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Macaco Experimentar

Macaco Experimentar

Do que tens mais medo? Cavalos ou tubarões?

A psicologia é um dos meus temas favoritos! Como já aqui tinha falado, há livros incríveis neste tópico, que expõem os erros cognitivos dos humanos. Porque pensamos de determinada maneira? Porque acreditamos em coisas estranhas? Porque escolhemos fazer uma coisa que no final não nos agradou como esperávamos? É incrível a quantidade de erros lógicos que cometemos todos os dias. Mas espera, tudo isto tem de ter significado biológico, certo? Evoluímos desta maneira, portanto deve haver alguma vantagem evolutiva em pensar como pensamos. Acontece que o nosso cérebro não evolui talvez há 100.000 anos e o mundo que construímos desde então é irreconhecível.

Por exemplo, fazia sentido, há 100.000 anos atrás, um humano assustar-se com muita facilidade ao ver qualquer coisa a passar na sua visão periférica. Podia ser um tigre! Nós somos descendentes de pessoas que se assustavam e por isso começavam a correr antes de serem engolidos, certo? Então evoluímos com esta condição, por isso é que nos assustamos facilmente, às vezes até com o cão que passa ao pé da porta. Faz isto sentido na sociedade de hoje em dia? Algum, mas não tanto como há 100.000 anos atrás! Há centenas destes exemplos, se quiseres ler um pouco mais sobre isto vai aqui.

Hoje quero-te falar sobre um cognitive bias, ou viés cognitivo, ou seja, sobre um erro na nossa lógica de pensamento. Em particular trago-te um chamado "availability heuristic" ou "heurística da disponibilidade". Dito isso, tens mais medo de cavalos ou de tubarões? A pergunta é estranha! É claro que os tubarões são mais perigosos, portanto devo ter mais medo de tubarões, certo?


Não sei se tenho mais medo de cavalos ou tubarões, mas se este existisse, ganhava fácil! Imagem retirada daqui.
A heurística da disponibilidade descreve a maneira como nós avaliamos uma coisa como mais ou menos provável de acontecer, pela facilidade como nos recordamos dela. Se nos for perguntado para estimar a probabilidade dos cães serem castanhos ou pretos, provavelmente vamos estimar essa probabilidade como muito alta. Lembro-me facilmente da experiência que estes também podem ter um pelo mais claro, mas sei perfeitamente que pelo menos neste planeta não vou encontrar um cão azul ou verde.

Este tipo de lógica faz sentido, mas apenas quando temos uma fonte de informação imparcial, quando temos muita experiência ou, no limite, quando temos acesso a toda a informação disponível. Sabemos que os cães são castanhos, pretos ou com cores semelhantes porque temos a experiência de ver cães todos os dias. Agora uma questão (que podes encontrar no vídeo partilhado): ocorrem mais mortes nos EUA por causa de tubarões ou cavalos? Neste momentos estás à procura da resposta na tua memória e numa fracção de segundo concluíste, muito provavelmente, que os tubarões são responsáveis por mais mortes. Se o pensaste, pensaste erradamente, pois a morte por cavalos ocorre muito mais frequentemente que a morte por ataque de tubarões. A questão aqui é que quando tentas procurar na memória (até inconscientemente) é mais fácil encontrar memórias de notícias sobre ataques de tubarões do que acidentes ou ataques por cavalos e portanto a tua mente pensa que as primeiras ocorrem mais frequentemente.


Os países podem ser induzidos a investir muito dinheiro no combate ao terrorismo e pouco no combate ao cancro, embora este último mate MUITO mais pessoas. Nem é comparável. O que acontece é que há uma grande cobertura jornalística ao terrorismo e um efeito devastador associado ao mesmo, que nos leva a julgar, erradamente, que estes são bem mais prováveis e matam mais pessoas do que a realidade e portanto, devemos investir mais dinheiro a combater o terrorismo.

Provavelmente também tens a ideia de que andar de avião é mais perigoso que andar de carro, apesar das estatísticas apontarem que acidentes rodoviários são mais prováveis. Até podes saber isto, mas aposto que tens muito mais medo de andar de avião que de carro. Isto acontece porque há um grande foco jornalístico sobre acidentes de avião (o ano passado foi forte!), o que nos faz pensar que estes são mais prováveis.

É também devido à heurística da disponibilidade que, num trabalho de grupo, cada elemento pensa que trabalhou mais do que os seus colegas para o trabalho final. É mais fácil alguém se lembrar de momentos em que trabalhou e mais difícil tirar da memória momentos em que outros fizeram tarefas importantes, porque não estamos sempre com essas pessoas, ou porque estamos mais atentos ao nosso trabalho.

Ter conhecimento sobre os erros cognitivos e em particular sobre a heurística da disponibilidade ajuda bastante no processo de tomada de decisão e até a trabalhar melhor em equipa, pois começamos a dar mais valor ao trabalho dos outros colegas. 

Se quiseres explorar mais sobre este tema, recomendo vivamente o livro do prémio nobel da economia, Daniel Kahneman, "Thinking Fast and Slow! 

Boa semana!

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