppercanyonexplorer.com
Por algumas vezes, os Tarahumara foram levados a participar em algumas provas nos EUA (coisa que deixou de acontecer porque não só são muito tímidos mas perceberam que estavam a ser explorados). Correram sempre sem esforço aparente, ficando em primeiro lugar ou lá perto, e acabando a corrida com um sorriso no rosto (ao contrário dos seus companheiros de prova).

Os Tarahumara dispensam também qualquer sapato de corrida. Usam apenas um chinelo atado à volta do pé. Para os Tarahumara, isso é mais que suficiente.

No final do livro, Christopher Mcdougall fala-nos de uma corrida que organizou, e participou, na terra dos Tarahumara. Aí juntaram-se os melhores corredores da tribo e vários da elite dos estados unidos, incluindo o famoso Scott Jurek. Como dizem os americanos, "long story short", os Tarahumara venceram (Scott Jurek vingou-se no ano seguinte, numa repetição desta corrida).

Os Rarámuri mostram que não são precisas grandes tecnologias para correr. Correr liga-nos às nossas origens como espécie (o próximo tópico) e conecta-nos com a natureza. A correr podemos ser felizes, ou, ainda melhor, somos felizes porque corremos. A prova redize numa floresta perdida no México.

Os humanos são maratonistas por natureza

Nós, os humanos, somos os melhores corredores do planeta. Não em velocidade, claro, que ninguém duvide que a chita ou a gazela é mais rápida que o Usain Bolt, o humano mais rápido de sempre, mas em resistência somos campeões.

Ao que parece toda a nossa estrutura permite-nos correr largas distâncias durante várias horas. Os outros animais não o conseguem fazer, pois ao contrário de nós, que conseguímos libertar calor enquanto corremos, estes têm de parar para recuperar forças. Antes dos supermercados e dos sapatos de corrida, os humanos corriam atrás dos animais durante horas, mais lentamente que estes é certo, até que esses tivessem de parar, mortos de exaustão.

Este pedaço de informação, só por si, motivou-me para voltar a correr e pesquisar tudo e mais alguma coisa sobre esta "arte". Porque se fomos feitos para correr grandes distâncias, há que cumprir com esse destino.

Ultra-running

I had pushed myself to what I thought were the outer limits of my capabilities and then pushed farther—on a vegan diet. Eat and Run, Scott Jurek

Em Born to Run e Eat and Run, conheci uma série de corredores que não ficam satisfeitos com a típica meia-maratona, ou a esmagadora maratona. Não. Estes senhores e senhoras correm 50, 100, 200 ou até mais quilómetros de uma só vez.

Scott Jurek é um dos atletas mais fascinantes neste domínio. Ganhou várias provas de topo do mundo das ultras-maratonas (mais que uma vez) tais como as famosas Badwater 135, nos EAU e a Spartatlhon na Grécia (246km de uma só vez!). Scott tem ainda o recorde americano da maior distância percorrida em 24 horas, 265km! (Nunca usei tantos pontos de exclamação, mas este senhor merece!!!!).

Scott Jurek. Foto de twitter.com
Pessoas como o Scott são fascinantes, e inspiram-nos a quebrar os nossos limites e a fazer o nosso melhor, seja isso correr ou qualquer outra coisa. Depois de conhecer a sua história, não pude deixar de pensar, "se ele consegue, provavelmente também consigo". Bem, talvez não 265 km de uma só vez, nem mesmo 100, mas uma maratona...fácil!

Ultramarathons tend to attract obsessive people. To undertake a race of over 50 miles requires training that can occupy 3 hours a day, a routine that involves cramps and pain and loneliness. Eat and Run, Scott Jurek

Os melhores sapatos de corrida são...nenhuns

Ok. Esta foi a maior revelação das minhas leituras. Porque sempre pensei que os sapatos de corrida eram necessários para uma corrida de qualidade. Ao que parece não são.

O sapato de corrida moderno foi inventado apenas na década de 70. Aí introduziu-se um sapato com muito amortecimento, reforçando bastante a zona do calcanhar. Isso fez com que os corredores, principalmente aqueles com menos experiência, mudassem a sua forma de correr.

Everyone thinks they know how to run, but it’s really as nuanced as any other activity,” Eric told me. “Ask most people and they’ll say, ‘People just run the way they run.’ That’s ridiculous. Does everyone just swim the way they swim?” – Born to Run, Christopher Mcdougall

Há uma maneira certa de praticar running? (não resisti à tentação da palavra inglesa). Tal como existe técnica na natação ou no ténis, há maneiras bons e maus métodos de corrida. Esses sapatos fizeram com que os corredores, inconscientemente, tocassem primeiro com o calcanhar no solo.

E qual é o problema de tocar primeiro com o calcanhar no chão? Não é natural. Basta correr descalço (se somos maratonistas por natureza, somos maratonistas descalçados também) para perceber como dessa forma é doloroso. O "ataque" ao solo deve ser feito com o meio do pé ou até mais à frente, não confundindo com o toque no solo com as pontas dos pés que fazemos quando estamos em sprint, com ou sem sapatos.

Curiosamente, não existe nenhum estudo que prove que o uso de sapatos de corrida tradicionais traz vantagens à corrida. A nike e as outras marcas de sapatos não o negam. E felizmente tem aparecido nos últimos anos uma nova moda – os sapatos minimalistas. Estes têm um menor amortecimento, são mais leves e flexíveis e a diferença da espessura da sola entre o calcanhar e os dedos é menor.

Dito isto, devemos correr descalços? Porque não? Eu experimentei, na praia e na ciclovia, e a sensação é espetacular. Agora não digo para deixar de usar sapatos de corrida, mas é preciso pesquisar aqueles que respeitam a anatomia do pé e permitem o seu movimento natural.

O essencial é correr da maneira certa. Lembro-me perfeitamente quando, ainda com os mesmos sapatos de corrida, mudei o meu método de correr. Seguindo uma série de regras que vi nestes livros e através de pesquisas em tudo o que é blogs de corrida, comecei a dar mais passos, mais pequenos. Nestas condições, o pé tem naturalmente a tendência a chegar plano ao solo. Ganhamos mais energia na corrida (porque tocar no chão com o calcanhar trava o movimento), cansamo-nos menos e temos menos lesões (e isto sim está provado).

Não deixei de usar sapatos de corrida - até porque corro vários quilómetros na estrada e ciclovia e terra e calçada - mas comprei uns sapatos (modelo abaixo) que acredito serem mais amigos do pé e do corredor. 
Skechers Go Run 4, os meus novos ténis de corrida. Foto de skechers.com
Um pequeno aparte. Empregado da loja da Asics do Colombo, não sei o teu nome, mas se tiveres a ler isto, peço desculpa por não ter comprado os sapatos na tua loja. Gostei de falar contigo sobre meias-maratonas, alimentação e técnicas de corrida, mas não tinha ideia que uns sapatos de corrida podiam ser tão caros. Desculpa, fica para a maratona!

Método de corrida

Já escrevi um pouco sobre isto no tópico anterior. Mas preciso de o reforçar. A técnica, para começar, é muito simples: passos pequenos e contacto com o pé debaixo do corpo, ou um pouco mais à frente. Poderia dizer também para fazer o contacto com uma parte mais dianteira do pé, ao invés do calcanhar, mas nos primeiros treinos não há que ter essa preocupação. Isso surgirá naturalmente.

Mas há que começar devagar! Mesmo correndo há algum tempo, usamos alguns músculos mais intensamente, especialmente os gémeos, correndo desta forma "natural". Para evitar 4 dias de sofrimento é preciso ir com calma. Eu sei porque foi isso que me aconteceu aconteceu no último mês – carreguei nos quilómetros porque achei que já sabia tudo e que os outros é que eram fraquinhos.
Contacto errado e certo do pé com o solo.
Quanto ao aquecimento, li que devia ser feito antes e depois do treino, e que devemos beber alguma água antes de começar a correr. Quando comecei a fazer estas duas coisas muito simples, as dores musculares diminuíram substancialmente.

E o quão rápido devemos correr? O melhor que conseguirmos (o nível vai aumentando com o tempo) mas evitando aquele esforço que nos leva a desistir de correr e a arrumar os sapatos durante mais alguns meses. É difícil explicar este conceito, só experimentando, mas devemos correr a uma velocidade que nos permita falar com uma pessoa ao nosso lado, quase sem problema. Esta regra é ouro. Ao correr dessa forma, não ficamos cansados (ou melhor, ficamos, mas não pensamos sobre isso) até com distâncias superiores ao que fazíamos anteriormente. A sensação é espetacular. Claro que, treinando para uma prova, fazemos tipos de treinos diferentes, com ritmos distintos. Mas, para começar, devemos correr lentamente e ir elevando o número de quilómetros feitos em cada treino. 

Existem outras dicas de corrida, mas essas vamos aprendendo com o tempo. Uma vez começando a correr, e começando a gostar de o fazer, todos começamos a pesquisar mais técnicas e descobrimos coisas novas.

Correr – 4 meses depois

Runners speak of feeling absorbed into the universe, of seeing the story of life in a single weed on the side of the road. Eat and Run, Scott Jurek

Já diz o ditado, quem corre por gosto não cansa. É verdade. As minhas sessões de tortura a correr deram lugar a corridas meditativas – quando corro com tanto gosto, e com tão pouco esforço físico e mental, que me deixo absorver intensamente pela corrida. 

E é engraçado - se correr ao meu ritmo, tal como expliquei acima, nem muito rápido nem muito lento, fico com mais energia ao longo do treino. Entro em modo automático e consigo curtir mais, ver o que está à minha volta e pensar na vida.

The longer and farther I ran, the more I realized that what I was often chasing was a state of mind—a place where worries that seemed monumental melted away, where the beauty and timelessness of the universe, of the present moment, came into sharp focus. Eat and Run, Scott Jurek

Onde quiz chegar com este artigo? Primeiro, dar a conhecer algumas das curiosidades sobre corrida e mostrar que há por aí uns "malucos" que correm por gosto durante várias centenas de quilómetros. Pretendi mostrar que correr pode ser tão eficaz para libertação de stress como a meditação (uma boa desculpa para quem, como eu, já tentou meditar por várias vezes sem sucesso). No geral, tentei mostrar que correr, além de ser saudável, pode ser uma fonte de felicidade (desde que não corras 10km descalço no primeiro treino).

Deste lado, acabei de me inscrever na meia-maratona de Lisboa, no dia 2 de Outubro, por isso estou a poucos passos (ou 21 quilómetros) de me tornar um corredor oficial, com medalha (de participação) e tudo. Mais tarde escreverei sobre essa experiência, a menos que desista ou parta um pé.

PS: Faltam-me referências neste artigo. Li uma série de blogs sobre corrida de onde tirei alguma informação que aparece neste post. Infelizmente já não me lembro por onde andei.

Conhece a página do Facebook d'O Macaco de Imitação.

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"Corpo e Mente" - Desafio de 30 dias, parte 2/2

Há um mês atrás decidi começar um novo desafio para O Macaco de Imitação. Como disse na 1ª parte deste artigo,já tinha experimentado outros projetos e estava na altura de começarqualquer coisa relacionada com a saúde física e mental.

O plano era simples – durante 30 dias fazer exercíciofísico, meditação e escrita, todos os dias. Mas porquê?  Para quê tanto trabalho? Tal como quem soube ao Everest o faz porque a montanha está lá, também eu, num nível (muito) mais pequeno, queria fazer este desafio porque ele podia ser feito. E também porque o desafio estava definido, erasaudável, e nesses 30 dias ia aprender muitas coisas.

Tenho feito, n'O Macaco de Imitação, estes desafios para me testar e perceber o quegosto e não gosto de fazer. Aprendo maneiras de me organizar e de avançar nos meus objetivos. E aquilo que aprendo durante os desafios serve para outras áreas da vida.


Zen and the Art of Happiness, de Chris Prentiss. O melhor livro que li este mês e, possivelmente, este ano. Imagem retirada de goodreads.com.

Exercício Físico

Defini que devia fazer, pelo menos, 45 minutos de exercíciopor dia, e não tinha de ser sempre o mesmo desporto. Aliás, quanto maior a diversidade, melhor. Estreei o meu primeiro dia com uma surfada no meu "spot" favorito no Baleal. No total surfei 13 vezes e,no último dia deste desafio, surfei na mesma praia que no primeiro (e só percebi isso depois).Nunca surfei tantas vezes num mês. Às vezes não entro no mar porque não está "perfeito" e, durante este mês, fui mais paciente e dei maisoportunidades ao mar. Além de surfar mais vezes, surfei grandes ondas.

O Surf é o meu desporto de eleição, mas nãose pode surfar todos os dias porque nem sempre está bom (ou razoável sequer).Então, nos dias em que não surfei, virei-me para a corrida. Corri 9 vezesdurante estes 30 dias, num total de 65 km. No princípio não corria mais que 20minutos sem ter de parar, e fazia pouco mais de 5 km no total de corrida+caminhada. Para o fim, jácorria 10km sem parar uma única vez e o meu ritmo tinha aumentado bastantedesde o princípio. O truque foi tentar evoluir todos os dias - sejapor correr mais tempo, ou mais rápido, ou uma maior distância. Foi também monitorizar as corridas que fazia com a App RunKeeper, porque assim conseguiaanalisar bem a minha evolução e ficava motivado. Além disso, não me posso esquecerdas companhias de corrida que, muitas vezes, me motivaram a correr mais.

Surf e corridas à parte, experimentei uma aula deyoga (estava todo torto, mas foi uma aula interessante) e fiz dois treinos de musculação (um deles correu bem porque tinha companhia, no outro fiz sozinho e não sei bem o que andei afazer).

Meditação

A meditação seria, supostamente, a parte mais fácil destedesafio. Seria só estar sentado, 10 minutos, sem pensar em nada. Nuncapensei que isso viesse a ser tão difícil. Já tinha tentado ganhar o hábito dameditação várias vezes, e até já tinha escrito sobre isso n’O Macaco de Imitação, mas nunca o consegui fazer por muito tempo. Nestemês estava determinado em ganhar o hábito de uma vez por todas.

Nos primeiros 15 dias experimentei uma sériede meditações que não funcionaram. Experimentei meditar em várias alturas dodia, sentado, deitado e a ouvir música. Aprendi que meditar à noite não resulta - essa é receita certa para adormecer. Agora sei que a melhor altura para meditar é sempre depois de acordar e fazê-lo sentado no chão, sem distrações. Ao ser a primeira coisa do dia,estamos mais atentos e a meditação trará mais efeitos positivos. E é isso quevou fazer daqui em diante.

O mais difícil da meditação é controlar a corrente de pensamentos.É muito difícil, no início (e ainda agora), não pensar em nada. É precisotreino para nos sentarmos como deve de ser, de costas direitas, e colocar todaa concentração na respiração. A mente vagueia para os "problemas" do dia-a-dia,ou para o passado, ou para o futuro, ou para aquilo que vamos fazer já deseguida. Nessas alturas - aprendi ao ler uma série de blogs e livros - omelhor que pudemos fazer é consciencializar que esses pensamentos estão presentes, não "conversar" com eles, e trazer de novo a concentração para a respiração.

A meditação está em todas as listas de coisas que se devemfazer para ser feliz. Isto porque a meditação ajuda-nos a relaxar e a focar aatenção naquilo que fazemos no dia-a-dia. Ainda não sou "bom" a fazer isto, e tenho um longo caminho a percorrer. Mas fico mais descansado ao saberque grandes "mestres" nesta arte demoraram também algum tempo para conseguirvazar a mente de pensamentos e sentir os efeitos positivos da meditação. Depois de30 dias já tenho o hábito bem definido e agora só preciso de continuar.

Escrita livre

A primeira vez que ouvi falar em escrita livre foi neste site.Esta ideia surgiu do livro The Artist's Way, onde o autor sugere a escrita de 3 páginasdiárias pela manhã. Este processo, tal como a meditação, ajuda a vazar a mentede pensamentos desgastantes, porque acabamos por escrevê-los nestaspáginas. É também importante que a escrita seja feita sem pensar demasiado, sem correções e sem julgamento. Nãohá coisas que devem ou não ser escritas. Já tinha experimentado a escrita livre nestesite e decidi inclui-lo neste desafio "corpo e mente". Tal como é feito nosite, decidi escrever 750 palavras diárias e, nestes 30 dias, escrevi um totalde 26840 palavras (+- 40 páginas!).

Gostei muito destaparte do desafio. Aprendi a gostar mais de escrever e, se no início era difícilescrever as 750 palavras, houve momentos em que escrevi 1000 palavras antes de pararpara pensar no que estava a ser escrito. Apesar disso, penso que a meditaçãotem mais efeitos positivos a médio-longo prazo e por isso não vou continuar afazer, todos os dias, a escrita livre. No entanto, vou começar a escrever mais,disso não hajam dúvidas.

As dificuldades

Mas nem tudo foi fácil. Falhei alguns momentos porque estavadoente ou porque estava em festa ou porque estava a morrer de sono. Como aquiescrevi, falhei no dia 12 (em todas as frente) porque estava nafesta das latas em Coimbra. No total, falhei 4 dias de exercício físico, e 2 demeditação e escrita livre. Em 30 dias, foram poucos "maus" momentos.Noutra altura podia ter desistido porque já não ia fazer um mês "perfeito". Masisso seria uma estupidez, isso seria uma derrota e portanto não desisti. Nesses diasaprendi porque tinha falhado e com isso evitei falhar mais vezes.Alterei as alturas do dia em que meditava e escrevia para garantir que não as falhava porque estava com sono. Para o final, escrever e meditar eram as primeiras coisas que fazia cada dia.

Houve outros momentos que cumprir o exercício físico foimuito difícil. Há sempre o dia em que está a chover, ou que estamos doridos, ounão temos companhia ou, simplesmente, não nos apetece. Esses são os diasque nos põem à prova. Em qualquer objetivo na vida, em qualquer desafio,existem esses dias. Nessas alturas temos de arranjar força para cumprir oprometido, porque de outra forma vamos falhar, mais uma vez, nesse projeto.Aprendi que se passarmos essa barreira, fica tudo mais fácil daí em diante,e por isso vale a pena o esforço adicional.

Os livros queacompanharam o desafio

Nenhum bom desafio estaria completo sem uns bons livros. Comecei então por ler TheMiracle of Mindfulness, de Thích Nhất Hạnh. Nele aprendi a importância de Mindfulness - viver no presente. É sobre estar concentradonaquilo que estamos a fazer no momento. Como exemplo, o autor escreve que quando estamos a lavar a loiça,devemos estar só a lavar a loiça, e não a pensar nas coisas que temos para fazerem seguida. Se temos por hábito estar perdidos em pensamentos sobre o passadoou o futuro, perdemos a vida verdadeira, que se encontra no presente, naquiloque estamos a fazer no momento.

De seguida li o livro The Four Hour Body de Tim Ferriss. Éum livro interessante, mas deve ser lido com um objetivo claro em mente, sejaperder peso, ganhar força ou outro. Mas com uma passagem rápidopelo livro consegui perceber o seu potencial.

Por último, li o Zen and the Art of Happiness, de Chris Prentiss. Este foi um dos melhores livros que li este ano. Chris Prentissensina-nos que não há eventos bons ou maus, mas que eles assim se tornam pelamaneira como nós os interpretamos. Ele diz-nos para pensar que, qualquer coisaque nos aconteça, é a melhor coisa que nos podia ter acontecido. Estepensamento, tão simples, tem o poder de tornar a vida muito mais feliz.Aconselho vivamente a leitura deste livro.

O próximo desafio

Ainda não sei o que vou escrever a seguir para O Macaco deImitação. Estou agora a ler um livro sobre o que podemos aprender com os grandes filósofos da antiguidade e quero, num próximo artigo, resumir uns 4 ou 5livros sobre boas filosofias de vida. Vou também escrever sobre um método que tenho usado para aumentar a minha produtividade nas últimassemanas. E também quero começar um novo desafio e aprender qualquer coisa nova, seja investir 20 horas em qualquer coisa, ouuma semana, ou 30 dias.

Estou orgulhoso daquilo que consegui fazer nestedesafio. Dos 90 momentos de exercício, meditação e escrita, apenas falhei 8.Aprendi a organizar-me melhor, a lutar contra a falta de vontade, e aprendi boas filosofias de vida com os livros que li. Fiquei em melhor forma, tentei relaxar com a meditação e gostei muito de escrever as 44 páginas. Foi um mês saudável, tanto para ocorpo, como para a mente. Sinto que agora estou mais preparado para começar novos desafios.

"Corpo e Mente" - Desafio de 30 dias, parte 1/2

Há 15 dias comecei um novo desafio. Depois de aprender piano em 20 horas e ter ficado uma semana sem internet, queria agora fazer um desafio mensal. Tinha muitas opções. Tenho na minha lista aprender a cozinhar melhor, aprender a fazer cerveja, aprender a desenhar, entre outros. Mas eu precisava de outras coisas mais importantes. Acabadas as férias e depois de um mês a viajar pela Europa, precisava de ficar em forma.

O desafio

Pensei primeiro em 30 dias de exercício físico, mas esse desafio logo escalou para um desafio "Corpo e Mente" – 30 dias de exercício físico (pelo menos 45 minutos/dia), meditação (10 min./dia), e escrita livre (750 palavras/dia).
Uma boa imagem para este desafio "Corpo e Mente". Imagem retirada de http://www.continuumfitness.net/ 
Nunca pensei que fosse um desafio fácil de cumprir e, por isso, fiz questão de o anunciar n’O Macaco de Imitação. Com isso ganhei a pressão que precisava e agora, se falhasse, iria sentir-me muito pior.

Além do desafio, queria também aprender mais sobre meditação e exercício físico. Para já, começaria por ler os livros The Miracle of Mindfulness, de Thích Nhất Hạnh The Four Hour Body, de Tim Ferriss.

The Miracle of Mindfulness, de Thích Nhất Hạnh e The Four Hour Body, de Tim Ferriss.

Os meus dias

Nas últimas duas semanas tenho tido dias muito fora do habitual. Tentei, no princípio, meditar logo depois do pequeno almoço, escrever ao final da noite e fazer exercício quando fosse mais indicado (dependente do desporto e companhia). Muitas vezes, falhei a meditação da manhã e dei por mim a meditar ao final da noite. E descobri que isso não era uma boa opção. Durante a meditação, precisamos de estar tranquilos, sem sono, o que não acontece quando nos estamos a preparar para dormir. É também difícil escrever à noite pelas mesmas razões. Depois de 15 dias já sei qual é a rotina certa: meditar, sempre, de manhã, pouco depois de acordar; escrever logo a seguir e fazer desporto ao final da tarde (a menos que hajam boas ondas durante o dia :D).

Meditação

A meditação e a escrita livre têm objetivos muito semelhantes - servem para acalmar a mente. Faço-as porque preciso de ganhar concentração nas tarefas do dia-a-dia. E, pensando que iria ser fácil meditar - aliás, é só estar sentando e não pensar em nada – acabou por ser a parte mais difícil do meu desafio. Parece que quando não queremos pensaar em nada, mil pensamentos surgem em simultâneo. É difícil estar 1 minuto sem pensar em todos esses "problemas". E, por ser difícil, sei agora que é a parte mais importante deste desafio.

Já tinha feito um artigo sobre meditação n'O Macaco de Imitação. Ainda não estou a meditar como este sujeito, e muito falta.

Escrita livre

Ao contrário da meditação, este é um processo ativo (podiamos dizer que a meditação também o é, mas não compliquemos). O objetivo é escrever 750 palavras baseadas nos pensamentos que nos passam pela cabeça. Apenas escrever, sem correções, sem pensar duas vezes sobre essas palavras, sem julgamento. Várias pessoas têm feito isto para tirar os "problemas" das suas cabeças. Também eu tenho vindo a gostar muito desta parte do desafio. Acabo por descarreguar tudo aquilo que pensava para um papel e lá fica preso. 

Com isto também aumentei o meu gosto por escrever e, se no início 750 palavras era um tormento, agora escrevo-as num instante e chego a passar muitas vezes a barreira das 750. Até agora escrevi 11839 palavras (mais ou menos 18 páginas).

Exercício físico

O exercício físico é a parte que ocupa mais tempo deste desafio. Se "despacho" a meditação e a escrita livre em 20 minutos, o exercício pode levar 50m ou 1h30m. Como escrevi no Facebook d’O Macaco de Imitação , tenho tentado fazer desportos diferentes. Até agora, surfei 6 vezes (sempre em praias diferentes, seguindo as melhores condições em cada spot), corri outras 6 (39 km), fiz 1 treino de musculação e experimentei 1 aula de Yoga. Feitas as contas, fiz 14 treinos. Mas devia ter feito 15. Já escrevo sobre isso.

Um dos spots das minhas sessões de Surf, no Baleal.
A minha perspectiva perante o exercício tem vindo a mudar. É sempre fácil fazer desporto quando tenho companhia, e tive muitas vezes. Mas há sempre aquele dia que ninguém nos acompanha e temos de aprender que, para cumprir os nossos objetivos, a força tem de vir de dentro. Por isso acabei por surfar mais vezes do que o habitual, e corri sozinho quando foi preciso. Houve dias que tive de correr à chuva ou durante a noite só para cumprir este desafio. E se no princípio era difícil levantar o rabo do sofá para ir treinar, agora faço-o com gosto. Correr revelou-se um desporto muito fixe. O truque é fazer, a cada treino um pouco melhor – tentar correr mais tempo, chegar mais longe, ou aumentar o ritmo da passada. Ao usar a App RunKeeper, consigo ver quantos km e minutos faço por treino, e isso motiva-me a continuar porque posso medir a progressão dos meus treinos.

Vista da ciclovia onde faço as minhas corridas.

O dia 12 do desafio

No dia 12 deste desafio não meditei, não escrevi, nem fiz exercício. Senti-me mal por isso, mas não consegui cumprir o desafio. Nesse fim-de-semana fui a Coimbra à festa das Latas. No sábado, com a "correria" da festa, não fiz aquilo que queria fazer. Sabia que isto podia vir a acontecer. Também sabia que, se acontecesse, não era razão para desistir do desafio. Tentaria fazer 30 dias seguidos, mas, se por alguma razão falhasse 1 dia, não iria desistir. E foi isso que aconteceu. 

É uma metáfora para a vida e para outros objetivos. Nem tudo corre perfeito, e muitas vezes desistimos de uma dieta ou de uma objetivo porque falhamos uma parte mínima. Devemos aprender isso não nos leva a lado nenhum. Se for preciso "falhar" 1 vez, não faz mal, é preciso é continuar. Só assim podemos ir melhorando. 

Apesar disso, o fim-de-semana em Coimbra foi brutal e vi Richie Campbell. Foi uma boa desculpa para falhar, por 1 dia, este desafio. No domingo, quando voltei, e ainda um bocado "atordoado", decidi que não ia falhar o desafio outra vez. Cheguei a casa às 21 e fui correr - foi a melhor corrida até agora.

O dia 12 do desafio, em Coimbra, patrocinado por Richie Campbell.

Nota final

E 15 dias passaram desde que comecei este desafio (na verdade, passaram 17, este post vem atrasado). Continuarei a cumprir com o exercício, a meditação e a escrita livre e, espero, aprender mais umas quantas coisas até ao final dos 30 dias. Até daqui a 2 semanas.

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