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Macaco Experimentar

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O fosso entre os ricos e os pobres

Ontem vi um post do Ainanas que me prendeu a atenção. Parece que as 62 pessoas mais ricas do mundo têm tanta riqueza como a metade da população mais pobre do planeta. 62 pessoas que têm mais dinheiro que 3600 milhões. Cada uma que tem, em média, tanto dinheiro como 58 milhões de pessoas. Isto não está certo, e não consigo deixar de fazer contas porque parece-me tudo tão ridículo. O mesmo artigo indica que esse número (62), tem vindo a baixar. Em 2010, seria preciso reunir as 388 pessoas mais ricas do mundo para que estas tivessem tanto dinheiro como a metade mais pobre do planeta. O fosso entre os ricos e os pobres é cada vez maior.

Neste momento, 1% da população mundial tem tanto dinheiro como os outros 99%. Temos algumas pessoas que não sabem o que fazer com o dinheiro, e por isso compram centenas de casas, jatos e grandes barcos, e temos muitos milhares de milhões de outras que não têm sequer que comer. Como é que deixamos isto acontecer? Este sistema político e económico está errado porque deixa isto acontecer. Da forma como tudo está montado, ajudamos os ricos a ficar mais ricos, e os pobres a passar mais dificuldades.

Este é também um problema de mentalidades. Ainda acreditamos que se as pessoas são muito ricas, é porque trabalharam muito e merecem todo esse dinheiro. Tenho, em alguns casos, que concordar com o primeiro ponto, mas permitam-me que discorde do segundo. 

É certo que há muitas pessoas que trabalharam muito na vida e, por isso, merecem ser recompensadas. Dou todo o mérito a pessoas que ajudaram a mudar o mundo, e que fizeram dele um melhor lugar para todas as pessoas. O Bill Gates, o Mark Zuckerberg e o Larry Page merecem todo o nosso respeito. Também em Portugal temos os nossos grandes, como o Cristiano Ronaldo. Ele que é uma força da natureza. Ele que passava muitas dificuldades enquanto novo, e que através da sua dedicação é uma das pessoas mais bem-sucedidas do mundo. O Ronaldo, tal como muitos outros, merece ser compensado pelo seu esforço porque inspira centenas de milhões de pessoas por todo o mundo, e através do futebol torna a vida das pessoas mais feliz.

Escrevo-o novamente; estas pessoas merecem todo o nosso respeito e merecem ser recompensadas. Vieram de origens humildes e conseguiram, com todo o seu trabalho, mudar o mundo. Mas, e aqui vem a crítica, a sua compensação é desproporcional.

Longe do futebol e do Facebook, olhemos para as evidências - a esmagadora maioria das pessoas ricas já tinham pais ricos. Estas são as pessoas que tiveram uma vida facilitada porque alguém, a algumas gerações atrás, trabalhou muito para isso. Estas pessoas que com o dinheiro que têm inicialmente têm uma grande vantagem. Estas pessoas que vão ter mais oportunidades, que vão conhecer pessoas mais influentes, e que por toda a sua condição de vida vão ser mais bem-sucedidas (se bem-sucedido for ter muito dinheiro). Não digo que essas pessoas não trabalhem, mas com certeza podem dar-se ao luxo de se encostar à fortuna que têm, e não são raros os casos em que isso acontece. Já os mais pobres não têm essa vantagem. E mesmo trabalhando tanto ou mais que os ricos, não chegarão, nem de longe, tão perto (em média) do "sucesso" como eles.

Um homem ou mulher que nasça num país pobre, inserido numa família que passa muitas dificuldades, dificilmente conseguirá sair desse ciclo vicioso. Mesmo que trabalhe muito, e consiga melhorar as suas condições de vida, não tem as mesmas oportunidades que as pessoas do grupo dos mais bem afortunados. 

Já dizia o José Cid, "Se Elton John tivesse nascido na Chamusca, não teria tido tanto êxito como eu".

A guerra do fosso entre os ricos e os pobres é uma guerra de oportunidades. Os primeiros que muitas têm, e os segundos que raramente as "apanham". É a guerra do rico que fica cada vez mais rico, e do pobre que se esforça, esforça, e nada. É uma guerra de mentalidades, porque todos pensam que está tudo bem para alguém que inventou o computador ter 70 mil milhões de dólares, e que 10 milhões não chegavam. Esquecem-se que esse dinheiro teve de vir de algum lado. Esquecem-se que esse dinheiro podia ter sido diluído por todas as pessoas que fizeram do computador uma realidade. Esquecem-se que o computador podia ser mais barato.

Por muito que o esforço seja importante e mereça ser monetariamente compensado, nada compensa ter pessoas a morrer à fome. Nada compensa estas desigualdades sociais gigantes.

Mas atenção, eu não culpo os ricos. Eles estão a viver segundo as regras do "jogo", tal como todos nós. Mas defendo que não devia ser possível alguém ganhar várias centenas de milhões de euros. Defendo que o dinheiro deveria ser mais diluído. Defendo que a diferença salarial entre o patrão e o empregado, sobretudo em empresas muito grandes, devia ser substancialmente reduzida.

Olhemos à nossa volta. Temos hoje em dia a geração mais instruída de Portugal. Nunca houve tantos doutores e engenheiros. Mas, ainda assim, as empresas contratam-nos pagando-lhes uma ninharia, que mal chega para pagar a renda da casa, comer durante o mês, e pouco mais. Agora imaginemos quem não teve a sorte de ir para a faculdade e estudar para ser engenheiro ou doutor.

O dinheiro que o nosso trabalho gera está a "escorregar" para qualquer lado. Ou melhor, este dinheiro gerado por tantos, está a ser afunilado para a carteira de alguns.

Ainda não tenho soluções para estes problemas. A política confunde-me e são muitas as vezes que não sei em quem votar. Não sei se acredite que os políticos têm todos más intenções e por isso não fazem um bom trabalho, ou se o trabalho é também ele extremamente complexo, e arranjar soluções para todos os problemas de Portugal (e do Mundo) é demasiado difícil.

Mas uma coisa é certa - andamos adormecidos quanto ao fosso entre os ricos e os pobres. Quem toma decisões, ou quem consegue fazer-se ouvir, não faz parte da metade mais pobre do planeta. É esse o problema. Mas um dia, num futuro próximo (espero), vamos pensar nos "outros". Naqueles que passam fome e que enfrentam condições de vida absolutamente desumanas. Só espero que nessa altura ainda reste alguém para nos perdoar.

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Escolher é fácil...

Vivemos num mundo de escolhas. Em nenhuma outra altura da história, foicada indivíduo tão responsável pelo seu destino. Espera-se que cada um de nóssaiba o que vestir e o que comer. Espera-se que cada pessoa escolha, muito bem, o que ler,que filme ver e que músicas ouvir. Espera-se, e aí mais importante, que cada umsaiba o que quer fazer, e com quem quer estar.

Há liberdade para isso. E isso é bom. Não queremos, não devemos, nem podemos, voltar a outrostempos, quando as pessoas tinham de escolher e fazer aquilo que os outrosdecidiam. Hoje em dia temosacesso a experiências e produtos mais bem adaptados a qualquer um. Temos aoportunidade de ficar mais satisfeitos com aquilo que fazemos e consumimos. Temosum enorme controlo sobre o rumo da nossa vida. Mas, por outro lado, tantas escolhas deixam-nos paralisados. Não sabemos oque escolher porque temos muito por onde escolher.

Será que estamos a pedir demais de cada um de nós? Dou por mimencostado à parede pelas decisões que tenho de tomar, dando-lhes umaimportância que elas não merecem. Até escolher que filme ver na televisão pode ser umcastigo - tenho de ver todos os títulos, ler todos os resumos, e ver as suaspontuações no IMDB. Sinto-me mal se não o faço, e se não escolho o filmeperfeito. Mas também me sinto mal porque o faço, porque o processo é desgastante.Sinto que a responsabilidade de escolher esse filme é toda minha e, se nãoescolho o melhor filme da lista, sinto que fiz um mau trabalho. 

E isto repete-separa todas as coisas da vida. Com a internet,temos acesso a um mundo de escolhas. Podemos até escolher que carreira seguir e queviagens fazer. A todo o momento! Somos a geraçãoque mais escolha tem. Mas, paradoxalmente, somos aquela que menos satisfeita fica comas decisões que toma.

A nossa cultura deu-nos umaresponsabilidade gigante. Não o fez por mal, nós é que não estamos preparadospara tantas escolhas. Em boa verdade, nós nem sabemos porque gostamos ou não defazer, ou ver, ou ler, alguma coisa. Em muitos dos casos, simplesmente,gostamos. Mas também não sabemos que não sabemos. E é esta não sabedoria quenos leva a querer escolher. Porque pensamos que se tivermos muita escolha,podemos escolher algo perfeito, mas só ficamos confusos.

Além disso, sinto - e creio que outros também o sentem - uma enorme pressão para fazer mais e mais, para fazer cada vez melhor, e para trabalhar muito e descansar só se for preciso. Esta pressão ninguém ma deu, ou então deram-me todos.

Vivemos no mundo do "já fizeste" e do "tens de". Já fizeste isto? Então tens defazer. Tens de ver esta série, tens de ver este filme, tens de experimentaristo e tens de comer aquilo. Vivemos num mundo de escolhas, mas demasiadas escolhas. Vivemos num mundo que corre e não se deixa apanhar. Vivemos num mundo que fazer pouco é mal visto. Vivemos no mundo do "não fazes nada? grande vida".

Em tão grande corrida, não vemos aquiloque passa diante dos nossos olhos. Não vemos o pôr do sol nem o céu estrelado.Nem mais paramos para observar a chuva de dentro do conforto das nossas casas. Nem podemos. Porque perdemos muito tempo a escolher ea fazer.

Não conseguimos fazer tudo, nem uma boa parte disso. A nossa força devontade é como uma energia que se vai gastando ao longo do dia. Escolher gastaessa energia. E hoje temos de escolher muito.

E escolher uma carreira é, nos dias de hoje, uma das coisas mais difíceis de fazer. "Sabemos" que temos a liberdade para escolher o que quisermos. Mas essa liberdade envolve muitas escolhas, e não é raro o caso de pessoas que não sabem o que fazer na vida. Sentem-se mal se não conseguem encontrar facilmente a sua "vocação", e pensam, erradamente, que são a excepção e não a norma.

Não escrevo este texto porque sei a solução para este problema. Se eu soubesse, não teria a experiênciapara escrever estas palavras. Não saberia como é ter de escolher tudo a toda ahora, e fazer sempre mais. Não entenderia este "sofrimento", e nãoperceberia o autor deste texto. Porque como se pode não querer ser o dono totaldo seu destino? Escolher de entre tudo o que há para escolher. Ter o produtoperfeito, a carreira perfeita, as experiência perfeita, sempre, à nossa escolha. Não. Escrevo este artigo porque penso e volto a pensar nisto: será que a nossa geração sabe lidar comtanta liberdade?

Não sei qual é a resposta. Talvez não devêssemos levar a vida demasiado a sério. Devíamos sim olhar para asestrelas; para a quantidade, muito provável, de Terras que existem, e questionar a significância,e importância, das nossas escolhas e das nossas preocupações.

Talvez seja bom confiarmosmais nos nossos sentidos, e escolher este filme porque se gosta deste ator, ou leraquele livro porque se engraçou com a aquela capa.

Mas só talvez. Tenho várias teorias, ainda não escolhi em qual deva acreditar.

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