Poderia reduzir toda estaexperiência a uma só palavra. Palavra tão portuguesa, mas do jeito santomense:sodade. No entanto, espero conseguir transmitir-vos um pouco mais do queisso. Isto que se torna um grande desafio - expressar por palavras o que sentino curto espaço de tempo mais rico de toda a minha vida.
Tudo começou em Portugal. Inscrevi-me numaONG, a WACT (We Are Changing Together), que se diferencia pelo facto de daroportunidade aos seus formandos de criar o seu próprio projecto. Foi assim quesurgiu o Boogie WACT, após um levantamento de problemas santomenses, aliadoàquilo que mais gosto de fazer, Bodyboard.
O Boogie WACT surge de forma a trabalharvalores educativos com crianças de forma divertida através do desporto, nestecaso, do Bodyboard. Este é um ótimo meio para desenvolver valores ecompetências como responsabilidade, respeito, resiliência, desafio e cooperação.
Ainda em Portugal foi feita uma campanha derecolha de material, conseguindo angariar todo o material da modalidadenecessário à prática do projecto. Desde já aproveito para agradecer a todas aspessoas e marcas que contribuíram com pranchas, pés de pato, shop’s e palavrasque me fizeram ter confiança e acreditar realmente nisto.
Mas tudo começou verdadeiramente em São Tomé. Logono primeiro dia fui confrontada com aquilo que a raposa do principezinho diz “Oessencial é invisível aos olhos”. É em São Tomé que, para mim, esta frase ganhaum verdadeiro sentido.
Os primeiros dias passados em São Tomé, devisita às roças perto do local onde morámos, Guadalupe, são um misto de emoçõese sentimentos meio inexplicável. Olhei à volta e via uma pobreza com a qualnunca me tinha deparado. Vejo porcos e galinhas a deambularem pelas ruas nomeio das pessoas. Vejo crianças curiosas a correrem descalças e rotas, em totalliberdade pelas ruas imundas e cheias de pó, a tocarem-me como se fosse umaextraterrestre mas, no minuto seguinte, a lutarem para me darem a mão. É ummisto de cheiro a peixe podre com aquele cheiro típico santomense, com lixo.
E o modo de vida daquelas pessoas…tudo isto mefez entrar em choque comigo mesma, porque ali não havia aquelas coisas que omundo diz que são importantes. Mas ao mesmo tempo, via sorrisos brancosradiantes em rostos contrastantes de ébano, e força e profundidade de carácternos olhos das pessoas. Ouvia vozesfelizes, risos cantantes, e assim percebi que ali havia tudo o que erarealmente importante - paz e uma alegria inquestionáveis.
E eu, eu também o senti! E neste momento, nãome consigo imaginar mais feliz do que fui em São Tomé. Passado o choque, foiinstantâneo o amor que senti por aquele lugar e por aquelas pessoas.
Após este choque cultural (e interior, paradizer a verdade), estava na hora de colocar mãos à obra e começar a pensar noprojecto. Deparei-me com um problema. O projeto que tinha desenhado para serimplementado em Santana, fez-me viajar uns km’s mais a sul, para RibeiraAfonso, por me deparar com uma comunidade mais carenciada e que ofereciamelhores condições de segurança para a prática do Bodyboard.
Ainda assim, a sorte estava do meu lado. Noprimeiro dia de visita à praia das Sete Ondas deparo-me com um ambientefascinante: vegetação que abraçava toda a praia, boas ondas, e a sorte deencontrar as pessoas certas que acabaram por me acompanhar sempre. Conheci trêsjovens escuteiros mais ou menos da minha idade, e uma senhora mais velha. Todosmuito responsáveis, e figuras de valor perante as crianças da comunidade, comouma espécie de irmãos e mãe, não só para as crianças, mas também para mim. Foram eles que me receberam e acolheram, e fizeram-no de forma tãoreconfortante que neste momento o Boogie WACT está lá, mesmo eu estando cá. E omesmo acontece com o meu coração. O que me assustou mais nesta mudança para uma comunidade mais distante da cidade, era o tempo que iria passar em viagens de hiace. Hiace, que aventura! Uma carrinha de nove lugares, onde o habitual é andarem 15 pessoas (no mínimo), e que me fez começar a perceber um bocadinho daquela língua melodiosa. Oh, quantos pedidos de casamento recebi eu naquele ambiente (romântico?).
Com o sovaco de uma senhora a roçar-me bem perto do nariz, com uma perna minha entre as pernas de outra senhora, com duas crianças a pingarem ranho do nariz ao meu colo e com um alguidar de peixe minado de moscas algures perto de mim. Eu só lhe sentia o cheiro, por ter a visibilidade reduzida pelo excesso de população que ali se encontrava naquele cubículo sobre rodas, Kizomba em volume máximo, e claro, todos aos berros. Uma condução exímia, não pela positiva, mas os buracos na estrada não ajudavam, fazendo com que 70 km diários fossem feitos aos zigue-zagues e acabassem por parecer intermináveis. Mas ao fim de dois dias tudo isto já me parecia normal, já todos me conheciam como a “brranca” e, sem me aperceber, quase que já agia como eles. Por pouco não comecei a falar crioulo também.
Rebobinando. No dia de apresentação doprojecto a Ribeira Afonso, já com a minha equipa de monitores formada,apareceram-me cerca de 150 crianças à minha frente a gritaram “eu quero correrprrancha, me escolhe”. O que é que eu faço à minha vida?
Não imaginam o desespero que é ter de escolherapenas 50 destes miúdos. Queria que todos ficassem, mas não podia comprometer asegurança de nenhum deles. E assim foi, 50 filhos que tinha ganho naquelemomento, à minha frente, ansiosos por aprender o que eu tinha para lhes dar,mas ao mesmo tempo felizes por saberem que eu também queria aprender algo comeles.
O primeiro dia passado na praia com ascrianças foi dedicado a explicações do projecto, regras e responsabilidades. Achavaque seria um desafio, por ir já de sobreaviso de Portugal: “Olha que eles nãocumprem horários”, “Olha que eles não aparecem todos os dias”. Pois é, nestemomento eu assemelho-me a um pavão, porque nunca tive de combater essesproblemas, uma vez que os miúdos estavam tão excitados com o Bodyboard quechegavam às aulas antes de mim, e raramente falhavam. Depois foi a vez dosmiúdos me ensinarem alguma coisa, como por exemplo, trepar a um coqueiro.Diga-se de passagem, tentativas falhadas, mas risota na certa. Bolas, souum falhanço!
Parece que tenho este momento gravado namemória. Não a tentativa de subir a um coqueiro, que é para esquecer, mas o deestarmos todos sentados a comer cocos, caroço e cana-de-açucar, e de todos mechamarem para ver as suas habilidades “Frrancisca, Frrancisca, vê”. De todosrirmos muito, rirmos da parte mais intima do nosso ser, rirmos com a alma, e deeu pensar: já não vejo sujidade, já não vejo doenças, vejo apenas criançasperdidas de amor e eu faminta por partilhar isto com elas. Era esta aminha família nas próximas semanas.
A primeira aula que dei foi extasiante - colocaraqueles miúdos em cima de uma prancha, a cumprir objetivos e responsabilidades,a refletirem sobre as suas aprendizagens, e a conseguirem fazê-lo. Isso fez demim a pessoa mais feliz do mundo. Comecei a pensar “isto é real, eu estou aquie estou a conseguir. E ver o sorriso deles quando deslizavam uma onda, fazia-mesorrir ainda mais.
Passado uma semana, já todos cortavam a onda.Passado duas semanas alguns já queriam começar a fazer “girro” ou, melhordizendo, 360. Com o passar do tempo, notei uma melhoria acentuada no discursoreflexivo deles, no feedback que davam aos colegas e na cooperação inter-grupo.E é aqui que me cai a ficha, “isto realmente está a resultar, os miúdos estão acrescer graças ao Bodyboard”. E também sentia profundamente que estava acrescer graças a eles.
Após a aula de cada dia não conseguia voltar logopara casa. Todos me queriam mostrar algo, todos me queriam ensinar algo. Eforam assim passadas as minhas tardes depois das aulas. A jogar ao jogo dalata, a (tentar) pescar polvo, a jogar à bola com uma bola de pano e sim, tãodescalça quanto eles. Também foram passadas a treinar a subidas aos coqueiros,a fazer acrobacias na praia, a ajudá-los a buscar água para as suas famílias, alavar as suas roupas e a passear para as roças mais próximas de Ribeira Afonso.
Os últimos dois dias foram dedicados a umcampeonato Boogie WACT. Mais uma experiência para a qual não encontro palavraspara descrever. O que senti quando os vi competir? Primeiro um orgulhoimenso por os ver a cortar ondas, muitos deles a tentar e alguns até aconseguir fazer 360 (versão santola). Mas quando alguém o fazia,inevitavelmente eu fazia uma festa como se tivesse ganho a lotaria.
Senti também que eles sentiam exatamente omesmo que eu sentia quando era eu a competir. Cada um ia para o seu cantoaquecer e concentrar-se, com nervos à flor da pele. E quando saíam e sabiam quetinham perdido o heat, os olhos deles brilhavam de lágrimas, e encostavam-se aum canto a refletir sobre o que tinha corrido mal. Até aqui, objectivocumprido. Mais uma aprendizagem - lidar com a derrota. Mas ainda era difícilpara eles verem o lado positivo disto.
Algo de que eu nunca me vou esquecer, paraalém de tudo isto, é do caminho para a praia. 25 crianças, 4 monitores e eu,mais uns curiosos que vinham sempre ver as aulas. Cada aluno com a sua pranchana cabeça, cantávamos e dançávamos o caminho todo, com aquele sorrisocontrastante deles e de forma a combater a ânsia de chegar à praia eatirarem-se à água para surfar.
“1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 nós somos Biguie Uequi,7, 6, 5, 4, 3, 2, 1 Biguie Uequi há só um. A Frrancisca apareceu,Ribeirr’Afonso agrradeceu. Eu só quero aprrender, o Biguie Uequi faz crrescer,o Biguie Uequi faz crrescer”.
Saio de São Tomé com a certeza de queentreguei o meu coração a um lugar onde nunca tinha estado. Todas as palavrasse tornam pequenas para transmitir uma fração que seja desta experiência. Oh,o que eu aprendi com estes corações radiantes. Hoje, inspiro fundo paraque o ar me relembre aquilo que só consigo descrever como “São Tomé”.
Em Julho de 2013, quando fui para São Tomé,achava que ia mudar aquelas crianças. E acho que mudei! Mas regresso com acerteza de que elas me mudaram a mim. Trago comigo também a convicçãoinabalável de que as pessoas são o que mais importa. Estou determinada de quenão sou eu que vou mudar o mundo. Mas contento-me com esta pequena mudança. Pequenasmudanças que se vão acumulando.
O Macaco de Imitação é sobre aprender coisas novas e sobre aceitar (e concluir) novos desafios. Já partilhei aqui as minhas experiências sobre aprender piano em 20 horas, aprender malabarismo, estar uma semana (168 horas) sem internet e fazer exercício, meditar e escrever durante 30 dias. Em fevereiro tive outra ideia – ganhar 6 novos hábitos nos próximos 6 meses. Inspirado pela falta de resultados das resoluções de novo ano, decidi tentar ganhar hábitos mais lentamente, um de cada vez, para garantir que teria sucesso e que seriam hábitos de longa duração. Já estou no 4º hábito deste desafio. Há ainda hábitos mais importantes que outros - aqueles que facilitam o ganho de outros hábitos. Por exemplo, se eu faço exercício regularmente, é mais fácil começar a comer melhor. Esses hábitos-chave devem ser os primeiros a trabalhar. Fazer as coisas mais lentamente e focar em hábitos-chave foram as "teorias" que eu inclui neste grande desafio.
Ciclo do hábito: deixa, rotina e recompensa. Imagem retirada do livro A Força do Hábito, de Charles Duhigg. Sugiro a leitura de umartigo passado sobre como ganhar ou quebrar um hábito.
Hábito 1 - Concentração
No primeiro mês dediquei-me a aumentar a concentração. Estive um mês a "aprender" a depender menos das redes sociais, emails e notícias. Além disso eliminei quase por completo um hábito muito estúpido que é partilhado pelo povo - mexer continuamente no telemóvel enquanto estamos com amigos no café. No final do mês sentia-me mais concentrado no trabalho, no lazer, ou em qualquer coisa que estivesse a fazer. E por depender menos de gostos, comentários, visualizações e afins, consegui diminuir a ansiedade que sentia há algum tempo. Foi um hábito importante para conseguir fazer mais em menos tempo e com menos stress. Ajudou-me bastante no ganho dos hábitos seguintes.
Esta é a minha ideia da malta que não se desconcentra com redes sociais, notícias ou emails, e faz aquilo que tem a fazer. Foto de pixabay.com
Hábito 2 - Organização
Dediquei o 2º hábito a aprender a "fazer mais e pensar menos". Na prática, defini um método para não me esquecer das coisas importantes, para não pensar tanto e não deixar coisas na cabeça, definir objetivos mensais, semanais e diários, e garantir que as coisas importantes são feitas. Não consigo deixar de realçar a importância deste hábito e sugiro a leitura desse artigo onde explico com grande detalhe o que fiz durante este mês. É muito importante definir objetivos para garantir que estamos a trabalhar, ou a dedicar o nosso tempo livre, às coisas certas. Sem objetivos e sem tracking daquilo que temos de fazer, e quando o temos de fazer, andamos à deriva. E se durante o dia estamos continuamente a pensar em tudo o que temos para fazer, facilmente nos desconcentramos da tarefa em curso. É importante resolver isso para ter um dia-a-dia com menos ansiedade e focado naquilo que interessa.
O cérebro do não-procrastinador. Imagem tirada do meu blog favorito, WaitButWhy.
Hábito 3 - Meditação
O 3º hábito dos 6 meses e 6 hábitos, meditação, trabalhou nos campos da concentração e gestão de stress. Esta foi, talvez, a minha 7ª tentativa para começar este hábito, mas parece que desta vez está ganho. Parece fácil estar sentado e não fazer nada durante 5 ou 10 minutos. Mas sem a preparação e motivação certas, qualquer um desconcentra-se e vai deixando passar alguns dias sem meditar. Meditar tem vindo a revelar-se, por diversos estudos, como um dos melhores hábitos para uma vida saudável e feliz. Aconselho a qualquer um experimentar 5 minutos de meditação por dia. No final deste mês e meio de meditação, sinto-me mais calmo e em controlo dos meus pensamentos. Não estou como as pessoas da primeira foto deste artigo, nem perto, mas até pequenas melhorias na corrente de pensamentos têm resultados muito positivos.
Foto tirada no topo da Serra de Monchique, no verão de 2013. Por razão desconhecida, o terreno tinha centenas destas "construções" de pedra ao qual associamos a meditação e budismo (sinceramente, não conheço a ligação, mas deve ser uma metáfora ao equilíbrio da alma ou assim). Já nesta altura pensava em começar a meditar.
Próximos hábitos
Há que realçar uma coisa – eu continuo a praticar estes hábitos que escrevi acima. Estes hábitos não são desafios de 30 dias, que ao final do mês são esquecidos. O objetivo deste grande desafio é, ao final de 6 meses, ter um leque de 6 novos hábitos que, potencialmente, servem para ter uma vida mais feliz, saudável e focada naquilo que realmente interessa. Já comecei a fazer o 4º hábito – exercício físico regular. Nos próximos 30 dias quero fazer desporto, pelo menos, 3 vezes por semana, seja esse surf, corrida, ténis, ou mesmo andar de skate. O que importa é fazer desporto regularmente. Se estás interessado nesta série de hábitos, convido-te a seguir o resto dos "6 meses e 6 hábitos". Convido-te também a partilhar as tuas experiências nos comentários e a enviar um email para O Macaco (omacacodeimitacao@gmail.com) sobre estes e outros assuntos. Até um próximo hábito.
Visitar Istambul em apenas 19 horas. Parece pouco, mas há tempo para conhecer o local mais bem perfumado de sempre, para ser roubado, para comer algo tradicional e para olhar e fotografar a Ásia. Também há tempo para andar descalço numa mesquita, para que me perguntem várias vezes se sou árabe e para ser alvo de uma oferta forçada de cigarros. Na semana passada escrevi sobre a viagem que fiz pela Sicília durante 2 semanas e quando, de entre outras coisas, passei uma semana a navegar num barco à vela. Mas a maior surpresa desta viagem, organizada pela VOYAGE, foi as escalas que fiz em Istambul, cidade que nunca tinha visitado.
Fiz apenas duas escalas de 19 horas em Istambul, no início e fim da viagem à Sicília. Na primeira cheguei ao hotel quase às 2 da manhã. Foi o tempo suficiente para ir dormir umas horinhas, levantar-me cedo e ver o centro da cidade em 3 horas. Já na segunda escala, fiquei a descansar no hotel já que não tinha muito tempo – estive a ler, a dormir, a pôr o Game of Thrones em dia e a comer que nem um sultão. Antes de avançar com o artigo, é importante passar a informação que a Turkish Airlines pagou pela minha estadia na cidade. Eles lá têm uma política em que pagam o hotel em Istambul quando o voo faz escalas superiores a 10 horas.
Foto tirada no transfer entre o aeroporto e o hotel. A turquia de raspão.
Tamanha felicidade só é justificada por estar a dormir num hotel de 5 estrelas e não pagar um euro, ou lira.
Istambul
Caí em Istambul de paraquedas - não sabia que ia fazer escala na Turquia até um dia antes da viagem começar. Por isso, não tive tempo para pesquisar os melhores sítios. Tive de improvisar e perguntar aos meus amigos turcos onde devia ir, o que visitar e o que comer. A maior recordação que trago de Istambul são os cheiros. Tudo cheirava espetacularmente bem – o hotel (o local mais perfumado à face da Terra), as mesquitas e a comida tradicional. Impressionou-me a quantidade de carros que existem nesta cidade e a maneira como esta gente conduz. Pelo contrário, não me impressionou o facto da grande maioria dos carros apresentar várias amolgadelas.
A Mesquita Azul.
E as pessoas. Excepto a história que escrevo de seguida, todos os turcos foram muito simpáticos comigo. Sorriam, paravam tudo para me dar indicações e perguntavam se eu era árabe. Até houve um motorista (do transfer entre o aeroporto e o hotel) que me ofereceu cigarros - mesmo depois de saber que eu não fumava, estendeu-me os cigarros para ver se me convertia. Impressionou-me que tudo fosse arrumadinho. Fascinou-me este limite entre duas culturas. E tirando as fotos gigantes que vi do Ronaldo e da Sara Sampaio, o que mais se via eram bandeiras da turquia, de tamanhos enormes, penduradas em tudo o que é lado.
Uma das milhares de bandeiras turcas espalhadas pela cidade.
Chá Turco a 80 cêntimos numa esplanada no centro histórico da cidade. O melhor preço-qualidade de sempre.
Um dos pontos altos da visita pelo centro foi visitar a Mesquita Azul. Descalço, como assim tem de ser, lá entrei nesse paraíso. Fiquei encantado. Novamente, os cheiros eram espetaculares, e com o chão todo alcatifado e com poucas horas de sono, apetecia esticar-me no chão e dormir uma sesta. Resumidamente, dei umas voltinhas a correr pelo centro da cidade, vi as duas mesquitas principais, dei a volta ao parque gigante lá do centro e consegui tirar uma foto à Ásia. No final, e já cheio de pressa para não perder o avião, comi um kebab tradicional. Nada mal para uma visita de 3 horas.
Interior da Mesquita Azul.
Os 2 taxistas
Esta é uma história sobre aparências e sobre não confiar nas primeiras impressões. Apanhei dois táxis para fazer as viagens (caóticas) entre o hotel e o centro da cidade. Aliás, teve mesmo de ser assim, porque se andar de carro por Istambul demora o seu tempo, nem imagino como são os transportes públicos. E já que eu tinha de me despachar, teria de utilizar táxis. Adiante.
Para o centro da cidade fui convidado a entrar num táxi de um turco, com os seus 30 e tal anos, e dentes que simpatizavam com a limitada capacidade de contagem de uma criança de 5 anos. Deste lado, só pedia para não ser aldrabado e para chegar vivo ao centro de Istambul. Foi uma viagem espetacular. Com o seu inglês arcaico, apontava e falava-me em turco, indicando-me o nome das praças e das ruas. Rimos com esta conversa entre um que não sabe inglês e outro que de turco só conhece o kebab. Perguntou-me se eu era árabe (por alguma razão pareço árabe nesta terra) e eu lá disse que era de Portugal (que orgulho!). Foi uma viagem agradável, e no final ainda me fez um desconto, ou seja, arredondou a conta para o meu lado.
Fotografia ao outro lado da cidade, o lado Asiático.
Depois de visitar o centro da cidade – depois de ver as mesquitas e parques e comer qualquer coisa à pressa – tive de voltar para o hotel e apanhar um táxi novamente. Desta vez o meu motorista era um senhor de meia idade, bem vestido, penteado e com a dentição completa. Pensei eu que, se não tinha sido aldrabado na primeira viagem, também não seria agora que teria esse azar. Mas estava enganado. A verdade é que, já perto do final da viagem, olhei duas vezes para o taxímetro e da primeira marcava 25 liras e mesmo no final tinha saltado magicamente para as 70. Ora está que eu não tinha dinheiro suficiente, em liras, para pagar tamanha qualidade de serviço. Por essa razão, por algum receio do que pudesse acontecer e alguma estupidez da minha parte, acabei por pagar quase 40 euros ao senhor penteado e bem vestido. Moral da história – não julgues uma pessoa pelos dentes.
Já na segunda escala, no final da minha viagem, presenteei-me com comida tradicional no hotel. Esta foi a recomendação do chefe. Ainda consigo sentir o sabor desta comida.
Na viagem de regresso a Lisboa.
Tirando esta última história, as minhas 19x2 horas em Istambul foram fascinantes. Consegui visitar a cidade, espreitar um pouquinho da cultura turca, ver outro continente e provar pratos deliciosos. Mas ficou muito por ver. Tenho de voltar a Istambul e visitar esta cidade com calma. Ter tempo para absorver esta cultura incrível. Para cheirar e provar e ver tudo o que há nesta cidade. O primeiro taxista bem apontava para todas as coisas e dizia que tudo era belo. E, de facto, com dentes ou sem dentes, tinha razão.
Acho que é desta. Sim, acho que é desta quevou começar a meditar todos os dias.
Se segues O Macaco de Imitação há algum tempo,sabes que ando em "guerra" com a meditação há mais de um ano. Já escrevi ereescrevi vários posts sobre o assunto, já tentei ganhar o hábito várias vezes,sei os benefícios todos da meditação e, até agora,nada. Mas desta vez, inserido no grande desafio de 6 meses e 6 hábitos,decidi que este hábito tinha de ficar "despachado".
Engano-te se escrever que estes foram 30 dias demeditação, e que cumpri este hábito de 5 minutos todos os dias. A verdade é que tiveuma viagem de duas semanas pela Sicília onde, de entre outras coisas, passeiuma semana a navegar num barco à vela. Por vergonha, falta depaciência, ou os dois, não meditei durante toda esta viagem. Quando voltei,decidi investir mais duas semanas de meditação para consolidar este hábito antesde passar para o hábito #4.
Foto tirada no topo da Serra de Monchique, no verão de 2013. Por razão desconhecida, o terreno tinha centenas destas "construções" de pedra ao qual associamos a meditação e budismo (sinceramente, não conheço a ligação, mas deve ser uma metáfora ao equilíbrio da alma ou assim). Já nesta altura pensava em começar a meditar.
Até aqui n’O Macaco, este não foi o primeirodesafio de 30 dias de meditação. No ano passado experimentei meditar, escrever e fazer exercício todos os dias durante um mês. Foi um mêsinteressante, mas longe de ser produtivo. Em termos de hábitos, já diz oditado, quem tudo quer tudo perde.
E não volto a repetir neste artigo osbenefícios da meditação ou como meditar. Isso já eu fiz num post anterior, num manual de "meditação para totós", escrevendo tal como umprofissional que não o sendo queria vir a ser. Esse foi um dos primeiros postsd’O Macaco de Imitação.
Resumidamente, a teoria já a tinha, e tambémjá a tinha partilhado. Esta foi, talvez, a minha 7ª tentativa de adquiri ohábito de meditação e espero que seja a última. Mas agora deixemo-nos dejustificações.
Para mim, a meditação não tem a ver com espiritualidades. Meditar é treinar a mente. É treinar para ser mais resiliente, menos sujeito às adversidades da vida e do dia-a-dia. Éuma forma de controlar a corrente de pensamentos e desenvolver aconcentração para trabalhar naquilo que de verdade importa.
Durante este desafio meditei apenas 5 minutospor dia, porque isso basta para quem está a começar. Defini um lembrete notelemóvel que todos os dias me recorda que está na altura da sessão de meditação.Sento-me de pernas cruzadas (não é obrigatório), mantenho as costas direitas econcentro-me na respiração. Por vezes tento evitar esse lembrete. Mas ele ficapor lá, e umas vezes mais contrariado que outras, sento-me e faço o que tenho que fazer.
Meditar não é fácil. Mesmo ao final de um mês,é muito difícil concentrar-me na respiração, sem pensar em mais nada, durante um minuto que seja. Mas sei que com o tempo a prática se tornará mais fácil. E a sorte éque não precisamos de ser grandes "meditadores" para sentir os benefícios deuma prática regular. Com um mês de meditação, sinto que estou mais calmo econsigo concentrar-me mais facilmente em qualquer coisa.
Mas nestas coisas da meditação, o objetivo é tentar, mesmo que os pensamentos corram a mil à hora. E ganhar esse hábito, de estar sentado durante 5 minutos todos os dias, é fácil. Toda a gentetem 5 minutos durante o dia para estar sentado e não fazer nada. E com o tempo,dizem os gigantes na matéria, os benefícios começam a sentir-se de formasubstancial.
Peço desculpa se o título do artigo te levou apensar que este era um post sobre como meditar, ou sobre os benefícios dameditação, ou como chegar ao nirvana, ou quais são os segredos para adquirireste hábito. Isso já eu fiz noutros artigos d’O Macaco de Imitação. Este artigoserviu apenas para justificar o meu percurso meditativo e que meditar não édifícil. Toda a gente pode fazê-lo se tiver a atitude e ferramentas certas – umlembrete no telemóvel.
E não. Este não é certamente o último artigo demeditação d’O Macaco de Imitação. Mas (espero) ser o último em que coloco afrase "este mês vou começar a meditar".
"Está bonito...esta semana vai ser como na tropa". Este foi o meu primeiro pensamento enquanto olhava o barco e os dois capitães que, ou muito me enganava, ou não estavam ali para fazer amigos. Teria de esperar apenas uma hora para perceber que estava enganado. Nas últimas duas semanas participei na VOYAGE– uma viagem/curso de empreendedorismo cofinanciado pela União Europeia. Oobjetivo desta trip seria, em primeiro lugar, desenvolver ideias de negóciodentro do ramo do turismo e, por outro lado, desenvolver espírito de equipa.
Foram duas semanas intensas – muitos quilómetrosde avião, carro e barco à vela, e poucas horas de sono. Tanto havia paraescrever sobre esta viagem, mas hoje escolhi partilhar apenas a 2ª semana,quando estive a navegar num barco à vela.
Quem não dorme à noite...
Uma das muitas discussões de grupo.
Sim, uma semana a dormir num barco à vela; anavegar à volta da Sicília. Tinha tudo para correr mal. E de facto, em certosmomentos passei frio e fome, dormi mal,fiquei molhado de cima a baixo e enfrentei uma tempestade (ainda que durante apenas dez minutos). Mas, apesar de tudo isso, ou também por isso mesmo, foi umaexperiência incrível.
Os participantes (de Portugal, Roménia, Alemanha,Chipre, Lituânia e Espanha) foram divididos em 2 equipas. Haveria uma série detarefas, cada uma delas valendo 1 ponto, ganhando a equipa que, no final dasemana, somasse mais pontos. Seria um jogo "a feijões", sem prémio final, masisso não eliminou o meu espírito competitivo. Se estava ali era para ganhar.
A aprender a fazer nós.
Eu como comandante, a "guiar", acompanhado da minha equipa e do verdadeiro capitão que nos dava instruções.
Em equipa aprendemos a fazer nós, a ler mapas dos ventos e a comandar o barco. Fizemos turnos, em equipa, para dormir, cozinhar e velejar à noite. Em equipa discutimos a melhor estratégia para ganhar cada tarefa. E em equipa conseguimos dar a volta a uma pontuação de 4-1 e empatar a competição no final da semana. Visitámos também uma série de portos e cidades(destaco Siracusa), falámos entre todos sobre tudo o que há para falar e "escalámos"ao topo da ilha Vulcano. Tentámos, em vão, ver o novo episódio do Game ofThrones, discutimos as qualidades e "defeitos" de cada um, e descobri que consigoler, e não ficar enjoado, mesmo com o barco no meio de um temporal.
Mas o ponto alto da semana foi uma tarefa emespecial. Os capitães deram 12 caixas com gomas (uma recordação da VOYAGE) a cada equipa. O objetivo serianegociar com os negócios locais de Siracusa e trocar estas caixas porsouvenirs. A equipa que trouxesse mais lembranças ganhava, havendo pontosextra para a originalidade.
Enquanto a outra equipa foi mais agressiva nasua técnica de negociação, nós optamos por conhecer primeiro as pessoas e falarsobre os seus negócios, e só depois partir para a negociação. Conhecemos aspessoas por de trás do balcão e ficámos fascinados com as suas histórias e apaixão que colocam naquilo que fazem.
Algumas das recordações que conseguímos trocar com os negócios locais.
Uma das tarefas a contar para a competição. Ótimo trabalho de equipa.
Não só conseguimos os souvenirs típicos – tal como magnets para o frigorífico – mas tentámos negociar nos sítios menos comuns. Conseguimos souvenirs na igreja, um livro numa galeria de arte, uma pintura num hostel/museu gerido por refugiados, uma marioneta típica da Sicília num restaurante local (depois de rejeitar dinheiro e uma garrafa de vinho porque não podíamos beber no barco), bolos para o pequeno almoço num hotel de 5 estrelas, 2 estátuas de barro numa loja de antiguidades, entre outros. Mais do que a tarefa - que acabámos por ganhar – ficámos impressionados com a bondade das pessoas. Nunca pensei que nos oferecessem tanto e com tanto valor. Todas as tarefas tinham um propósito muitoclaro e um significado especial. No final de cadatarefa, os capitães falavam connosco e mostravam aquilo que tínhamos aprendidoe aquilo que podíamos melhorar. Adorei esta semana, apesar de ter sido dura, porque tínhamos sempre algo interessante para fazer.
Além de tudo isso, passámos muito tempo avelejar. Aprendemos, além dos nós, a "guiar" um barco à vela. Aprendi quandonão devo dormir ou comer para não ficar enjoado. Velejámos de noite, no meiode uma tempestade e ficámos impressionados com a paisagem natural da Sicília e da ilha Vulcano.
A paisagem do tipo da ilha Vulcano.
No topo do vulcão.
O capitão no topo da ilha Vulcano.
Fechados num barco durante uma semana, comsaídas ocasionais, fortalecemos amizades e espírito de equipa muito rapidamente. E foi um descanso estar uma semana sem telemóvel e sem internet, sem distrações e sem redes sociais.
O primeiro nascer do sol, de sempre, que vi no mar.
O último porto da semana.
O grupo VOYAGE. Na fila de cima, nas pontas, temos os capitães, e no meio temos a formadora em empreendedorismo da primeira semana da VOYAGE.
Diz-se que a felicidade é a subtração dasexpectativas à realidade. Foi por isso que adorei esta semana. Não esperavaaprender tanto sobre barcos, ou sobre nós, ou sobre ventos. Não esperava gostar tantode estar fechado num barco com outras 9 pessoas, comer e dormir no barco, seminternet e telemóvel. Não esperava aguentar uma semana sem ver o novo episódio do Game of Thrones.Não esperava ver paisagens tão bonitas. E não esperava que as tarefas e desafiosque fizemos tivessem tanto significado e nos fizessem aprender tanto.
Por último, não esperava que os capitãesfossem tão simpáticos e que tivessem tão grande experiência não só de barcos, mas de vida e negócios. Estou pronto para outra viagem debarco à vela. Conhece a página do Facebook d'O Macaco de Imitação.
Hoje escolhi escrever sobre ficção científica por duas razões. Em primeiro lugar, ficção científica é brutal. Se nunca leste um livro deste género mal posso esperar que comeces. Em segundo lugar, estou a evitar escrever artigos que já tenho planeados – sobre a viagem que fiz nas últimas 2 semanas e sobre o desafio 6 meses e 6 hábitos. Se é para procrastinar, que a razão seja ler mais e melhor. De seguida apresento os 5 melhores livros de ficção científica que li nos últimos 2 anos.
1) Ender’s Game, de Orson Scott Card
Este é O clássico deste género. Tem tudo para ser um bom livro de ficção científica – espaço, guerras e crianças sobredotadas. Além disso, a escrita é absolutamente cativante. Aposto que vais ler este livro em menos de nada. Não quero spoilar este livro nem um pouco. Para isso basta-nos o filme(não o vejas até pelo menos teres lido o livro). Basta-me dizer que os humanos estão em guerra com uma civilização de formigas alien e o nosso destino está mãos de uma criança, o Ender.
Ender’s Game, de Orson Scott Card. Imagem retirada de goodreads.com
2) Ready Player One, de Ernest Cline
Ready Player One conta-nos uma história passada daqui a 30 anos. As pessoas passam grande parte do tempo numa jogo virtual para fugir da pobreza e poluição que existe no mundo real. Quando o criador deste jogo morre, deixa toda a sua fortuna a quem conseguir encontrar um objeto (um easter egg) escondido pelo mundo virtual. Ready Player One é um dos meus livros favoritos de sempre.
Ready Player One, de Ernest Cline. Imagem retirada de goodreads.com
3) The Maze Runner, de James Dashner
Provavelmente conheces o filme. Esquece. Como digo sempre, o livro é muito melhor.
The Maze Runner, de James Dashner. Imagem retirada de goodreads.com
4) Old Man's War, de John Scalzi
Imagina que chegas aos 75 anos e te dão a oportunidade de voltares a ter o teu corpo de 25. Aceitas? Só um aparte – vais combater contra aliens e ajudar a humanidade a estabelecer-se como uma das principais espécies da galáxia. Com Old Man’s War, John Scalzi traz-nos um livro que nos faz pensar no futuro da humanidade no espaço. E, tal como os livros acima, está muito bem escrito e é muito cómico. Situação Win-Win.
5) The First Fifteen Lives of Harry August, de Claire North
Este foi o ultimo livro que li, enquanto velejava pelo mediterrânico ao longo da costa da Sicília. E que ótima companhia. O livro conta-nos a história de Harry August, um "tipo" que volta a nascer, exatamente no mesmo local e nas mesmas condições, cada vez que morre. Claire North, no seu estilo quase poético, descreve as primeiras 15 vidas de Harry August. Aconselho vivamente esta leitura. A menos que tenhas muito que fazer.
The First Fifteen Lives of Harry August, de Claire North. Imagem retirada de goodreads.com
E com isto finalizo o meu top de ficção científica. Queres começar? Aconselho o Ready Player One em primeiro lugar.
Não reparamos, mas passamos o dia todo a falarconnosco. É como se tivéssemos sempre na presença de uma voz que nos vainarrando o dia, que se arrepende do que fez ontem e se preocupa com o dia de amanhã. Esta fala connosco e nós respondemos-lhe usando a mesmalinguagem silenciosa.
Cada um de nós tem um destes "amigos" internos. Basta olhar para as pessoas que connosco partilham o metro, e logonos apercebemos que elas estão perdidas no mundo dos pensamentos, dasemoções, das preocupações, dos desejos. Cada um a olhar por si, sem reparar no mundoque se lhes é apresentado.
Os pensamentos que vamos tendo ao longo do diatêm uma razão de ser. Eles dizem-nos o que queremos e o que devemos fazer. Eles preparam-nos para o que está para vir.Mas também assumem uma importância desproporcionada, e alguns destespensamentos deixam-nos infelizes e agarrados a preocupações que, vistas deoutra perspetiva, não têm qualquer sentido. Além disso, é incrível a quantidade depensamentos e ideias que temos por dia, tal como percebei há pouco tempo.
Porque, ainda que custe acreditar, ospensamentos não são reais. Não é porque me preocupar que amanhã não vouconseguir pagar as contas, que tal vá acontecer. Não sendo reais, gastarenergia preocupando-nos com certos pensamentos, é umdesperdício. Mas é mais fácil escrever do que fazer.
Triste é perceber que uma vez passado tanto tempo no mundo interno dospensamentos, deixamos passar coisas incríveis que acontecem à nossa volta. Nãovemos a beleza que há no mundo, não vemos e ouvimos as pessoas, mais ou menosdesconhecidas, e não percebemos o que estamos a perder.
Devemos começar a tratar os pensamentos, e avoz que connosco fala, de outra forma – dando-lhes mais ou menos importância,conforme seja necessário. Qual é o truque para adquirir tal força mental? Ameditação.
Quando temos um pensamento, a primeira reaçãoé começar a "falar" com ele. Facilmente passamos de um pensamento levementenegativo para qualquer coisa como "vou ficar pobre". Isso acontece porque nosdeixamos levar pela corrente de pensamentos e porque reagimos instintivamente e inconscientemente aesses pensamentos. Porque queremos logo justificar e tratar do assunto e falarsobre esse "amigo" interno. Porque acreditamos que esses pensamentos são reais.
Mas, se de outra forma, analisamos o pensamento não como protagonistas, mas na perspectiva de uma terceira pessoa, conseguimos criar uma barreira entre o pensamento e a ação. Com isso, conseguimos avaliaraquilo que estamos a sentir e refletimos e agimos sem stress (ou com menos stress).
A meditação ensina-nos a lidar com todo o tipode pensamentos e emoções consequentes. Ensina-nos não a eliminar os pensamentosnegativos, mas "conversar" melhor com eles, para que estes não nos levem abaixo. Até uma prática de 5 ou 10 minutos de meditação por dia pode trazer-nos resultados incríveis, diminuindo drasticamente a ansiedade e ajudando-nos a estar mais presentes.
Como explico num post anterior,a meditação ajuda-nos a focar naquilo que de verdade importa e é um hábitomuito fácil de começar. Nesse post mostro como fazê-lo.
Decidi fazer da meditação o 3º hábito da minha série de 6 meses e 6 hábitos. No mês de Abril, o meu objetivo é meditartodos os dias, de manhã, durante 5 minutos. Já tentei meditar noutras alturasmas sem sucesso. Mas agora, com a "bagagem" que ganhei com os últimos 2 hábitos, estou confiante que desta vez consiga ganhar o hábito.
Num próximo post irei explicar melhor comocomecei a meditar e porque acho que ele me irá ajudar neste processotodo dos 6 meses e 6 hábitos. Até lá, Carpe Diem.
PS: Nesta "onda" da meditação, estou a ler o livro 10% Happier. Este livro conta a história de Dan Harris, um jornalista americano, que teve um ataque de pânico em direto na TV. Dan conta-nos como lidou com a situação nos anos seguintes, e como a meditação e mindfulness o ajudou a superar os seus problemas de ansiedade e a apreciar as pequenas coisas do dia-a-dia. Mesmo sendo o Dan, no início, extremamente cético em relação a este tipo de coisas. Aconselho vivamente a leitura deste livro.
10% Happier, Dan Harris. Imagem retirada de goodreads.com
Por vezes deixo-me levar seriamente porpreocupações. Penso e volto a pensar sobre coisas que não merecem a pena. Pensosobre o que devia ter feito no passado, o que estou agora a fazer e o que deviafazer amanhã.
De certa maneira, refletir sobre estesproblemas é importante, mas não até ao ponto de ficar maldisposto e de impedir a minha produtividade. Infelizmente, tenho-me sentido assimultimamente.
Só quando estou mais bem-disposto é queconsigo pensar sobre os problemas que afetam as pessoas no dia-a-dia. E quandoisso acontece percebo a pequenez dos nossos, e dos meus, problemas. Que quandocomparados com os problemas, desta vez reais, de tantos outros, parecemestupidamente insignificantes.
Que importância tem se estamos aborrecidos nonosso trabalho, ou se não sabemos aquilo que vai acontecer para a semana, ou sevamos ter dinheiro para umas férias, quando há pessoasque nem têm que comer?
Mas é tão fácil esquecer isso.
Qual é a dimensão dos nossos problemas à escalanacional, europeia ou mundial? Estamos assim tão concentrados em nós mesmos queacabamos por achar que os nossos problemas são da mais absoluta importância?
Bastava ter consciência da nossa pequenez paraque os “problemas” deixassem de o ser; se víssemos o mundo maravilhoso que senos é apresentado; se percebêssemos as oportunidades que temos.
Mas é tão difícil concentrarmo-nos no mais importante, e perceber que o mundo, quer tenhamos “problemas” ou não, vaicontinuar a girar e os pássaros vão continuar a cantar todos os dias. Que nãovale a pena pensarmos tanto, porque esses problemas são tão insignificantes e porque o nosso tempo aqui está contado. Que maisvale aproveitar todos os dias e deixar que os “problemas” se desvaneçam nanossa propositada desatenção.
E é quando percebo isso que consigo olhar omundo com olhos de ver. Que percebo a ligação entre tudo e todos. Que vejo abeleza que há na vida. E sinto um arrepio que me desce pela espinha e me diz –estás ligado.
Mas tal como o mundo, a vida vai girando. E os nossos “problemas” voltam tão depressa como fugiram, num movimento desenfreado que nos volta a encher a cabeça.
Mas nessas alturas lembro-me das conclusões aque cheguei nos momentos mais felizes. E lembro-me que posso treinar no sentidode ser mais positivo e de ver a vida por outra perspetiva. E que se tiver deforçar o meu comportamento até ser uma daquelas pessoas que parecem estar semprefelizes, então que seja.
É por isso que estou a trabalhar nos meus hábitose a tentar adotar uma maneira de pensar mais positiva. E este mês comecei o 3º hábito da minha série de6 meses e 6 hábitos. Vou, de uma vez por todas, começar a meditar, esperando que daqui um mês seja mais fácil controlar os meus pensamentos. Espero bem que assim o seja. Mas se o problema não ficar resolvido, continuarei a tentar.
Todos deixamos coisas por fazer, mais ou menosimportantes. E guardamos na cabeça uma série de tarefas que queremos cumprirdurante o dia, esta semana, ou este mês. Mas, se funcionares como eu, guardar esses pensamentos na cabeça é a mesma coisa que adiar essas tarefaspara nunca.
E por isso é que temos aquela lâmpada nacozinha que nunca mais é substituída. Ou, pior ainda, faltamos a compromissoscom outras pessoas. Dizemos que "sim, vou fazer, não te preocupes", e as pessoas ficam à espera eternamente.
O cérebro de alguém do não-procrastinador. Imagem retirada do meu blog favorito, Wait But Why.
Há dois meses comecei um grande desafio - 6 meses de mudança de hábitos com o objetivo de reduzir a ansiedade e fazer mais daquilo que é importante. No primeiro mês experimentei um aumento de concentração, eliminando a minha dependência das redes sociais e outras distrações.
Em Março decidi começar a "fazer mais e pensar menos", ou seja, deixar de pensar tanto naquilo que tenho e quero fazer, e garantir que, se essas coisas são importantes, vão ser feitas.
Sem mais demoras, mostro de seguida como encarei este desafio.
Os meus 4 passos para "fazer mais e pensar menos"
1) Criei uma nota no iPhone intitulada "Stuff" (cenas).
2) Durante o dia preencho essa nota com pensamentos há medida que estes vão surgindo, sobre:
tarefas que tenho para fazer, grandes ou pequenas.
compromissos.
ideias ou pensamentos soltos.
pensamentos negativos (em baixo explico melhor o porquê deste último ponto).
3) Defini 4 lembretes (para as 12h, 16h, 19h, 23h) para me lembrar que devo apontar os pensamentos nessa nota. Estes lembretes servem apenas até o hábito estar formado (+- 21 dias), depois podem ser eliminados.
4) No final do dia, vou a essa nota e decido o que fazer com cada apontamento:
São tarefas com data específica?Então fazer um lembrete no telemóvel.
Posso resolver a tarefa, em pouco tempo, neste momento? Se sim, então fazer de seguida (em bom rigor, tarefas que possam ser resolvidas em 2 ou 3 minutos devem ser logo resolvidas e nunca passar para esta nota).
Não é uma tarefa importante? Colocar numa nota a que chamo "merdices para resolver". Num qualquer dia em que não tenha nada de importante para fazer, como um domingo à tarde, voltar a esta nota e tratar de algumas destas tarefas. Uma típica tarefa desta categoria é "lavar o carro" - sim, deve ser feito, mas não é "importante" nem tem de ser resolvida com urgência.
São ideias ou pensamentos soltos? Consigo transformá-las em tarefas? São mais ou menos importantes? Se for uma ideia de projeto, colocar numa qualquer nota de pensamentos soltos. Sugiro o uso do Evernote para apontar as "merdices para resolver" ou os "pensamentos ou ideas soltas".
São pensamentos negativos? A preocupação é real? Vê o assunto de outra perspectiva ou fala com alguém sobre esse assunto.
Apagar se não fizer algum sentido.
O objetivo deste processo simples é deixar de ter coisas na cabeça - desde tarefas que têm de ser resolvidas, a pensamentos negativos aos quais não devemos ligar logo que apareçam na cabeça.
No caso dos pensamentos negativos, o simples facto de adiar essa "conversa" para mais tarde, faz com que as preocupações percam importância. Porque ao analisá-las melhor, percebemos que, na maioria das vezes, essas preocupações não tinham razão de ser. Esta é uma das grandes vantagem de ir apontando os pensamentos e tarefas ao longo do dia, e só revê-los no final do dia.
Este hábito (ou um qualquer parecido que tenha o mesmo objetivo) é um hábito-chave, porque te ajuda a criar outras boas rotinas. Se libertas a cabeça de pensamentos e passas por eles apenas ao final do dia, garantes que passas o dia mais concentrado, menos ansioso e que cumpres aquilo que queres fazer.
Esta rotina ajudou-me muito, principalmente porque a minha memória é fraca e também porque costumo preocupar-me desnecessariamente. Se achas que podias beneficiar deste simples hábito, então porque não experimentas? Fico à espera dos teus comentários abaixo. Até ao próximo hábito!
Está visto que as resoluções de novo ano não resultam. Dizemos que desta vez é que é, e que vamos começar a comer bem e a fazer exercício todos os dias e, passados dois meses, nada.
Pensei um pouco sobre isso e decidi que, para fazer mudanças, tenho de apostar em hábitos - passar a fazer certas coisas importantes, regularmente, para conseguir fazer mais e/ou melhor e ser mais feliz. E decidi que esses hábitos devem ser adquiridos um de cada vez, para que, por um lado, sejam fácies de ganhar e, por outro, sejam duradouros. Decidi e comecei o novo, e mais importante, desafio d'O Macaco de Imitação - 6 meses e 6 hábitos. Este é o segundo post desta série.
Tal como estes aprendizes, vou tentar melhorar a minha concentração para um nível superior. Foto de pixabay.com
30 dias de concentração
Os hábitos não são todos iguais. Há hábitos mais importantes, como por exemplo, fazer exercício físico. Ao fazê-lo regularmente, conseguimos facilmente adquirir outros hábitos, porque temos mais energia e motivação, mas também porque esse hábito combina bem com outros, tal como aprender a comer melhor.
Há também outro hábito muito importante - a concentração. Quem se concentra naquilo que faz - seja no trabalho, seja em projetos pessoais, ou até na conversa que tem com amigos enquanto bebe cerveja - tem mais sucesso, é mais tranquilo e é mais feliz. Por isso decidi fazer deste hábito o primeiro do desafio.
Há um mês defini um objetivo muito simples - eliminar as "visitas" às redes sociais e outros sites, principalmente, mas não exclusivamente, enquanto trabalho.
A deixa, a rotina e a recompensa
Como escrevi neste post, um hábito tem 3 partes: a deixa, a rotina e a recompensa. Para ganhar, ou, neste caso, eliminar um hábito, há que perceber todas essas partes.
Pesquisei sobre procrastinação (ou deixar para amanhã o que pode ser feito hoje), analisei o meu comportamento, e aquilo que queria eliminar. Percebi que visitar o Facebook, o YouTube, e os sites de notícias, enquanto devía estar concentrado noutra coisa, é uma fuga. É fugir de uma tarefa aborrecida, ou que está mal definida, e fazer algo que tem regras muito claras e que, por isso, é viciante.
Ciclo do hábito: deixa, rotina e recompensa. Imagem retirada do livro A Força do Hábito, de Charles Duhigg.
Percebi que a desconcentração, pelo menos no meu caso, é estimulada por 4 coisas:
Notificações do telemóvel.
Barra de marcadores do Chrome (ou de outro qualquer; não tenho nada contra a Google).
Não saber o que fazer a seguir.
Não saber como resolver o problema seguinte.
E depois percebi o quão fácil é resolver estes 4 pontos, e concentrar-me melhor em qualquer coisa. Foi isso que fiz de seguida.
As (pequenas) mudanças
De seguida apresento o que fiz para aumentar a minha concentração. A lista é tão simples (e tão óbvia) que não há razão para não ter feito isto há mais tempo.
Desliguei todas as notificações das aplicações do iPhone, exceto as do Messenger.
Ocultei a barra de marcadores do Chrome, para usá-la apenas quando precisava.
Defini, na maior parte das manhãs, o que devia ser feito ao longo do dia. Escrevi essas tarefas de maneira a não ter dúvidas do que tinha de fazer, e dividi-as várias vezes, com objetivos intermédios.
Não vi emails durante o dia, ou até acabar o que tinha para fazer. Como não recebo emails importantes, é uma perca de tempo estar a vê-los constantemente. Mas, estupidamente, era isso que fazia.
Quando quiz falar com alguém, usei a aplicação do Messengerpara PC. É melhor que o Facebook e não tem distrações.
Não deixei de ver o Facebook, Youtube, blogs e afins. Mas decidi ver esses sites apenas ao final do dia. Além disso, só fui a cada um desses uma única vez, para minimizar o surfing na net e ter tempo para fazer outras coisas.
Não tirar o telemóvel do bolso e ver as atualizações das apps quando estou com outras pessoas.
Resultados
Estas mudanças foram ridiculamente simples. A maior parte delas nem envolveu nenhum esforço. Foi, simplesmente, e apenas nas primeiras 2 semanas, fazer um esforço adicional para não ver certos sites até ao final do dia. E ter a consciência de que estar ao telemóvel, a ver o Facebook, enquanto estou com outras pessoas, é uma tristeza.
Não estava à espera que fosse tão fácil cumprir estes 30 dias e habituar-me a um novo ritmo. Mas foi. E agora, passado um mês, já não tenho tanta vontade de ir ao YouTube, ou tirar o telemóvel do bolso, ou ver notícias. Além de ter mais tempo, aproveito-o melhor.
Além disso, consegui diminuir o stress do dia à dia. Agora estou mais livre dos gostos, e do novo email que ainda não li, e das notícias que acontecem por todo o lado a toda a hora (e que, na maioria, não interessam), e da nova foto, do novo vídeo, do novo tweet. Agora que melhorei a minha concentração, ganhar os hábitos seguintes vai ser mais fácil. Em breve escrevo sobre o hábito #2 da série 6 meses e 6 hábitos. Vamos lá concluir este post. O hábito foi tão simples, e com resultados tão positivos, que nada mais tenho a acrescentar, com medo de estar a complicar o que não o é. Há que ver, ou experimentar, para crer.