Vamos imaginar, por um momento, que uma bruxa decidecastigar a humanidade, seja por que razão for. Ela destrói tudo o que foi feitopelos humanos, e envia-nos para o ano 200.000 AC. Para voltar tudoao normal, "só" precisamos de fazer uma coisa: construir um iPhone 6s perfeito. A pergunta é: quanto tempo achas que precisávamos para construir o iPhone?
Não inventei este cenário. Esta pergunta surgiu estasemana no meu blog favorito, o WaitButWhy e, como achei interessante, decidi partilhá-la n'O Macaco de Imitação. Pensa um bocado sobre ela antes de ler a minha resposta. Fico à espera dos teus pensamentos nos comentários abaixo.
Para começar, se há um minuto estávamos no quentinho da nossa casa,agora estamos no meio da floresta, ou da praia ou do deserto, sem nada que nosproteja, e completamente nus. Nas primeiras semanas, morreriam muitas pessoas – há um excesso de população para os recursos atuais. E a maior parte da população não sabe como fazer uma fogueira, ou caçar ou plantar para recolher mais tarde. Mas, com sorte, algumas pessoas saberiam fazê-lo e poderiam formar-se comunidades. Nas pequenas povoações do planeta, a vida podia ser mais fácil,porque temos poucas menos pessoas e, por isso, menos competição. O problema é que, muito provavelmente, as pessoas com o "know-how" para fazer o iPhone estariam concentradas nas cidades e, a menos que fossem protegidas, esse conhecimento podia perder-se para sempre.
Asseguradas as condições básicas de vida, estaria na altura depensar em construir o iPhone. Teríamos desaber todos os materiais que precisávamos para a sua construção, os métodos defabrico, e até todas as especificações do iOS. Não é tarefa fácil. Partindo do pressuposto que as pessoas que melhor conhecem o iPhone não morreram nasprimeiras semanas, ou meses, deste novo mundo, há que começar a fazer olevantamento de todas as características do 6s. Teriam de começar a escrevê-lasnalgum lugar, e portanto teriam de ser inventados, rapidamente, o papel e o lápis. Nãopoderiamos correr o risco de perder essa informação porque alguém foi comido por um leão.
Mas o quão difícil é construir o iPhone 6s? Atualmente, os materiaispara o seu fabrico vêm de todas as partes do mundo, e toda a sua construçãoenvolve centenas de milhares de pessoas direta e indiretamente. Não temosinternet nem telemóveis para coordenar esses esforços. Passar qualquer tipo deinformação para o outro lado do globo demoraria vários anos. E para fazerqualquer coisa "simples", tal como a aplicação dos contactos do iPhone, precisávamos deprogramar e, por isso, precisávamos de computadores, e de fábricas que façamcomputadores, e dos materiais que constituem os computadores, e de eletricidade, eda extração de combustíveis fósseis, e…tudo. Para fazer o iPhone 6s precisávamos de inventarquase tudo o que existe em 2015.
Na minha opinião, não íamos conseguir fazer o iPhone e voltar ànormalidade. A tarefa "morria" nos primeiros meses, quando os humanos não conseguissemsequer reunir todas as especificações do telemóvel. Talvez essas informações nãose encontrem na mente coletiva da humanidade. Talvez existam nos computadores da Apple ou num qualquer dossier que, nesta nova vida, não existe. Além disso, precisávamos de re-inventar muitas tecnologia só para concluir este projeto. Esse seria um trabalho demasiado complexo. E coordenar todas as pessoas doglobo seria um trabalho, só por si, megalómano. Para não falar do que era preciso para nos mantermos vivos, como ter água potável, roupa e fontes de proteína e hidratos.
Depois de dezenas e centenas de anos, o projeto doiPhone passaria a ser um mito. Passados 1000 anos, a história do castigo da bruxa seria contada em tom de brincadeira, sem ninguém acreditar que alguma vez issotivesse acontecido. A humanidade iria evoluir num outro sentido, e talvez umdia, 2000 ou 3000 anos depois, lá inventássemos uma coisa parecida com o iPhone6s.
Mas talvez esteja a ser pessimista. Talvez a sociedade conseguisse reunir os esforços para fazer o iPhone. O que achas? Quantos anos precisávamos para atingir esse objetivo e voltar à vida normal? Fico há espera do teu comentário.
Um dia acordamos. Dão-nos um nome, uma casa e uma família.Levam-nos de um lado para o outro, dão-nos comida e mudam-nos a fralda. Somoscompletamente dependentes da nossa família. E esta faz planos em nosso nome. Ospais, os avós e os tios querem que sejamos médicos, engenheiros, artistas oujogadores de futebol. Nós não queremos nada, porque ainda não temos consciênciade quem somos e onde estamos.
Depois aprendemos a andar e a falar e, com isso, a cumprir ea pedir. Ensinam-nos oque devemos e não devemos fazer. Ensinam-nos quem respeitar, o que comer, o quevestir e o que pensar. E nos primeiros anos de escola aprendemos os básicospara a (longínqua) vida futura.
Ficamos mais velhos e queremos ser os putos fixes da escola.E é durante a adolescência que definimos grande parte da nossa personalidade. Agoraaprendemos o que gostamos e não gostamos de fazer. Começamos a surfar, a tocar guitarra e a descobrir o mundo à nossa volta. Mais do que tudo, imitamos.Ouvimos o que outros ouvem, vestimos o que os outros vestem, pensamos, por contágio,o que os outros pensam.
Por outro lado, a família, os professores e a sociedade em geral, dizem-noso que devemos fazer – tirar boas notas e entrar num bom curso, numa boafaculdade. Porque assim vamos ter um emprego estável e duradouro, vamos puderpassar férias onde queremos, comprar o carro que desejamos e ter uma casa desonho. Dizem-nos que a vida é séria, e não há como brincar com ela. Dizem-nosque temos de trabalhar muito, casar e ter filhos. Esse é o sonho. No finalda carreira, e depois de 40 anos a trabalhar, como prémio, temos a reforma. Aívamos puder fazer o que queremos, e cuidar dos netos e viajar o tempo todo. Esta filosofia de vida é-nos incutida. Enós acreditamos, porque não sabemos melhor. Eles são adultos, eles sabem do quefalam, e eles parecem estar bem na vida.
Depois temos de decidir o que queremos fazer da vida. E há quem saiba, desde sempre, o que quer fazer "quando for grande". Para estes a decisão é fácil, e já sabem o curso quequerem tirar, ou já sabem que não querem tirar um curso e têm outros planos. Osque sempre tiraram boas notas, mesmo estando indecisos, sabem que têm de ir para afaculdade. Para estes, escolher o curso é a decisão mais difícildas suas vidas. E os que não têm boas notas também são "empurrados" paraa faculdade. Aliás, é assim que "tem" de ser. Quem estuda muito tem à esperaum bom emprego e pode comprar uma série de coisas boas - foi isso que nos contaram.
Vamos para a faculdade. Saímos das casas dos pais e somos"independentes" pela primeira vez na vida. Fazemos aquilo que é supostofazer – estudar muito e tirar boas notas. Além disso, festejamos a boa vida de faculdade.Conhecemos muitas pessoas, todas diferentes, todas iguais. É uma altura boa,que, como nos avisaram, passa depressa. No final estamos ansiosos por conhecero mercado de trabalho. Finalmente, vamos ter o nosso dinheiro e vamos pudercomprar o que queremos. Vamos viver o sonho, neste caso, português.
No primeiro mês de trabalho tudo é uma novidade. Usamostermos como CEO e Business Plan. Temos fatos todos bonitos, sentimo-nosimportantes e somos o orgulho da nossa família. Mas esta sensação não duramuito tempo. Passada a novidade, percebemos que temos um emprego chato, quetrabalhamos muitas horas e que recebemos pouco. Os nossos chefes parecemcansados. E saímos da faculdade com a cabeça cheia de ideias inovadoras, prontos para as testar nestasempresas, e "elas" dizem-nos que somos muito novos, que estamos aqui é paracumprir, que temos muito para provar até pudermos fazer alguma coisa. Ouvimospela primeira vez a frase “não te queixes...no meu tempo…”, e sabemos que apartir daí está tudo estragado.
O trabalho é cada vez mais chato. Pensamos que é um problemalocal e que está na altura de mudar de emprego. Assim fazemos e encontramos a mesmasituação noutro local. Ficamos brutalmente desmotivados. Mais do que nunca, somos possuídos pelo síndrome do domingo à tarde, aquele que nos deixa mal-dispostos por saber que amanhã é dia de trabalho.
Num ato de salvação mental, despedimo-nos,tento a certeza (fraquinha) que iremos encontrar qualquer coisa para fazer.Mas a crise dos 25 anos mal está a começar.
Sentimos que tudo aquilo que nos foi dito estava errado.Onde está o emprego que nos foi prometido? Nós, que estudámos tanto. Que outrasmentiras nos disseram? Será que queremos uma grande casa e um bom carro? E terfilhos? Quem é quem para nos dizer o que temos de fazer? Para quêmatar-me a trabalhar para, ao final de 40 anos, reformar-me, agora sempaciência para gastar o dinheiro que juntei? Qual é o sentido da (minha) vida? Qual é a chave para a felicidade? Qual é o meu destino?
As perguntas são muitas, e as respostas não se fazemacompanhar. Pensamos o dia todo sobre elas. E começamos a ler sobre tudo isto.Lemos sobre psicologiae produtividade e filosofia e estilos de vida. Conhecemos,através dos livros, pessoas que ousaram ser diferentes e que estão muitobem na vida. Aprendemos mais sobre nós, sobre o que gostamos e o que gostaríamos de fazer, e alteramosas nossas prioridades. A pouco e pouco, vamos aprendendo uma nova filosofia de vida.
Todos (acho) passamos pela crise dos 25 anos. Isso acontece quando descobrimos que a filosofia de outros tempos, e que nos foi ensinada, está desatualizada. Que empregos bons podem haver, mas não os vamos descobrir à primeira ou segunda tentativa com nos fizeram crer. E, certamente, estudar não garante trabalho.
É importante passarmos pela crise dos 25 anos - termos a coragem de rejeitar um trabalho e uma vida que não nos satisfazem. Porque, de outra maneira, adiamos a crise para os 30, 35 ou 40 anos. E nessa altura a mudança é mais difícil e radical. É importante dar o passo que ainda acreditamos ser para trás.
Precisamos de ler muito para percebermos mais sobre tudo. Precisamos de definir as nossas prioridades e atualizar a nossa filosofia de vida. Com isso, é certo, que o passo atrás irá dar balanço para dois ou três passos para a frente. Por fim, e pela segunda vez na vida, "acordamos". Conhece a página do Facebook d'O Macaco de Imitação. Artigos relacionados:
Este post foi originalmente publicado em Março de 2015. Na altura tentei ganhar o hábito da meditação, mas sem sucesso. Agora, depois do desafio de 30 dias "Corpo e Mente", que incluiu a prática de meditação, atualizo este artigo com novas informações.
Nunca deixamos de pensar. Estamos sempre a pensar em alguma coisa. Naquilo que acabámos de fazer e naquilo que vamos fazer de seguida. Pensamos sobre os problemas do passado e naquilo que queremos para o futuro. Todos somos assim. Mas, por vezes, esta corrente de pensamentos é estafante, e acabamos por nos concentrar em coisas que não interessam para a nossa vida. Foi por isso que decidi começar a meditar.
Sem rodeios, começo por apresentar o método que, através das minhas pesquisas, considero ser o mais simples e eficaz para uma boa meditação. No entanto, o resto do post é importante para saberes mais sobre este tema e, por isso, convido-te a lê-lo até ao fim. Dito isto, aqui fica o método:
Método que eu uso para meditar:
Beber um copo de água. Faz-me sentir mais acordado e preparado para a meditação.
Esticar os músculos.
Sentar em cima de uma almofada na posição de half-lotus (explicação mais abaixo). Colocar outra almofada debaixo do joelho da perna que fica por cima para garantir uma boa base de suporte. Trocar de perna todos os dias. Garantir costas direitas e peito ligeiramente para fora.
Ligar o despertador (10 minutos).
Absorver os sons do meio-ambiente.
Fazer 3 ou 4 inspirações longas para começar a meditação. Respirar pelo nariz.
Inspiração normal com foco no movimento ascendente e descendente das narinas (resultado da respiração).
Ao pensar em alguma coisa, consciencializar que este pensamento está presente e trazer a atenção de volta para a respiração.
Quando o despertador tocar, trazer a atenção novamente para os sons do meio-ambiente.
Levantar e esticar os músculos.
O hábito de meditação
Para garantir que continuamos, todos os dias, a meditar, é importante ter uma rotina. A duração da sessão de meditação vai depender muito de cada pessoa. O ideal para iniciantes (como eu) é uma prática de 5 a 15 minutos por dia. E no início é difícil manter a concentração na respiração, mas há medida que nos habituamos, vamos conseguir mantê-la durante mais tempo e meditar 30 minutos ou mais por dia.
O local de meditação deve ser confortável e agradável, e devemos garantir que não somos interrompidos enquanto meditamos. Para garantir um hábito duradouro, aconselho a prática de meditação todos os dias, no mesmo local, com a mesma rotina, à mesma hora do dia. Podemos adquirir uma rotina em apenas 21 dias. Se estiveres interessado neste tema, aconselho a leitura do livro "A Força do Hábito" de Charles Duhigg. Ou então lê este resumo que fiz sobre ele.
Benefícios da Meditação
Segundo a literatura, uma prática regular deste exercício tem vários benefícios. Aumenta a concentração, diminui o stress, diminui a tensão arterial, aumenta o nível geral de felicidade, e acalma e reduz a velocidade dos pensamentos. Qualquer ferramenta que nos ajude a relaxar e re-pensar os "problemas" do dia-a-dia, traz grandes vantagens para a nossa vida.
Tipos de meditação
Há vários tipos de meditação. Esse seria um post só por si. Escolhi não entrar muito nesse tema. Indico no entanto este, este e este link que são muito bons para perceber os vários tipos de meditação e os objetivos da prática de cada um deles. Uns focam-se no aumento da concentração, outros estimulam a reflexão sobre um determinado assunto e há tipos de meditação guiados.
Pela sua simplicidade, fiquei interessado em mindfulness meditation, em particular a prática de breath meditation, ou Anapanasati. Anapana significa inspiração e expiração, e Sati significa atenção deliberada. Este tipo de meditação envolve a concentração total na respiração e é especialmente indicado para a diminuição de stress. Mindfulness é simplesmente viver o presente, estando consciente do que fazemos num dado momento. O método que apresentei acima, que é muito simples, está incluído neste tipo de meditação.
A importância da respiração e da postura
A respiração deverá ser feita pelo nariz, a um ritmo natural. Devemos concentrar a nossa mente no movimento ascendente e descendente de uma parte do corpo enquanto respiramos, como a barriga ou o peito. Mais simples e eficaz é a concentração no movimento das narinas. É normal a mente vaguear, e pensarmos em outras coisas enquanto estamos a meditar, mas não devemos lutar contra esses pensamentos. Devemos apenas consciencializar que estes estão presentes e não "conversar" com eles, trazendo a atenção novamente para a respiração. Por exemplo, se estivermos a pensar no que vamos comer ao almoço, pensemos "estou a pensar no que vou comer ao almoço", e de seguida trazemos a atenção novamente para a respiração.
A maneira como estamos sentados também é um dos pilares da meditação. Provavelmente já ouviste falar da posição de Lotus, em que colocas uma perna por cima da outra, tal como na imagem que vês abaixo. Não te preocupes, não tens de fazer esta posição para meditar corretamente. Há pessoas que a conseguem fazer naturalmente porque têm mais elasticidade, mas não é por isso que são melhores "meditadores". Eu tenho meditado na posição de half-lotus (metade de Lotus) porque fico confortável nessa posição. Com o tempo irei experimentar mais vezes a posição de Lotus. Mas é importante não forçar qualquer posição porque podemos estar a comprometer a estrutura da coluna e a lesionar os joelhos. Aconselho esta leitura sobre as posições que conferem melhor suporte e estabilidade da coluna para a meditação. Em qualquer uma delas, é importante manter a coluna direita, mas não em excesso, e estar relaxado. Para respirar bem, o peito deverá estar ligeiramente para fora para abrir os pulmões.
Podemos até estar sentados numa cadeira, tal como podes ver pela imagem abaixo. O importante é ter uma boa base de apoio e ter as costas direitas, para que cada vértebra encaixe verticalmente na que está abaixo, tornando o conjunto estável. Para isso é importante ter os joelhos como base de apoio. Por exemplo, agora que estou a começar com a posição half-lotus, o joelho da perna que coloco por cima não toca no chão. É importante contornar isso colocando uma almofada por baixo da perna para que fique com a base de apoio assegurada. Se não estivermos confortáveis, vamos pensar sobre isso e a meditação não será eficaz. Deitar na cama ou no chão não é uma boa solução porque há uma grande probabilidade de relaxarmos em demasia e adormecer.
Devemos evitar confusões durante a meditação e procurar um lugar tranquilo, onde não sejamos incomodados. De qualquer maneira, caso não haja outra opção, é possível meditar em sítios mais barulhentos.
Encontrei muita informação sobre este tópico online, porque é um problema recorrente. Aconselho a leitura deste artigo. A técnica mais usada para combater o barulho de fundo é começar a sessão de meditação pela concentração, sem julgamento, do barulho de fundo. Tirar uns minutos para ouvir conscientemente, sem racionalizar, esses barulhos até ficar confortável nesse ambiente. De seguida, começar a prática da meditação. Pode também ser eficaz ouvir white noise para barrar todos esses sons desconfortáveis.
Livros sobre meditação
Como disse num post anterior, é importante ter material para ir lendo enquanto desenvolvemos uma nova prática. Sugiro então 5 livros (e um site) sobre meditação e assuntos relacionados:
Aconselho também a leitura deste artigo. Nesse, Bradley Morris explica a dificuldade que passou enquanto iniciante na arte da meditação. Para ele era complicado concentrar-se, nem que fosse por 5 minutos. Achava também a prática muito aborrecida. No entanto decidiu manter esse hábito porque conhecia os seus benefícios, e hoje em dia escreve e ensina meditação. O desenvolvimento deste hábito ajudou-o a viver uma vida mais feliz, a ser um melhor empreendedor, a melhorar a sua saúde e a ser mais criativo.
Espero que este post te ajude a começar a meditar. Por último, partilho uma frase interessante do livro Wherever You Go, There You Are. Não a vou traduzir porque, na minha opinião, iria "matar" a magia desta frase.
Meditation is not about feeling a certain way, it's about feeling the way you feel. Meditation is about letting the mind be as it is and knowing something about how it is in this moment. It's not about getting somewhere else, but about allowing yourself to be where you already are.
Há um mês atrás decidi começar um novo desafio para O Macaco de Imitação. Como disse na 1ª parte deste artigo,já tinha experimentado outros projetos e estava na altura de começarqualquer coisa relacionada com a saúde física e mental.
O plano era simples – durante 30 dias fazer exercíciofísico, meditação e escrita, todos os dias. Mas porquê? Para quê tanto trabalho? Tal como quem soube ao Everest o faz porque a montanha está lá, também eu, num nível (muito) mais pequeno, queria fazer este desafio porque ele podia ser feito. E também porque o desafio estava definido, erasaudável, e nesses 30 dias ia aprender muitas coisas.
Tenho feito, n'O Macaco de Imitação, estes desafios para me testar e perceber o quegosto e não gosto de fazer. Aprendo maneiras de me organizar e de avançar nos meus objetivos. E aquilo que aprendo durante os desafios serve para outras áreas da vida.
Zen and the Art of Happiness, de Chris Prentiss. O melhor livro que li este mês e, possivelmente, este ano. Imagem retirada de goodreads.com.
Exercício Físico
Defini que devia fazer, pelo menos, 45 minutos de exercíciopor dia, e não tinha de ser sempre o mesmo desporto. Aliás, quanto maior a diversidade, melhor. Estreei o meu primeiro dia com uma surfada no meu "spot" favorito no Baleal. No total surfei 13 vezes e,no último dia deste desafio, surfei na mesma praia que no primeiro (e só percebi isso depois).Nunca surfei tantas vezes num mês. Às vezes não entro no mar porque não está "perfeito" e, durante este mês, fui mais paciente e dei maisoportunidades ao mar. Além de surfar mais vezes, surfei grandes ondas.
O Surf é o meu desporto de eleição, mas nãose pode surfar todos os dias porque nem sempre está bom (ou razoável sequer).Então, nos dias em que não surfei, virei-me para a corrida. Corri 9 vezesdurante estes 30 dias, num total de 65 km. No princípio não corria mais que 20minutos sem ter de parar, e fazia pouco mais de 5 km no total de corrida+caminhada. Para o fim, jácorria 10km sem parar uma única vez e o meu ritmo tinha aumentado bastantedesde o princípio. O truque foi tentar evoluir todos os dias - sejapor correr mais tempo, ou mais rápido, ou uma maior distância. Foi também monitorizar as corridas que fazia com a App RunKeeper, porque assim conseguiaanalisar bem a minha evolução e ficava motivado. Além disso, não me posso esquecerdas companhias de corrida que, muitas vezes, me motivaram a correr mais.
Surf e corridas à parte, experimentei uma aula deyoga (estava todo torto, mas foi uma aula interessante) e fiz dois treinos de musculação (um deles correu bem porque tinha companhia, no outro fiz sozinho e não sei bem o que andei afazer).
Meditação
A meditação seria, supostamente, a parte mais fácil destedesafio. Seria só estar sentado, 10 minutos, sem pensar em nada. Nuncapensei que isso viesse a ser tão difícil. Já tinha tentado ganhar o hábito dameditação várias vezes, e até já tinha escrito sobre isso n’O Macaco de Imitação, mas nunca o consegui fazer por muito tempo. Nestemês estava determinado em ganhar o hábito de uma vez por todas.
Nos primeiros 15 dias experimentei uma sériede meditações que não funcionaram. Experimentei meditar em várias alturas dodia, sentado, deitado e a ouvir música. Aprendi que meditar à noite não resulta - essa é receita certa para adormecer. Agora sei que a melhor altura para meditar é sempre depois de acordar e fazê-lo sentado no chão, sem distrações. Ao ser a primeira coisa do dia,estamos mais atentos e a meditação trará mais efeitos positivos. E é isso quevou fazer daqui em diante.
O mais difícil da meditação é controlar a corrente de pensamentos.É muito difícil, no início (e ainda agora), não pensar em nada. É precisotreino para nos sentarmos como deve de ser, de costas direitas, e colocar todaa concentração na respiração. A mente vagueia para os "problemas" do dia-a-dia,ou para o passado, ou para o futuro, ou para aquilo que vamos fazer já deseguida. Nessas alturas - aprendi ao ler uma série de blogs e livros - omelhor que pudemos fazer é consciencializar que esses pensamentos estão presentes, não "conversar" com eles, e trazer de novo a concentração para a respiração.
A meditação está em todas as listas de coisas que se devemfazer para ser feliz. Isto porque a meditação ajuda-nos a relaxar e a focar aatenção naquilo que fazemos no dia-a-dia. Ainda não sou "bom" a fazer isto, e tenho um longo caminho a percorrer. Mas fico mais descansado ao saberque grandes "mestres" nesta arte demoraram também algum tempo para conseguirvazar a mente de pensamentos e sentir os efeitos positivos da meditação. Depois de30 dias já tenho o hábito bem definido e agora só preciso de continuar.
Escrita livre
A primeira vez que ouvi falar em escrita livre foi neste site.Esta ideia surgiu do livro The Artist's Way, onde o autor sugere a escrita de 3 páginasdiárias pela manhã. Este processo, tal como a meditação, ajuda a vazar a mentede pensamentos desgastantes, porque acabamos por escrevê-los nestaspáginas. É também importante que a escrita seja feita sem pensar demasiado, sem correções e sem julgamento. Nãohá coisas que devem ou não ser escritas. Já tinha experimentado a escrita livre nestesite e decidi inclui-lo neste desafio "corpo e mente". Tal como é feito nosite, decidi escrever 750 palavras diárias e, nestes 30 dias, escrevi um totalde 26840 palavras (+- 40 páginas!).
Gostei muito destaparte do desafio. Aprendi a gostar mais de escrever e, se no início era difícilescrever as 750 palavras, houve momentos em que escrevi 1000 palavras antes de pararpara pensar no que estava a ser escrito. Apesar disso, penso que a meditaçãotem mais efeitos positivos a médio-longo prazo e por isso não vou continuar afazer, todos os dias, a escrita livre. No entanto, vou começar a escrever mais,disso não hajam dúvidas.
As dificuldades
Mas nem tudo foi fácil. Falhei alguns momentos porque estavadoente ou porque estava em festa ou porque estava a morrer de sono. Como aquiescrevi, falhei no dia 12 (em todas as frente) porque estava nafesta das latas em Coimbra. No total, falhei 4 dias de exercício físico, e 2 demeditação e escrita livre. Em 30 dias, foram poucos "maus" momentos.Noutra altura podia ter desistido porque já não ia fazer um mês "perfeito". Masisso seria uma estupidez, isso seria uma derrota e portanto não desisti. Nesses diasaprendi porque tinha falhado e com isso evitei falhar mais vezes.Alterei as alturas do dia em que meditava e escrevia para garantir que não as falhava porque estava com sono. Para o final, escrever e meditar eram as primeiras coisas que fazia cada dia.
Houve outros momentos que cumprir o exercício físico foimuito difícil. Há sempre o dia em que está a chover, ou que estamos doridos, ounão temos companhia ou, simplesmente, não nos apetece. Esses são os diasque nos põem à prova. Em qualquer objetivo na vida, em qualquer desafio,existem esses dias. Nessas alturas temos de arranjar força para cumprir oprometido, porque de outra forma vamos falhar, mais uma vez, nesse projeto.Aprendi que se passarmos essa barreira, fica tudo mais fácil daí em diante,e por isso vale a pena o esforço adicional.
Os livros queacompanharam o desafio
Nenhum bom desafio estaria completo sem uns bons livros. Comecei então por ler TheMiracle of Mindfulness, de Thích Nhất Hạnh. Nele aprendi a importância de Mindfulness - viver no presente. É sobre estar concentradonaquilo que estamos a fazer no momento. Como exemplo, o autor escreve que quando estamos a lavar a loiça,devemos estar só a lavar a loiça, e não a pensar nas coisas que temos para fazerem seguida. Se temos por hábito estar perdidos em pensamentos sobre o passadoou o futuro, perdemos a vida verdadeira, que se encontra no presente, naquiloque estamos a fazer no momento.
De seguida li o livro The Four Hour Body de Tim Ferriss. Éum livro interessante, mas deve ser lido com um objetivo claro em mente, sejaperder peso, ganhar força ou outro. Mas com uma passagem rápidopelo livro consegui perceber o seu potencial.
Por último, li o Zen and the Art of Happiness, de Chris Prentiss. Este foi um dos melhores livros que li este ano. Chris Prentissensina-nos que não há eventos bons ou maus, mas que eles assim se tornam pelamaneira como nós os interpretamos. Ele diz-nos para pensar que, qualquer coisaque nos aconteça, é a melhor coisa que nos podia ter acontecido. Estepensamento, tão simples, tem o poder de tornar a vida muito mais feliz.Aconselho vivamente a leitura deste livro.
O próximo desafio
Ainda não sei o que vou escrever a seguir para O Macaco deImitação. Estou agora a ler um livro sobre o que podemos aprender com os grandes filósofos da antiguidade e quero, num próximo artigo, resumir uns 4 ou 5livros sobre boas filosofias de vida. Vou também escrever sobre um método que tenho usado para aumentar a minha produtividade nas últimassemanas. E também quero começar um novo desafio e aprender qualquer coisa nova, seja investir 20 horas em qualquer coisa, ouuma semana, ou 30 dias.
Estou orgulhoso daquilo que consegui fazer nestedesafio. Dos 90 momentos de exercício, meditação e escrita, apenas falhei 8.Aprendi a organizar-me melhor, a lutar contra a falta de vontade, e aprendi boas filosofias de vida com os livros que li. Fiquei em melhor forma, tentei relaxar com a meditação e gostei muito de escrever as 44 páginas. Foi um mês saudável, tanto para ocorpo, como para a mente. Sinto que agora estou mais preparado para começar novos desafios.
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